O Cubo Vórtex
Foi no dia 12 de setembro de 2002 que comecei as minhas anotações para esse projeto. O término dele, todavia, pode consumar-se em algum dia do século XVII durante A Conspiração da Pólvora quando Guy Fawkes é preso nos porões do Parlamento de Jaime I ou em algum dia de 2214 quando o Oregon do Norte declara guerra ao resto dos Estados Independentes do Norte e eclode a 6ª. Guerra Mundial, a 2ª. Nuclear de grandes proporções.
O cubo vórtex é a chave para o entendimento de toda essa história e revelarei tanto os aspectos de seu “achamento” quanto as peculiaridades dessa “descoberta”.
O projeto em questão é o relato dos acontecimentos desde o aparecimento do cubo vórtex até hoje quando estou deliberadamente rememorando o que ocorrera.
Não tenciono, de modo algum, revelar os segredos da origem de tal objeto, visto que meus conhecimentos restringem-se à minha área profissional, que para começo de conversa é de humanas e não de exatas – refiro-me à cátedra de artes visuais – e, além disso, mesmo que fosse científico meu cabedal inicial de análise, duvido que poderia dar conta, nem que fosse de início, de uma compreensão de um objeto mágico sobrenatural. Coisa de ficção, dirão muitos. Para mim, até pouco tempo atrás, foi mesmo. Se me perguntarem qualquer coisa da existência dessa traquitana, direi que é ficção e que tal coisa não existe...
Começando do começo, eu diria que foi o acaso que levou ao aparecimento para mim, e não para outra pessoa, do cubo vórtex.
Meu nome é Hélio e sou professor de artes visuais da Universidade Federal Fluminense no Programa de Pós-Graduação de Ciência da Arte em Niterói desde há cinco anos atrás quando começou a cátedra para mim em artes naquela instituição.
Naquele tempo podia-se andar abraçado com sua namorada na praça ao lado da Universidade sem o perigo de algum maconheiro e tipos não-recomendáveis aparecerem na área; porque os que tinham não se atreviam a incomodar. Naquela época tinha música nos bares e lanchonetes, além de algum músico que se apresentava na praça mesmo de vez em quando e não um monte de vendedores de cerveja e bebidas alcoólicas que tomavam todo o espaço da praça nos eventos, vez ou outra. Tinha até um livreiro que costumava vender livros e revistas de cultura libertária nesses eventos, destoando dos outros vendedores, depois sumiu, nunca mais vi, uma pena.
Isso conto, não para fazer esperar o leitor ou para lhe incutir expectativas porque para isso, teria eu, outras deliberações de subterfúgio, já que o assunto desse relato é basicamente super-interessante de um modo fora do comum, onde o super pode ser escrito com toda pompa e circunstância e o interessante diz respeito a qualquer um que ache que viagens no tempo não são possíveis e que queira saber do que diabos eu estou falando. Tenciono sim, pintar um pequeno quadro da minha vida de quando ocorreram esses acontecimentos para que vejam que eu não procurava por objeto nenhum quando, a mim, ele veio. Sem mais delongas eu continuo o relato: Eu costumava freqüentar uma lanchonete na Universidade para tomar café a que todos chamavam de o “Podrão”. Até hoje lembro do rosto de assustada da moça que me atendeu... Ela tinha o ar daquelas pessoas que se tivessem nascido ontem você não diria que não, porém para o lado positivo, porque o ato de maravilhar-se, de se surpreender com a realidade em volta, poucos tem hoje em dia e poucos vêem nisso algo de bom e de divino em todos os aspectos, tanto os espirituais quanto os de ordem estritamente mundanos.
A coisa é que ela estava surpresa com o que tinha achado nos fundos da lanchonete no dia anterior. Ela achava que era uma das peças de arte visual de algum aluno ou mesmo de algum professor que tinha se perdido... Consistia num cubo todo preto que tinha a propriedade de ser impermeável à água, com um pouco de peso (cabendo na palma da mão) e de chumbo. Quando o vi pela primeira vez (ela fez a bobagem de me mostrar o tal objeto) fui tomado de um arroubo de pretensões não sei vindo de onde nem com que intenções que me levaram a dizer:
- Até que enfim encontrei meu cubo vórtex!
- Seu cubo o que...?
- A minha peça de arte que eu tinha perdido. Obrigado Leila, não tenho como lhe agradecer.
- De nada, Seu Hélio.
Descobri, para meu assombro, que aquele pequeno cubo era na verdade uma máquina do tempo e que eu poderia viajar tanto no passado quanto no futuro se dissesse as palavras certas segurando o cubo de frente para o norte à meia-noite. Descobri isso numa pequena inscrição que tem no próprio cubo, escrito em aramaico... e que um amigo professor de história antiga traduziu para mim... As implicações bem como a procedência do cubo dentro do contexto dessa descoberta eu nem desconfio...
Hoje, quando finalmente começo esse relato estou em 1949, enquanto a Igreja Católica lança a campanha da Legião da Decência, um pouco antes de Getúlio Vargas ser eleito presidente.
Não tenciono voltar para o nosso tempo...