O Príncipe e a Lagarta Malvada
Eu sou apenas uma raposa, sabe? Uma pequena raposa, entre muitas outras, perdida no deserto
Mas eu sou única, porque foi pra mim que o Pequeno Príncipe se apresentou. Foi a mim que ele cativou.
E hoje estou aqui pra descrever toda a maravilhosa história desse Principezinho que era apenas um pequeno garoto que tinha seu próprio mundo. Em seu mundo viviam uma Flor, que defendeu o Príncipe desde sempre com seus três ou quatro espinhos, uma Borboleta atrapalhada, uma Lagarta safada e um vulcão inativo.
Sua vida sempre tinha sido muito serena. Revolvia seu vulcão, cuidando pra que ficasse sempre inativo, conversava com a sua Flor, às vezes cuidando e às vezes sendo cuidado por ela. De vez em quando o papo era compartilhado com a pequena e atrapalhada Borboleta que por sinal amava muito a Flor, mas também gostava da Lagarta, o que era um problema para todos.
A Lagarta nunca chegava perto da Flor pois o Pequeno Príncipe não deixava.
O problema é que a Lagarta era esperta e seduzia a Borboleta e a Flor. E dessa forma sempre conseguia o que queria da pobre Flor sem que nenhuma das duas percebesse.
A Lagarta era o problema da vida do Príncipe. Preocupava- muito mais do que o vulcão. Então um dia, vindo de um lugar meio distante, veio um gato muito esperto. O gato sabia de toda a problemática e conseguia defender a Flor tão bem quanto o Pequeno Príncipe.
E foi assim que o principezinho resolveu viajar. Instruiu bem o gato, conversou com a Borboleta, revolveu o vulcão, e só olhou pra Lagarta. Com a Flor conversou de perto e lhe disse:
- Flor meu bem, te deixo aqui sob os cuidados do gato e vou viajar atrás de algo que te deixe mais forte e que faça com que a Lagarta não mais te machuque e nem te tire o que é seu. Prometo que volto logo.
A Flor no início reclamou um pouco e disse que sentiria saudades, mas que entendia o Principezinho e que ele poderia ir tranqüilo pois ela, apesar de estar um pouco fraca, ainda tinha seus 3 ou 4 espinhos.
E então ele viajou. Saiu do conforto de seu pequeno planeta e foi visitando outros planetas. Alguns eram pequenos e vazios, outros eram habitados por pessoas egoístas e que nem sequer gastavam um minuto para ouvir o Pequeno Príncipe.
Eu não sei quantos planetas ele visitou, pois esse Príncipe normalmente não responde perguntas, mas nunca deixa de exigir uma resposta. O que sei é que um belo dia, quando eu estava brincando de observar os cangambás correndo ao longe, eu vi que eles corriam de medo... Medo de UMA PESSOA!
É muito raro ver uma pessoa onde eu moro. Eles não sabem sobreviver aqui, só sabem destruir tudo. Mas o Príncipe, depois de muito correr, parou e olhou para mim. Mudou imediatamente de direção e veio sentar-se ao meu lado.
Era um Principezinho lindo, com seu sorriso maroto, suas bochechas rosadas de correr, seu olhar de um tom de verde que eu nem sabia que podia existir. Tinha gestos leves e palavras calmas e alegres.
Ele era muito quieto e observador. Queria saber mais sobre as raposas e os cangambás. Mas eu não sou fácil assim, não converso com estranhos.
Então lhe expliquei que para que eu pudesse responder as perguntas dele, era necessário que ele me cativasse (eu nem precisava explicar, ele já havia me cativado só com o olhar). Mas expliquei mesmo assim, mais pra me proteger pro caso desse Príncipe resolver ir embora e magoar meus sentimentos...
Ele era muito esperto e logo logo entendeu e fez tudo certinho... Pior pra mim porque dessa forma ganhou meu coração.
Depois de saciar toda sua curiosidade sobre raposas e cangambás, pediu-me se eu sabia como fazer pra proteger uma Flor e uma Borboleta de uma Lagarta safada.
Infelizmente eu não entendo nada de flores e borboletas. Mas mesmo assim tentei ajudá-lo.
Saímos então em busca de algo que salvasse seu pequeno planeta dessa Lagarta malvada.
Na nossa caminhada, descobrimos várias coisas. Quase toda inúteis contra as lagartas e quase todas se tornaram apenas doces lembranças. E eu ia guardando na memória todas elas... um pedaço de cacau, amoreiras, a lembrança do arco-íris, a doçura da chuva, e muitas conversas e teorias sobre como salvar a Florzinha.
E depois de muito procurar descobrimos um sábio que disse...
- Meus amigos.. é simples! O predador natural da lagarta é o pássaro.
O Príncipe ficou muito animado e pediu logo que o sábio desenhasse um pássaro. O sábio desenhou, mas esqueceu-se de fazer a gaiola.
Meu amigo Príncipe pro seu planeta voltou, mas eu tenho sorte sabem?
Porque como fui cativada, hoje em dia eu moro em dois mundos. As vezes fico no planeta dele, e as vezes no meu.. o problema é que o pássaro quando chegou no planeta do meu amigo, viu o gato, se assustou e saiu voando!
Mas eu não consigo nem pegar um lápis, não sei desenhar nada, e o Príncipe também não sabe desenhar pássaros. Além disso, o pobre do Príncipe viu o quanto sua Flor havia sofrido longe dele. Ela quase havia se tornado amiga da Lagarta! E o pior é que ela quase havia se esquecido que o Príncipe existia!
Então, atualmente, quando eu posso tento bolar planos incríveis pra livrar a Flor dessa Lagarta, mas a questão é que é bem difícil fazer planos contra uma Lagarta que eu nunca vi.
E meu Pequeno Principe, bom... ele tenta sempre conversar com a Borboleta numa tentativa de ganhar uma aliada, mas normalmente ela não lhe dá ouvidos, pois agora só consegue ouvir a tal Lagarta., essa safada sedutora.
Já tentei dizer que eu posso trazer um novo desenho, mas o Príncipe não quer, prefere tentar novas formas. Fica dizendo que o pássaro fugiria, ou seria engolido pelo gato. O melhor mesmo talvez seja esperar o tempo passar... Talvez a Lagarta malvada se transforme em borboleta e voe pra longe .. mas talvez não!