OS AMORES E SABORES DE JORGE
O que mais escrever do mais completo?
É difícil...
Deixa pensar...
Hum...
Homem das letras, da cama e da mesa.
Alguém duvida?
Que as digam Gabriela, Dona Flor, Zélia, e Dadá.
Amado era Jorge
Odiado também
Mas quem mandou buscar personagem na vida real!
Não sabe que essa gente não gosta da verdade?
Mas deixa isso pra lá...
Eu bem que gostaria de ser uma das suas personagens, seus amores.
As dos romances, que volta e meia são arrancadas das suas páginas, para virarem Séries ou Novelas da moda, nos canais das TVs.
Na pele da Gabriela, eu sentaria a sua frente com modos inadequados e me deliciaria ao vê-lo filosofar com a boca, ao comer uma moqueca de Siri Mole com Pimenta-Malagueta. Ah! Esse prato era o que mais lembrava Vadinho a Dona Flor, era o prato predileto dele. A forma grotesca e ao mesmo tempo erótica com que ele devorava essa delícia fazia Flor suspirar com tristeza e desejar jamais servi-lo a sua mesa, essa delícia. Com você meu ardente e Amado Jorge, a degustação não seria menos prazerosa.
Como a Zélia era a sua personagem mais particular, deixo aos senhores leitores o prazer de deitar e rolar, sobre os seus brancos lençóis, a sua mais ardente imaginação.
E sendo a Dadá? Negra bonita, filha de Oxum, de sorriso largo e fácil, quituteira famosa, de mesa farta, dos cheiros, sabores e texturas da velha Bahia. Vendo-o sentado entre os pratos coloridos pelos temperos e dendê, sei que é difícil chamar sua atenção, mesmo com um sorriso contagiante como o dela. Porém, como eu mesma, penso que a sua atenção estaria garantida. Derramando sobre mim o melhor delas.
Seria a mulher sensual, sem compromisso, a mulher ardente e gostosa, cheirando a cravo, meio inocente, mas, extremamente caprichosa na sua arte de amar. A esposa, amante, mãe, companheira, inteligente, criativa, mulher ideal para deixá-lo criar. E sabendo da sua tara por comida apimentada, preparo um sarapatel! Pimenta-de-Cheiro é que não vai faltar. Chego até a sentir o ardor na tua língua, vejo o suor escorrer sobre as tuas têmporas brancas e o sorriso de satisfação por baixo do pesado bigode. E no meio desse delírio, descubro que você se foi com a sua mais amada e deixou órfãs as suas outras criações, seus outros amores: a da mesa, (Dadá) com a sua dor e lembrança, hoje brilha em festas de seus famosos restaurantes. Mas, não tanto quanto brilhava na cozinha da Casa do Rio Vermelho. Onde era apreciada pelo filho mais ilustre dessa terra abençoada por Todos os Santos.
Já a Gabriela, a mais arteira, com a morte do seu “painho Amado”, fala-se que foi pros lados da Síria, onde passa às tardes nas mãos de um jovem apaixonado Nacib, filho de Alá, que sonha de olhos abertos com o sabor e o cheiro da protagonista às margens do Mar Mediterrâneo.
E eu, sozinha, na madrugada escura, penso ouvir passos, murmúrio, ou uma espécie de lamento, debaixo da minha janela, num sobrado da Cidade Baixa. Deixo um livro seu na poltrona... Corro e deparo-me com seus personagens vagando como zumbis, a tua procura, nas ruas e vielas escuras, na noite fria, da velha e triste Bahia.
By Nádia Ventura