INOCENTE!

INOCENTE!

Joana, 40 anos, dona de casa, casada há 20 com Adolfo, 45 anos, mestre de obras. O casal não tem filhos e sempre que alguém os questiona, desconversam. Aparentemente tem uma vida normal. Ela sossegada, não sai de casa, não tem amigas, os vizinhos a vem como uma pessoa retraída, de poucas palavras, a não ser os bons dias, tardes e raros boas noites. Adolfo, sai para trabalhar bem cedo, voltando quando a noite já chegou. Moram num bairro da periferia, em uma casa simples, mas muito bem cuidada. Tudo parece uma vida rotineira e pacata, sem maiores encantos ou desencantos.

O que ninguém sabe é que Joana, noite após noite sofre sevícias impublicáveis e sustenta calada todas essas humilhações. Quando a luz do sol vai sumindo, ela já entra em transe e reza para que nada ocorra naquela noite. Lamentavelmente, suas preces não são ouvidas e lá vai ela para seu cadafalso. Pensa em fugir, denunciar, mas Adolfo sempre a ameaça e diz, que se ela ousar denunciá-lo, voltará ainda mais amalucado e violento. Assim, ela submete-se sem protestar.

Certo dia após as barbaridades, ela espera Adolfo dormir, levanta-se sorrateira, apanha uma faca afiada e golpeia sua aorta. Adolfo morre esvaindo-se em sangue.

Joana dirige-se a um orelhão, disca 190 e diz textualmente:

Boa noite, acabo de matar meu marido, estou ligando para que seja enviada uma viatura. Moro na Rua dos Prazeres s/n, no Bairro de Vila do Amor.

A atendente parece não entender a mensagem e pede que ela repita. Ela bisa, sem pestanejar e desliga o telefone.

Volta para casa e aguarda. Em alguns instantes ouve sirenes tocando ao longe, dirige-se a porta da casa para esperar os policiais.

Ao chegar eles a cumprimentam, e ela relata o fato fazendo-os entrar. Veem o falecido e imediatamente a prendem. Chegando a Delegacia, conta ao delegado que cometeu o crime e expõe a razões pela qual o fez. O delegado lavra o flagrante e a prende de imediato.

Passa o tempo, e é marcado o julgamento. O defensor público nomeado diz que fará todo o possível para aplacar a pena, mas seu caso provavelmente será julgado com rigor, sua pena será alta. Ela nada diz, está conformada e confortada. Após ouvir as partes o juiz profere sua sentença.

INOCENTE, agiu em legítima defesa.

Ninguém acredita, lá vai Joana finalmente viver em liberdade.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 24/10/2012
Reeditado em 24/10/2012
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