Garota da rua do amor

GAROTA DA RUA DO AMOR

–Mais uma dose de uísque o derruba. – Ele a segura pelo queixo, enquanto um beijo frívolo completa a cena, ao mesmo tempo os olhos brilham arrebatada a imagem agradável da sua amante puxando um cigarro do março. Entretanto, toda venustidade era amargurada.

Um simples isqueiro é o que precisava para que a amargura chegasse ao limite do cinzeiro, juntando os copos jogados na mesa de um bar vagabundo numa rua de cabaré. – Ele em sua plena loucura a procura fora de sua casa, pois em casa já não existe mais sedução.

–Ela arruma os cabelos que logo mais serão entrelaçados por suas mãos másculas, mãos que lhes seguraram fortemente, percorrendo cada espaço do seu íntimo, fazendo ligação entre o corpo e a alma. Cética de tudo o que os compromete, Ela o envolve com suas pernas, acomodando-o em seu corpo pequeno e delicado.

– Olá, senti sua ausência! – Disse ele com um gigantesco sorriso.

– Ela o encarou fortemente, enquanto tragava um cigarro e falou: Que seja por hoje prefiro driblar suas mentiras.

Com um olhar brutal, segurou a vontade inconsciente de revidar o ocorrido, em fração de segundos beijava sua boca loucamente. A harmonia dos seus corpos formava incríveis movimentos com uma sonoridade leve de sussurros e gemidos.

– Ela resistiu ao máximo, não contendo o desejo vadio e descontrolado de se entregar aquele estranho que conhecia cada detalhe de si, contudo rapidamente retira o corpo estremecido disfarçando o pudor que nunca existira naquela mulher.

Como se nada tivesse acontecido, se recolheu subindo as escadas para o seu quarto. Não entendera qual o porquê daquela reação inusitada, sentia-se frágil, com medo e fraca diante do sentimento inabitual que surgira. Sem controlar toda sensibilidade, procura um cigarro no funda da gaveta. Ela agora só deseja queima-lo!

– Ele a procura subindo as escadas para o seu quarto, subitamente Ela bate a porta. Bruscamente ele vira-se e retorna em direção à saída e toma uma cerveja na esquina do cabaré. Vagando lentamente em direção ao centro da sua imaginação, Ele pensa nela e em tudo o que agrega o seu corpo, lembra-se dos seus pêlos, seios, do olhar provocante e dos lábios carnudos que dispensavam o batom. Por outro lado, Ela lembra-se de como Ele conseguiu envolve-la no mais traiçoeiro dos sentimentos inexistentes em mulher experiente. Após uma dose de conhaque, Ela apronta o seu banho, pois a noite se aproxima, mesmo confusa precisa encarar a noite para viver. Sai dos seus aposentos usando um dos noventa vestidos que têm no armário, cinta-liga e saltos tornando sua postura mais elegante, com um aroma avassalador que ainda não existira homem que resistisse o seu perfume de mulher.

–Ela caminha formosamente pelo vestíbulo, indo em direção a sua mesa e pedi um Veuve Clicquot. . De repente aproxima-se um cliente fixo que se oferece para pagar sua bebida, nesse instante os seus olhos o avista, percebendo então que Ele a procura, sem ao menos pensar ela recusa o seu cliente e vai de encontro ao homem que a seduzira, assim lucrando apenas uma noite de amor.

–Ele retorna a sua casa com um olhar distante, ainda coberto com o véu de mulher que dominara os seus sentidos. Ainda com um pálido e frigido olhar tenta entender o poder do beijo que roubara o fôlego. Ao entrar pela porta do quarto, automaticamente deita-se ao lado da sua senhora que o espera no frio da noite, em seguida com um beijo pétreo tenta acalentá-la. Não há como enganar um sentimento nem tão pouco nega-lo.

–Ela agora deita e a lembrança enevoa o seu pensamento, seu desejo ecoa, sonha com as mãos que lhe guardam o coração. Com furor, entrega-se a noite chamejante implorando que a deixe dormir. Ele invade o seu pensamento, o silêncio prevalece, Ela fecha os olhos e sente sua respiração entre os seios. De repente seu corpo é dominado pela sede dos beijos daquele a quem aprisionara a sua alma, entretanto a solidão se faz companheira naquele quarto de cabaré no fim da rua do amor.

A madrugada perdura e seu sonho o envolve em um manto de delicias ascendendo um fogo sem fim, a intensidade do desejo supera o pudor, razão jogando ao vento uma vida conjugal por poucos dias e poucas horas que passaram-se tão rápido.

–Ele por sua vez a procura, observando-a discretamente. A elegância dos saltos à firmeza do andar, suas roupas, costas detalhes impossíveis de se deixar passar. A fixação costura o tempo na mira do olhar um tanto solitário, enfim a taça está erguida e mais um jogo de sedução está para começar.

Debora Pereira
Enviado por Debora Pereira em 03/11/2012
Reeditado em 26/12/2013
Código do texto: T3967473
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