Gelo e Rocha - 2
[Uma pequena batalha]
Grekórius alinhara os lobos batedores na linha de frente. Logo atrás deixara duas companhias de hienas protegendo seus dois flancos, à direita e à esquerda. Cada companhia era comandada por um capitão de cem.
No meio do exército o que se via era uma mistura de Coiotes, Cans Vermelhos, Negros do Sul e Alguns Falhados.
Grekórius havia alcançado o posto de Alfa de Sua Malcatilha. Todos os respeitavam. Não fosse pelos seus dois metros de altura, ombros largos e olhar petrificante, quando homem ou suas afiadíssimas garras e presas junto com seu temperamento explosivo quando Lobo.
Sendo o que fosse seus subordinados os obedeciam desesperadamente.
Guruxo, o Podre, Capitão Hien Negro. Comandava a companhia do flanco da direita. Cadispapo, Capitão Hien Negro que comandava a segunda companhia de Hienas Negras e guardava o flanco esquerdo. Mais os Generais Coiotes Markos Kentaro e Nefesto, o Raivoso e os príncipes Vermelhos Canne e Crames que comandavam uma companhia de arqueiros e lanceteiros protegendo a retaguarda.
Grekórius havia reunido os principais naquela noite. Todo o exército estava acampado na fronteira leste do rocha e fogueiras haviam sido acesas.
Boa parte dos Cans haviam ido dormir, outra parte faziam sentinela revezando em seus postos e alguns haviam sido mandados de espias pelo General Alfa. E uma pequena Malcatilha havia saído para caçar.
As hienas montaram seu próprio acampamento e suas risadas fantasmagóricas podiam ser ouvidas a quilômetros.
- Os sinais mostram que levantaram acampamento na floresta General – um dos espias passava o relatório para os principais – Farejamos uma linha a vinte quilômetros daqui. São silenciosos, porém captamos uivos em pontos distintos ao longo da floresta. Não parecem muitos.
- Bom trabalho Kurk – respondeu Grekórius após dispensar o espião. – Agora eu quero a atenção de todos os capitães e príncipes. Vamos atacar! Eles estão encurralados na floresta.
Na quarta hora da noite os exércitos dos Cans avançaram. Caminhavam numa marcha lenta sentido oeste. Estavam a quatro quilômetros do Passo da Caveira quando o dia amanheceu.
- Uma tempestade se aproxima. – deram o alarma.
- Não parem – ordenou o general Alfa – eles estão emboscados. – Dizendo assim ordenou que atacassem a todo vapor.
A companhia de Cans e Hienas chocaram com o grande Senhor das Neves no Passo da Caveira. Quando os Cans viram aquela nuvem branca de neve e vapores vindos em sua direção pensaram que se tratava de uma tempestade. Quando se deram conta que era o grande dragão branco já era em vão. Não puderam bater em retirada.
Na primeira investida setenta Cans foram petrificados e cem deles congelados. Aldus e o seu bando vinham logo atrás fazendo em milhares de pedacinhos aquelas odiosas estátuas de gelo. Garras e presas transformavam os Cans congelados em minúsculos cristais.
- Atacar! Atacar! – gritavam freneticamente os dois lados da peleja.
Metade dos Cans que não foram congelados recuaram, deu meia volta e tentaram fugir.
Cristaco abandonou a batalha tão rápido quanto entrou nela. Sua intenção era apenas proteger os seus limites e não morria de amores pelos Lobs quanto pelos Cans.
- Essas brigas enfadonhas não fazem sentido para mim – disse e bateu asas para o seu ninho congelante.
Os principais não haviam sido atingidos nenhum nem havia baixas entre eles. Eram os que mais instigavam os subordinados para a luta, porém estes vinham de encontra e os atropelavam indiferentes.
Depois da partida do grande dragão branco puderam percebem que os Lobs não passavam de duas dezenas e que não havia exército de Lobs algum.
Os exércitos dos Cans pararam então e ficaram meio perdidos sem saber que rumo ou atitude tomarem.
Foi quando os principais ordenaram que atacassem novamente e dessa vez pra valer.
- O grande herói deles se fora – gritavam – atacar!
Nessa hora uivos inundaram o Rocha. De todos os lados, norte, sul, leste e oeste, começaram aparecerem Lobs Guerreiros. Cercavam o exército dos Cans. Por todos os lados. Nessa hora Cans e companhia desejaram poder voar.
A luta foi violenta e estraçalhadora. Porém a batalha foi rápida, havia três Lob para cada Can.
Ganidos, latidos e gemidos. Mordidas, arranhões, flechadas e facadas. Quem teve concentração para tomar forma anima atacava com dentes e garras. Quem estava na forma humana atacava como podia. Facada, paulada e pontapés. Orelhas arrancadas, tufos de pêlo espalhavam e esvoaçavam para todos os lados: vermelhos, cinzentos e negros. Crânios e costelas eram partidas. Sangue e carne eram cortados e espalhados.
Enquanto umas hienas matavam alguns aqui e ali e outras eram mortas aos punhados, muitas delas se ocupavam de comer os recém cadáveres que encontravam. Não importando se eram amigos ou inimigos.
Entre gemidos e rangeres de dentes elas ecoavam suas agonizantes risadas.
Beirava o meio dia quando não havia mais nenhum Can vivo para contar como fora aquela batalha. E os lobos se reuniram no passo da caveira e entoavam seu canto para o céu azul. Era um uivo de vitória e lamento pelas baixas sofridas.
Quatro horas depois um monturo de carcaças de Cans, Coiotes e Hienas ardiam no meio do Passo. Uma companhia de Lobs velava os amigos mortos e o resto do exército comiam gazelas recém caçadas.
Aldus Lupus perdera Kili e Pul, seus amigos. Estavam reunidos com o Alfa Demétrios, o Marco, e prestavam homenagens aos heróis perdidos.
Só depois que a batalha havia cessado é que os lobos perceberam que muitos Cans jaziam ali entre eles em pé e em guarda. Em posição de Guerra. Cinza e petrificados. Cristaco os haviam transformados em estátuas de rocha.