O monge

Já passavam das dezoito horas, em passos rápidos caminhava por baixo de avenidas movimentadas de uma metrópole. Por galerias bem planejadas me dirigia para a estação Tiradentes do metro.Apressado olhando no relógio de pulso aguardava a próxima estação onde iria embarcar no próximo ônibus a caminho de casa ... Isso por alguns anos era minha vida diária.

No terminal nada era novidade, sempre as mesmas pessoas, os mesmos passageiros no mesmo horário.Mas nesse dia algo novo aconteceu. Ao entrar no ônibus e me acomodar no lado da janela, fui ao impulso repentino de retirar da mochila um velho e companheiro livro para ler. Aos leves movimentos me pus a tatuar as partes internas da minha bagagem, quando senti alguém tocar em meu ombro dizendo:

-Com licença senhor! Posso me sentar aqui?

Respondi: -Sim! Fique a vontade... Pelo canto dos olhos pude ver que aquela pessoa não era conhecido por aqueles horários, em nossa rotina. Isso também acontecia, e era pouco entre os que observavam estes detalhes. Nesse dia esse senhor sentou-se ao meu lado. Olhando sempre em frente, sem nunca se virar pra mim, esse estranho homem disse coisas que eu jamais esqueceria. Curioso, me virei cobrindo um ângulo de trinta graus ao máximo,e pude ver que era um homem de quarenta anos aproximado, estava muito bem vestido, trazia um blazer sobre uma camisa branca e havia um broche do lado esquerdo do paletó. Ao notar um livro em minhas mãos disse-me: -Isso mesmo! Ler, ler, ler.... E essa historia é magnífica, fantástica. De imediato não entendi porque disse aquilo. Segurando com as duas mãos o livro sobre minha bagagem, eu não soube dizer nada. Após um silêncio repentino perguntei a ele:

- Também gosta de ler?

-Sim. Respondeu-me

Sempre tenho um livro companheiro... Sempre. Ao dizer isso aquele homem se identificou dizendo ser um monge, e que estava a caminho de um santuário no meio da serra que divisa com uma linda metrópole que se chama São Paulo.

Senti-me feliz por haver uma oportunidade de estar sentado ao lado de um monge, e claro haveria uma longa jornada pela frente até que chegássemos ao ponto final. Fiquei imaginando que ele também iria desembarcar no final do trajeto, e claramente que iria ter muitas chances de perguntar o que quer que fosse sobre uma vida no mosteiro.

Lembro-me que falamos sobre vários assuntos, coisas sobre casamento, religião, historia das civilizações, cristianismo, filosofia, metafísica, ciências oculta, paganismo, arqueologia.

Sempre me respondia com respostas curtas e objetivas, dando assim uma continuidade em nossa conversa, isso me fez admirado pela maneira que dirigiu nosso bate papo.

Havia mais de vinte e poucos anos que dedicava sua vida no monastério, disse-me:

Quando descobri que dentro de mim havia um só ser e que esse ser habitava em todos os cantos sem nunca se apegar em nada, percebi que estava no caminho do iniciado.

Primeiro surge um homem livre que não conhece os obstáculos desse nosso viver, pode me entender?Sim claro! Respondi a ele.

Esse ser que habitando dentro de você é livre é também capaz de encontrar os caminhos de nosso mestre Jesus Cristo.

Todos são capazes.

Quando disse isso consegui ver teus olhos, porque ao virar-se para mim olhando bem friamente dentro dos meus, repetiu:

Todos são capazes de conhecê-lo.

Para nos monges o caminho é mais árduo, porque na esfera e no bater do coração estamos mergulhados no universo de nosso mestre.

Isso faz com que nós os monges temos que distanciar do universo criado pelos homens comuns.

Particularmente, o mundo criado pelas ovelhas de seu rebanho, e nós os iniciados, estamos aqui para leva-los até o portal onde também todos encontrarão suas respostas.

Essa questão vivia a me espreitar, mesmo porque entender o universo de um eremita é mesmo muito revelador, desde que possa estar em reclusão ou em comunhão com um universo que não seja o criado por homens que visam somente o lucro, seja na fé ou nos meios cotidiano de nossa existência.

Aquilo tudo era mesmo fascinante. Um filme estava passando pela minha cabeça onde o personagem agora era um mestre iniciado nos mistérios de um mosteiro.

Quando nos aproximamos do ponto final, já umas léguas da grande São Paulo, esse senhor retirou um celular dentro de um bolso oculto na parte frontal do seu paletó, e disse frases rápidas e parecia dizer outra língua. Notei que se levantou apressado e disse-me:

-Tenho que descer aqui. Desculpe mas esperam-me nessa próxima parada.

Aquilo foi tudo muito rápido, porque ao notar ele estava a caminho da porta e o ônibus parou sem que ainda houvéssemos chegado ao ponto final. Isso mesmo amigo siga sempre assim.

Foi a ultima coisa que disse-me antes de saltar do ônibus.

Para entender melhor porque o motorista havia parado a umas duas quadras antes do ponto final, me levantei olhando para onde se dirigia aquele monge, e percebi então que havia um veiculo parado quase na frente do ônibus com os faróis acesos, um homem também vestindo paletó e sapatos também pretos acabava por recebê-lo com um aperto nas mãos, e nesse momento o ônibus em movimento cruzava por eles passando rápido, deixando visível que acabava de embarcar em um veiculo preto, sendo um carro de muito luxo com um homem aparentando pertencer também a mesma ordem.

Alguns dos passageiros pareciam ter percebido que houve uma novidade em nossa jornada, e que tudo mesmo parecia um acontecimento inédito.

O motorista parecia muito bem preparado para dirigir, porque em uma manobra rápido cruzou a avenida em nossa frente a caminho de uma das saídas da cidade indo diretamente para rodovia.

Aquele senhor falou uma linguagem de arauto, levando com ele lindas mensagens que pude ouvi-lo dizer,e não poderia deixar de mencionar que antes de deixar sua mensagem de Adeus, disse-me que o homem nasce para ser livre, e que todos encontrarão pelo mestre dos mestres.

jrobertomxnomvm
Enviado por jrobertomxnomvm em 30/06/2012
Reeditado em 25/08/2012
Código do texto: T3753369
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