A Caravana do Porto Noroeste - Parte 3

Almoçaram e conversaram o resto da tarde. Cada um contou um pouco de sua vida, suas vivências e experiências. O sol estava quase sumindo quando resolveram partir, os cocheiros estavam selando os cavalos nas carruagens. O capitão aproximou de Valco:

- Caminharemos algumas horas antes de dormir. – disse. – Vamos parar daqui a umas três horas e levantaremos acampamento.

- Eu também – disse Valco – pretendo dormir tarde hoje. Passaram pela estalagem?

- O Tonel de Prata? – disse o capitão – Acampamos a uns trezentos metros. Fomos lá uma duas vezes para comprar alguma coisa. Não pousamos em estalagens quando viajamos com mulheres e crianças.

- Faz bem. – disse Valco- E o que viu por lá?

- O mesmo de sempre. Beberrões, contadores de histórias e forasteiros. Gente de todo tipo. Tome muito cuidado se for para ali. Você é peregrino e tem um cavalo bom. - Ele vai voltar. – Valco rira – Meu cavalo. Separaremos antes do último marco. Ele sabe o caminho de volta.

O capitão e Valco caminharam perto do fio d’água, pararam e Valco disse-lhe:

- Quando chegarem ao reino eu peço que todos ajam normalmente. Após se instalarem, você e os outros cavaleiros procurarão falar com o mestre no castelo. Mestre Daniel. Fale sobre o nosso encontro e diga esta a senha. Recitará em seus ouvidos:

Um cavalo sem cavaleiro retorna

Um peregrino vai às terras mortas

O portador do vento e da lâmina

O príncipe herdeiro e Rei da chave branca

- O que significa?

- É só uma senha, capitão. Porém você só dirá as duas primeiras linhas e o mestre deverá repetir as duas últimas. Se não for assim não é quem eu estou lhe falando e tudo já estará perdido.

As duas carruagens já estavam preparadas e os seus cocheiros estavam com as rédeas nas mãos.

Os cavalos estavam bem descansados por enquanto ninguém viajaria a pé.

Subiram todos a bordo das carruagens, depois de despedirem de Valco, um a um. Os cavaleiros terminavam de arrumar as suas celas nos lombos de seus cavalos. O capitão dera um último adeus a Valco, que jazia ao lado da fogueira quase se apagando.

Todos tinham se despedido, mas parecia que faltava alguém.

- A menina – disse Valco para si mesmo – Fabian.

- Oi! – uma voz assusta Valco. Era Fabian.

Valco ficou pensando se ela não o teria ouvido. Mas estava certo de que não.

- Partiremos. – disse Valco – Adeus!

- Você tem que me prometer uma coisa, cavaleiro. Antes de partir. – dizia Fabian, olhando de vez em quando para trás, por cima do ombro. – Por certo o capitão não sabia que ela estava ali. – Vai ter que me prometer. Não vou conseguir viver sem ter essa certeza.

- Me diga. – disse Valco, percebendo ignorar totalmente sobre o que ela queria falar.

- Se nos próximos seis anos, dessa sua jornada, você não casar com ninguém, case comigo quando eu completar dezoito anos.

- Veremos... – disse Valco, apreensivo. Fora pego de surpresa. – Isso envolve muita coisa e você é uma criança. Admiro sim, na verdade, sua ousadia e determinação, mas não é viável que...

- Me prometa! – insistia ela.

- Eu não sei. – disse Valco depois de pensar um pouco – Não quero que iluda essa sua cabecinha.

- Me prometa! – disse mais uma vez Fabian - Nosso futuro dependerá disso e não temos muito tempo para pensar seriamente.

Valco olhou para a menina. A conversa era séria. Seus olhos verdes começaram a encher de lágrimas.

- Prometa! Por favor. Será melhor assim – disse – E cumpra sua promessa.

Valco cedera, compreendeu finalmente que aquilo não era loucura na verdade. Fabian era uma garota de doze anos, uma criança, mas tinha uma visão muito ampla do futuro. Só o que ela não sabia é que estava mudando completamente o rumo da história e da vida de Valco.

Valco abaixou, limpou uma lágrima, que descia no rosto de Fabian, com as costas do dedo indicador e passou a mão em seu rosto.

Fabian e as outras crianças haviam se banhado no riacho e toda a poeira da estrada já não estava mais em seu rosto. Valco percebeu como ela era bonita.

Seus olhos verdes olharam diretamente nos de Valco, um rosto lindo e juvenil prenunciava o futuro: Uma bela mulher! A mulher que Fabian se tornaria, uma rainha talvez.

- Está bem! – disse Valco enfim. Mas até quero que você estude, está certo? – disse sorrindo – Terá que cumprir a sua parte para a promessa ter valor.

- Eu juro! Não vou me casar com ninguém até que você venha. – disse – Só não se esqueça de mim.

- Não vou. Eu prometo. Fabian Guerreira. – disse por fim, Valco, compreendendo que no final das contas não voltaria a ver de novo aquele rosto nos próximos cinco ou seis anos. Ou talvez nunca mais. Ela abraçou Valco e chorou.

- Que a Fênix ilumine seus caminhos. – disse. – Soltou e afastou-se depressa, pulou e subiu na tampa da carruagem que começara a andar, todos os outros já havia recolhidos. Todos já haviam despedidos de Valco e não deram falta dela na caravana. Menos sua mãe que a aguardava ansiosa.

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