O Outro Lado do Horizonte
Está escuro aqui.
Estupidamente escuro. De uma forma que eu jamais concebi. É algo que não se restringe a meus sentidos, vai ainda mais fundo. Uma pessoa normal jamais entenderia pois, até quando tento acessar minhas memórias, tudo que encontro é escuridão. Minha vida, meus amigos, minha família, meu rosto, meu nome... E vai ainda mais fundo... O amor, o ódio, o tédio, a descrença, a fé, a justiça, o horror... Nada existe em mim agora, nada além das trevas mais sombrias que já conheci.
Então, pouco a pouco, como uma versão em câmera lenta do Big Bang, passo a definir contornos no universo... E me assusto mais uma vez.
Há uma estrada sob meus pés, uma estrada de mão dupla, que sobe e desce uma colina conduzindo em linha reta meus olhos até o horizonte distante. A direita e a esquerda não há nada além de imensos bananais que ocultam minha visão. Estou de pé no meio dessa estrada e não sei o que pensar. Como vim parar aqui?
Começo com certa apreensão meu caminhar que é lento e confuso como se tivesse bebido além da conta. O desejo de saber onde estou me instiga a buscar respostas na memória, respostas que não vêm... Embora a luz tenha se acendido no mundo ela não é poderosa o bastante para clarear minha mente.
Ou pelo menos era o que eu pensava. Após muito tempo tentando lembrar de qualquer coisa a meu respeito descubro uma jovem em minha memória. Uma jovem com traços delicados e olhar distante. Uma jovem que eu sei ser muito importante para mim. Quero lembrar-me dessa pessoa, saber de quem são os traços que trazem calma a meu coração mesmo estando nessa maldita estrada sombria... Mas não me lembro, e por mais que force nada mais ocorre a minha mente cansada. Fecho os olhos por um momento e ao abrí-los tenho uma surpresa; existe um carro a minha frente.
Conhecia aquele modelo e poderia reconhecê-lo em qualquer lugar se não fosse meu estado atual de amnésia profunda. Aproximo-me dele levando a mão até o frio capô e novamente sinto algo surgir em minha mente, mas dessa vez não é a mulher que acalma meu coração, pelo contrário, não consigo definir os contornos do que vejo mas é algo que me deixa assustado. Antes que possa perceber sinto meu coração disparar e um jato de adrenalina inundar meu sangue. Minhas mãos são tomadas pelo suor e o pior, sinto algo às minhas costas.
Tento vê-lo pelo canto dos olhos mas nada é revelado. Não quero virar em sua direção pois sei se tratar de algo tão bestial que arrancará imediatamente minha sanidade. Antes que perceba passo a correr e sinto o ódio da entidade atrás de mim. Meus sentidos respondem com um ódio ainda maior, odiando a colina que rompe o horizonte, odiando o vento que chia contra meus ouvidos desprotegidos, odiando a estrada morta sob meus pés. E minha aflição é recompensada... A entidade que me persegue está mais distante, sei disso pela forma como o ódio e o medo diminuem a cada passo confuso dado por mim. Ela não pode me alcançar, jamais conseguirá. E com essa felicidade corro ainda mais rápido, rompendo a distância de forma esmagadora. Antes que dê por mim chego à colina no fim do horizonte.
Então paro por um momento e a encaro.
Há algo do outro lado, escondido sobre os últimos metros. Não sei o que é, se é bom ou ruim, mas sei se tratar de algo que mudará para sempre tudo que conheço, ou que pelo menos conhecia. Tenho a visão da jovem no mais profundo de minha mente, ela parece sussurrar algo de suma importância que a escuridão me impede de ouvir. Percebo agora que quanto mais me aproximo do horizonte mais a divina feição desaparece, deixando que o escuro volte a preenchê-la. E para minha surpresa a entidade também está ali, pronta a me envolver com suas garras de loucura fria. Por que a jovem tem de estar no mesmo lugar da entidade? Por que ela não está à frente, esperando para receber-me e acalmar parte da insegurança que me aflige?
É hora de escolher. O divino e o maldito que se mesclam às minhas costas ou o desconhecido horizonte e seus infinitos segredos à frente. Por um momento sinto que ficarei eternamente naquele dilema, até perceber um detalhe muito importante...
Aquela estrada é única. Não existem desvios, atalhos, bifurcações... A jovem que tanta paz me trás está às minhas costas então não há outro destino para ela a não ser, mais cedo ou mais tarde, vir encontrar-me aqui.
Respiro fundo buscando coragem. Pelo menos, quando a jovem vier por esse caminho eu estarei do outro lado para acalmar parte da insegurança que a afligirá.
Satisfeito, avanço rumo ao desconhecido.
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Na sala de traumatologia o bip do aparelho se torna constante, o médico retira sua máscara enquanto dá dois passos para trás bufando pelo fracasso.
- Nós o perdemos. – Diz secamente.
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Sim pessoal eu sei que sumi mas foi por um bom motivo...Terras Metálicas vai sair mesmo pela Novo Século!!! Ainda não tenho nenhum detalhe mas quando estiver tudo certo pode deixar que informo vocês, e relaxem que vai ter uma super promoção para o pessoal do site!
Até!