Gelo e Rocha

Aldus Lupus avançava com sua Alcatilha velozmente. Em sua forma de lobo era ainda mais austero e elegante. Seu bando seguia cada passada sua e a cada uivo ressoavam o canto dos lobos nos ares.

Aldus ia na frente e logo atrás seus dois braços: Kenos Ruffos, o Cinzento e Luperos Aldo, o Fiel. Dois Grandes lobos cinzentos de olhos azuis. Suas garras são facas e seus dentes espadas. Através deles Aldus mantém a ordem e a determinação da Alcatilha.

Na sequência vem Kili, Rain, Gálatos, Peuel, Fintos e Pul, o resto do bando.

Avançaram por toda a planície enluarada. Subiram e desceram por três colinas, atravessaram o vau do Orinoku com sua água rasa e prateada.

Quando a noite completava a Meia-Lua alcançaram O Rocha, o maior vale de florestas e rochas de Terra Gládia.

Aldus parou numa penha e se virou para falar com o bando. Toda a Alcatilha pararam e rodearam o líder. O Alfa.

- Foi daqui que enviaram o chamado. O velho corvo nunca se engana e posso sentir ainda o fedor dos malditos Cans.

Duas noites passadas Aldus recebera um chamado em sua toca. Notícias de uma invasão dos Cans em território dos Lobs. A mensagem dizia que uma comitiva de Cans havia adentrado O Rocha pelo lado norte e estavam acampados na floresta Carvalhossa. Relatava ainda que o grupo inimigo era formado por: Um pelotão de Lobos Vermelhos, batedores. Trinta a quarenta Coiotes. Sessenta Hienas Negras e dezenas de Cans de todo tipo.

- São mais de cem, grande alfa, não poderemos detê-los. – disse Fintos, o Cauda Soberba. – Seremos dizimados.

- Quieto – repreendeu Ruffos – deixe o mestre falar.

- Não vamos confrontá-los de frente. – continuou Aldus – Seria arriscado e imprudente. Para não dizer uma tremenda tolice. Vamos usar de estratégia até que nossos exércitos cheguem pela manhã, já enviei o pedido. Temos que manter os Cans no Rocha, esse é a nossa missão. Não vamor perder mais ninguém para os malditos Cans.

Uma salva de uivos e ganidos ressoou, em resposta de aprovação. Ruffos e Luperos marchava em volta do grupo rosnando e uivando palavras de incentivo. Estavam avivando o bando.

- Ninguém afronta os grandes lobos cinzentos!

- Urra! – respondiam os Lobs.

- Os Malditos Cans vão beber da nossa ira!

- Viva! – Uivos e ganidos aplaudiam mais uma vez.

Por fim Ruffos uivou o grito de guerra dos Lobs:

- Nossas garras são Facas! Nossas presas são espadas! Somos os Lobs Cinzentos! Urra!

E foram respondidos primeiro pelo alfa e seguido pelos demais.

Aldus tomou a forma humana e caminhou silenciosamente para dentro do vale de rochas. Logo foi seguido pelo seus dois Lobs principais e depois pelo resto do bando. Todos em forma humana.

- Vamos atrair eles para a parte oeste da floresta. Próximo dos limites das Terras de Névada. – disse Aldus sem interromper sua marcha. Seus cabelos volumosos e grisalhos brilhavam um tom prateado refletido pela lua. Seus vívidos olhos azuis não perdiam um detalhe. Caminhavam silenciosamente pela floresta como só os lobos cinzentos sabem fazer.

Aldus enviou dois espias para o acampamento dos Cans. O vento era favorável. Duas horas depois os espias voltaram e confirmaram a mensagem do velho corvo.

Seguiram o plano.

A idéia era se espalharem a oeste da floresta e emitirem uivos compassados e ininterruptos até que mordessem a isca. A intenção era dar um aimpressão de um acampamento de Lobs a oeste. Assim os Cans enviariam o maior números de guerreiros a oeste.

A estratégia era atraí-los para a Fúria de Cristaco, o Temível. O Senhor do Gelo e Rocha.

