A casa contadora de histórias
Em uma rua estreita, calçada de pedras irregulares, de uma pequena cidade, fica situada a casa contadora de histórias do passado.Fachada larga, cortada de janelões de pintura descascada ,que foram um dia, azul-rei. A porta ,imponente, herança de um tempo faustoso, é como um marco divisor temporal.Casa senhorial de eira e beira.Na soleira, o degrau rachado, guarda ainda as marcas das písadas das pessoas que por ali passaram.Delicadas sapatilhas enccomendadas de Paris.Botas lustrosas de fino couro da russia.Pegadas das escravas acompanhantes das sinhás.Tudo já findo, perdido no tempo.
O grande salão , ocupando toda a parte da frente, com o seu teto decorado com desbotadas guirlandas de flores, parece estremecer ainda pelo galope das polcas ou os giros das valsas, ao som de um piano que já não existe mais .Há muito se apagaram o brilho das velas refletidas nos pingentes de cristal que cintilavam em noites de festas.Nos dias de hoje, o vento forte, anunciando tempestade, entra , sem cerimônia pelas frestas do reboco e lá vai, casa adentro, assobiando de um jeito triste como o lamento do abandono.Pelo corredor comprido, as muitas portas , dos quartos e alcovas escuras , com suas bandeiras de vidro s coloridos, não deixam, pela poeira do tempo, filtrar a luz.
No fim do casarão, quase chegando ao terreiro coberto de mato , está a cozinha.Tão grande!No meio dela, o fogão de lenha com os seus tijolos soltando e a trempe ruida de ferrugem, ainda domina o cômodo, apesar da sua perdida importância.Ele simboliza a fartura, as galinhas de dabidela, os leitões pururuca, os tachos perfumados de doces em caldas, fervendo em um fogo morto.O cantar e a s conversas das negras atarefadas ecoam, transpondo o tempo pelo teto tomado de tucumã, pendentes como véus de negras rendas ersgarçadas.A grande pia, em um canto, escurecida e manchada, ainda conserva no fundo, o contorno de frutas descoradas.Louça inglesa, requinte de um tempo perdido.
Quantas lembranças sobrevivem em uma casa velha?Coisas boas e coisas más,Quando a noite chega e os morcegos cruzam os cômodos com os seus pios tétricos , em um jogo de luzes e sons, tênues vultos ,que podem ser reflexos dos que ali viveram, retornam para matar suas saudadesou cumprirem suas sinas.Casa velha, sentinela de um bau de segredos que guradam muitos misterios.Cada estalido do madeirame infestado de cupins, cada pingo de chuva batendo nas telhas coloniais cobertas de limo, nos fala da vida e da morte. De esperanças, de desencontros, de sonhos e de momentos felizes , fundindo o passado ao presente, na espera incerta do amanha.Jamais existirá um tempo perdido no circulo da vida, pois, as velhas casas, como a da rua estreita, nos pode revelar histórias dos idos dias e dos corações que por ali palpitaram.