Ausência de Luz

Estava a passar pelas ruas vi uma porta aberta, vi outra, vi mais uma, na ultima entrei e comecei a perambular pelo labirinto de luzes que afligem os cegos. Encontrei o primeiro sentado, esperando diminuir, as luzes que afligem os cegos. Falei que elas não iriam diminuir. Falei que elas iriam aumentar sua intensidade à medida que ele ali ficasse, elas só iriam aumentar. Ele olhou para o lado, para o lado que vinha minha voz. Olhou para o vazio. Viu-me e respondeu:

-Daqui só saio quando as luzes diminuírem.

Falei mais uma vez que elas não iriam diminuir. Ele retrucou perguntando como eu tinha certeza de que elas não iriam diminuir. Nada respondi. Preferi seguir. Continuei no labirinto de luzes a procura de minha escuridão. De um pouco de escuridão. Caminhei pensando no que poderia ter respondido ao cego das luzes. Não tinha certeza de fato se elas iriam diminuir. Mas sabia que se conseguisse achar uma saída para à noite voltaria. Voltaria para a escuridão a única certeza que tinha era essa. Não sabia ao certo se a escuridão era a resposta. Se encontraria a escuridão. Não sabia nem por que entrei na ultima porta que vi. Por que não esperei ou por que não me adiantei.

Um grito ao longe. Um grito a minha esquerda. Um sussurro perto. Um sussurro muito perto. Um pedido. Uma clemência. Uma ordem. Era o cego das luzes, era ele quem gritava. Era ele quem me sussurrava, era ele quem me pedia, ajuda.

Estendi a minha mão esquerda, procurando sua mão direita e disse:

- Como você chegou ate aqui?

-Seguindo os seus rastros. Respondeu o Cego das luzes.

-Como?

O Cego das luzes nada respondeu. Começou a andar, começou a me puxar, comecei a andar. Os pés. Os meus pés. Senti os meus pés molhados, o chão estava molhado. Minha canela molhada. Pernas. O cego das luzes estava me guiando para dentro do mar ou algo parecido. Parei e descobri que o cego era eu. Não enxergava mais as luzes. Acabei por encontrar minha escuridão. O Cego das luzes começou a rir. O Cego das luzes soltou da minha mão. Falei para ele me esperar. Falei. Pedi. O Cego das luzes perguntou já longe, bem longe de mim:

- E agora Cego da escuridão como você conseguirá seguir meus rastros?

Não! Não conseguirei! Respondi calado. Não conseguirei repeti em minha mente. Não consegui segui-lo. Fiquei ali parado. Comecei andar para trás achando que talvez voltando pudesse achar a luz. Parei de andar para frente. Tateando o escuro comecei a andar para trás. Comecei a correr em direção a luz que achava ter ficado para trás. Corri por cinco minutos, talvez quinze, talvez trinta, talvez tenha corrido por uma hora. A escuridão não desaparecia. Sentei. Encostei e sentei. Esperando talvez uma luz, uma sombra de luz.

- Por que você esta ai parado? Por que você esta ai sentado?

A voz vinha da escuridão. A voz tinha um tom preocupado. A voz oferecia ajuda.

- Você não quer vir com a gente?

A voz da preocupação perguntava mais uma vez. A voz da preocupação não estava sozinha. Não vinha sozinha. A voz da preocupação oferecia ajuda. A voz da preocupação questionava o por que de eu estar parado ali. Por que eu não ia em direção a luz que brilhava no fundo daquele corredor.

- Que luz? Que corredor?

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