SOBREVIDA DE JOÃO
SOBREVIDA DE JOÃO
Era início dos anos 80. Com 20 anos, João era um rapaz feliz, cheio de saúde e adorava andar de moto. Namorava Anamaria, moreninha de olhos verdes, uma gatinha de 18 anos, curvilínea e constante paquera de todos os garotões que gravitavam pelo bairro. E assim corria a vida meio irresponsável de João, até que um dia, numa das curvas da vida, bateu sua moto de frente com um fusca que vinha em sentido contrário. Voou por cima do fusca e foi se estatelar no meio da rua, quase morto. Transportado para o PS, foi transferido em coma para um hospital de grande porte, com poucas possibilidades de sobrevivência.
Começa o ano de 2012, do nada João sai do coma e
pergunta, onde está e o que aconteceu. Devagar, a equipe médica, entre os quais psicólogos, começam a relatar seu infortúnio, tentando aplacar as dores existenciais que o caso carrega. A tudo João ouve e não acredita em sua desdita. Suporta com coragem as informações que aos poucos vão fluindo e admira-se com o desenvolvimento ocorrido durante seu período fora da vida. Fica abismado, quando consegue falar pelo celular, quando acessam a internet, quando fala com um amigo via Skype. Naqueles instantes, vê o quanto perdeu enquanto dormia. Passadas três semanas, João pergunta por Anamaria, quer vê-la, matar a saudade, admirar aquela beleza que vivia constantemente em seu pensamento, nos bons tempos. Tudo preparado, chega o grande dia, João fecha os olhos e ao abri-los, a seu lado está uma senhora enrugada, de cabelos prateados, óculos fundo de garrafa, peitos caídos, que lhe diz:
- Até que enfim meu amor, fiquei te esperando por todo esse tempo!
João fecha os olhos e não resiste, morre naquele instante.