Hunio o Calmo, Parte 2
Ele sabia que a comitiva se desfazia. Por isso estrategicamente fugia. Os soldados de Zaiom não tinham perícia, estratégia e vigor suficiente para viver fora dos fortes. Hunio sabia disso, por isso fugia para o ermo.
Eram onze quando saíram do Forte Calango, mais o capitão perfazendo uma dúzia. O general não fazia uma sábia escolha ao escalar Argos para essa missão. Ele não era um bom capitão.
Hunio já estava com a vantagem de um dia quando a comitiva partira. Ele próprio já havia comandado aquela tropa. Conhecia tão bem aqueles soldados quanto não sentia amores por eles.
Alcançaram a cidade de Luz dois dias depois de partirem e um dia antes de perderam os cavalos. Hunio havia acampado ali e Argos sabia disso, por isso estava em seu encalce.
Hunio havia acampado porque estava cansado e com fome e também porque queria saber o que aconteceria com os soldados na Passagem da Serpente.
Do alto da colina ele observava a comitiva lá embaixo. Não ousara acender uma fogueira para não denunciar a sua presença, por mais que sabia que os soldados soubessem que estava por ali.
Sorriu quando A Grande Cobra atacou os cavalos abatendo dois deles e não sentiu nenhum remorso quando outras serpentes atacavam os soldados. Era dois a menos para se preocupar. O resto embrenhou nas ruínas escuras de Luz. O lugar era um labirinto.
Hunio partiu. Desceu a colina sentido oeste. Queria alcançar o castelo de Kror antes de três por de sois.
Ganharia um dia a mais de vantagem até que Argos e seu bando conseguissem sair de Luz. Nenhum deles conhecia a saída daquele labirinto e eles não eram tolos o suficiente para tentarem atravessar a cidade às cegas. Teriam que rodearem a cidade pelo leste. O que implicaria em atravessar um bom trecho da Floresta Sombria e o Deserto Cascalhoso.
Foi o que fizeram.
Mais três soldados foram abatidos ou posto fora de combate. Dois deles se perderam na Floresta sombria e um bebera de um cacto venenoso.
Era somente sete para Hunio se preocupar, um número bem menor que antes, porém ainda preocupante.
Hunio havia desertado do exército do baronato. Consciente de que o fim de um desertor era a morte. Mas não era a falta de temor que sentia que o fazia prosseguir, mas a honra e a sede de justiça e vingança.
Tudo que ele tinha havia perdido pelo baronato. Até a família. E tinha se arrependido disso. Faria com que eles pagassem.
No terceiro dia alcançou os Charcos sem Fim, o maior pantanal do oeste. Teria que abandonar o cavalo e confiar na sorte agora. Caminharia só à noite, à luz da lua e das estrelas, o que significava que correria maior risco. Só que ganharia maior vantagem, pois sabia que Argos não caminharia de noite por isso avançaria menos. Ele temia os lobos da noite, Hunio não.
A sorte mudara. Não encontrou nenhum lobo durante sua caminhada e nem algum outro perigo mais sério que o fizesse parar ou diminuir sua marcha.
O motivo era que os lobos resolveram mudar seus hábitos e instintos. Caçavam de dia e se entocavam à noite.
Ninguém sabia disso por isso a comitiva foram pegos de surpresa e antes que conseguisse eliminarem por completo aquela matilha de batedores mais três soldados haviam sido mortos. Hunio soubera disso depois.
Apenas quando três soldados e o Capitão apareceram nos portões do castelo de Kror.
Da janela da pequena sala Hunio os observava. – Acho que dou conta deles – pensou – Não de frente num combate corpo a corpo, mas estrategicamente. Teria que pensar e arquitetar um plano.
Argos adentrou os portões do castelo e atravessaram o grande pátio. Ordenou que se espalhassem e procurassem pelo desertor. Seu maior erro.
A luz fraca da lua não deixava que vissem Hunio no alto da torre, porém os iluminava suficientemente para que o nosso herói pudesse ver para onde foi cada um deles.
Argos subira as escadarias principais do castelo sentido aos salões reais. Relipo fora sentido sul para as estrebarias. Duncar para o norte para as vilas. Carcon desceu para as masmorras e Dudain para os fundos do castelo sentido aos pomares e ao vale.
A Torre de Guarda onde Hunio se refugiava ficava ao sul. Ele resolveu descer e foi atrás de Relipo. O encontrou entre as cocheiras fantasmagóricas e desérticas. Avançou silenciosamente, queria surpreende-lo pelas costas. Não queria que houvesse o mínimo de ruído possível.
Estrategicamente e sorrateiramente, abateu Relipo sem que esse ao menos soubesse o que tinha atingido-o. Hunio era um dos melhores batedores do baronato. E era isso que o coronel mais temia. Porém não havia titubeado em mandar Argos para essa missão. Talvez ele mesmo não quisesse sucesso e estava tentando se redimir. Mesmo assim Hunio teria que fazer o que era para ser feito. Não pouparia nenhum deles.
Rumou para o Vale, entre os pomares...