A caminho da luz
A caminho da luz
Ela estava com câncer terminal. Há muitos anos começara os primeiros sintomas e depois a devastação de todo o corpo. Maria, morena, gorda, quarentona. Quando a conheci, já tinha perdido uma das mamas, o braço inchava. Naquela época a medicina não estava tão avançada, e a quimioterapia era muito pesada.
Maria de mãe, irmã, amiga, filha, amante, tornara-se apenas mais uma paciente.
E que paciente. Ela tinha realmente uma paciência inesgotável. Até que um dia, no fim de suas forças físicas, perguntou a duas amigas que a assistiam: - Por que será que ainda estou aqui. Tenho tão poucas forças, nem posso me sustentar. Será que Deus não se lembra de mim. As amigas sofriam em silêncio, tentando confortá-la como podiam.
E o tempo passava, meses, anos Maria definhava, mas não partia. Um dia teve um lindo sonho. Alguém que ela não conhecia estava conversando com ela. Trazia em sua companhia outros seres amigos de luz e paz. Maria resolveu se abrir e contou o que ia em sua alma. Sabe? Estou doente há tantos anos. Sofro muito. Queria encontrar um fim para o meu sofrimento. Tenho medo de morrer. O que será que irá acontecer comigo. Não tenho nenhum preparo. Minha mãe quando eu era criança ensinou-me a rezar assim:
Santo anjo, do senhor, meu zeloso guardador,
Se a ti confiou, a piedade divina, me
Rege, me guarda, me ilumina, amén.
Já repeti tantas vezes esta oração, mas o anjo não vem.
Os amigos sorriram uns para os outros e ajudaram Maria a levantar-se, ela reuniu o resto de suas forças e então falou: - Tenho a sensação de que estou subindo, mas tenho medo. O que faço? A voz de um dos anjos lhe disse tranqüilizadora. Feche os olhos, imagine-se saindo de seu corpo, abrindo uma porta, onde encontrará um pequeno corredor. Caminhe rápido, caminhe rápido, à medida que der os primeiros passos, você verá uma luz. – Estou vendo, estou vendo, estou vendo, e agora??? A voz do anjo continuou: Caminhe, não olhe para trás, vá seguindo a luz, como numa escada ela sobe e se alarga. Não olhe para trás.
- Estou livre finalmente, vejo ao longe mamãe me estendendo os braços. Que linda luz!
As amigas que estavam sempre ao lado de Maria souberam que ela enfim encontrara o caminho da luz. Foi encontrada “adormecida” em seu leito de morte, com o esboço de um sorriso no rosto tão magro e pálido. Após a missa de sétimo dia, as amigas ainda sentiam muito a falta da paciente Maria, mas foi por pouco tempo, pois logo receberam.
aviso de que novas doentes viriam fazer-lhe companhia naquele rincão entre os mundos.