Há muito que a lua havia deixado o Rocha e uma faixa laranja coloria o horizonte. Antes que os primeiros raios da manhã surgissem os Cans morderam a isca. Avançaram a oeste com a maioria das suas companhias.

Aldus e o seu bando haviam partido de madrugada, mas antes haviam marchado de um lado para o outro para que deixar vestígios de odores de Lobs pela floresta.

Quando os Cans alcançaram o ponto em que o bando de Lobs estavam, creram que havia ali um acampamento e que haviam fugido para o oeste. Aceleraram a marcha.

Aldus caminhava silenciosamente por entre pinheiros e eucaliptos. O bando havia ficado numa clareira logo atrás, ao seu mandado. Alcançou uma colina e começou a subir. O chão era coberto por uma mistura de areia e grama.

O dia estava claro porém frio. Um vento descia do norte assobiando sua canção gélida. O mestre Lob explorou o local em sua forma humana e decidiu retornar para o bando. Quando derepente pareceu ouvir algo parou e esperou.

Uma névoa começou a aparecer de todos os lados e tomou todo o lugar. O chão começou a congelar e a grama trincava ao que o Lob caminhava. Pareciam agulhas quebradiças. Se fosse o pé descalço de alguém da raça dos homens aquelas agulhas de grama congelada já haviam atravessados-os, porém o pé de um lobo cinzento possui um couro natural, grosso e impenetrável.

Todo o ar em volta enrregelou e as árvores petrificaram em gelo e a areia se transformou em rocha. O vento agora cortava o ar como uma navalha. Se não fosse a pelagem e o sangue quente de lobo Aldus morreria ali naquele instante congelado. Era a presença de Cristaco que se aproximava.

- Quem ousa perturbar a minha paz? – uma voz frígida e penetrante ressoou nos ares.

- Me perdoa a intromissão, mestre do gelo, mas se fez necessário. Eu sou Aldus, alfa da Alcatilha dos Batedores dos Lobs. Aliados do Reino de Castélia e amigo de Valco o Senhor dos Ventos. – saudou o Lob.

- O que faz nas minhas terras, amigo?

Dizendo assim a voz tomou uma forma mais humana e Aldus pode perceber a neve que o cercava e o inundava até os joelhos. O lob tomou a forma de lobo para resistir ao frio e se virou e prostou para Cristaco, que agora estava às suas costas.

- Um exército de Cans. Venho fugindo deles. Invadiram o Rocha e estão no nosso encalce. – relatou Aldus. Temo que em poucas horas cheguem aqui.

O Senhor do Gelo e da Rocha é um grande dragão branco de olhos azuis. Cristaco, o Temível. Suas garras parecem de aço. Sua couraça é impenetrável. Suas presas são brilhantes e transparentes. Enquanto fala ou respira um vapor de água, gelo e neve sai da boca e das narinas do dragão. Por onde passa tudo vira gelo, neve e rocha. E a temperatura do seu corpo é tão baixa que se alguém tocar o seu corpo petrifica e se faz em minúsculos cristais de gelo na hora. Só um Lob suportaria ficar tão próximo do dragão do gelo.

Cristaco urrou em fúria. Não existia criatura que mais odiava do que os Cans e os Orcs.

- Que venham! – disse ferozmente. Vão conhecer a fúria do Senhor do Rocha.

Dizendo assim bateu suas grandes asas e um forte vento misturado de névoa e cristais de gelo o acompanhava. Voava sorrateiramente e por onde passava nevava. Um grande rastro de gelo e rocha ficava por onde ele pasava.

A companhia de Cans e Hienas chocaram com o grande Senhor das Neves no Passo da Caveira. Quando os Cans viram aquela nuvem branca de neve e vapor vindo em sua direção pensaram que se tratava de uma tempestade. Quando se deram conta que era o grande dragão branco já era em vão. Não puderam bater em retirada.

Na primeira investida setenta Cans foram petrificados e cem deles congelados. Aldus e o seus bando vinha logo atrás fazendo em milhares de pedacinhos aquelas odiosas estátuas de gelo. Garras e presas transformavam os Cans congelados em minúsculos cristais.

(continua...)