A ASCENÇÃO DA HORDA

Sempre fui o melhor caçador de minha aldeia. Eu poderia acertar um coelho com uma flecha a 800 metros de distancia. Também era um guerreiro habilidoso. Fui treinado pelo chefe da aldeia em pessoa, que por acaso, também era meu pai.

Ele me ensinou a usar a fúria como arma contra os inimigos, a mais poderosa arma que eu poderia dispor. Tornou-me um grande espadachim fazendo com que eu lutasse contra os mais fortes e também contra as grandes bestas da floresta. Ensinou-me a arte de falar com os espíritos e deles extrair conselhos para a matança. Ensinou-me sobre nossos inimigos, os homens e sua sede de conquista, os elfos e sua crença preconceituosa de que eram os verdadeiros herdeiros de Alteran e por fim os malditos anões, que tantos de nós mataram em busca de nosso ouro.

Meu pai também me ensinou a arte da cura, da sobrevivência na selva e da liderança. Porém, nada que eu tenha aprendido com ele me livrou de perder toda minha família em um ataque cruel. Eu nada podia fazer enquanto eles eram massacrados por aqueles humanos malditos. Eu estava em caçada, tinha capturado um gordo e suculento javali para o jantar.

Agora nada poderia impedir a fúria de Migaal, o Troll. A vingança, essa sim, seria toda e completamente minha.

Por semanas segui as pegadas que os homens deixavam na terra com suas pesadas botas. Eu memorizei seus cheiros e quando conseguia dormir, cansado da perseguição, me vinham os rostos massacrados de minha companheira e filhotes. Então eu acordava gritando de ódio.

Os homens estavam em campanha de destruição. Durante seu caminho mataram outras tantas criaturas e saquearam alguns vilarejos. Porém, entre os destroços fiz meu primeiro grande aliado em busca de vingança. Um pequeno ser que se auto intitulava Dirvash, um globin versado nas artes da natureza. Juntos, continuamos a perseguir os homens e suas espadas comendo um aldeão ou outro que conseguíamos capturar.

Em uma noite sem lua, vimos o momento perfeito para uma emboscada. Os homens, cansados e famintos discutiam entre si sobre liderança. Uns acusavam os outros de não terem ideia sobre qual direção tomar e os outros acusavam esses uns dizendo que eles não passavam de tolos rebeldes.

Foi fácil para mim capturar um ou outro mais distante que fazia guarda do acampamento e meu aliado invocou os negros seres da floresta para os aturdir. Durante a batalha, alguns fugiram por entre as arvores, entre eles, o líder.

Desse eu fiz questão de cuidar pessoalmente, o segui durante algumas léguas e quando ele já estava cansado e se sentia seguro, o ataquei com fúria. Minha ferocidade era tal que mesmo ferido pelo aço do inimigo ainda consegui enfiar minhas garras por sobre a armadura do mesmo, arrancando sangue e um urro de dor do verme bastardo.

Minha sede de vingança ainda não estava saciada. Eu odiava não somente o guerreiro morto, mas toda a sua raça. Os humanos precisavam ser extintos. Eu sabia que era uma ambição grande demais para um simples Troll, porém se eu pudesse juntar todas as raças barbaras do grande deserto, essa horda, me ajudaria a aniquilar todos os humanos da face de Alteran para sempre!

Dirvash conseguiu farejar em mim a sede de conquista e convenceu-me a acompanha-lo até o vale dos ossos, reino dos orcs e desafiar Uruthuk, seu rei. Com tamanho exercito seria fácil convencer outras raças a se juntarem a minha horda. Eu os convenceria nem que fosse à base do sangue deles.

Com sonhos de grandeza, enfrentamos todo o caminho em direção à terra imunda dos orcs. Atravessamos os altos picos gelados do necromante. Enfrentamos seres diversos que nos impediam o caminho e até mesmo fizemos mais aliados. Das profundezas frias das terras mortas encontramos Abnus o Decaido, um poderoso feiticeiro morto corrompido pela magia das trevas.

Das planícies selvagens banhadas pelo rio das lendas veio Gunthor o Destruidor, um minotauro exilado de sua aldeia e com um ódio mortal pelos pequenos homens. Em troca de sua servidão me propus a ajuda-lo a massacrar uma pequena aldeia de pequeninos. Com um pequeno exercito de mercenários os desentocamos e os matamos um a um. Mulheres e crianças. Alguns serviram de provisões durante um bom tempo de viagem.

Em cada vilarejo que passávamos, e que não pilhávamos e destruíamos, mais e mais iam se juntando a nós e logo tínhamos um grande exercito. E foi com esse exercito que cheguei aos grandes portões do rei orc. A resistência, que era esperada, foi maciça, porém conseguimos resistir com a perda de muitos soldados até que finalmente adentrei a tenda real e desafiei Uruthuk que concordou com um grande urro de aprovação.

A batalha teve inicio em um coliseu improvisado. O inimigo era duas vezes maior e mais forte que eu. Era dado como certo a vitória do rei. Porém Uruthuk era sabidamente orgulhoso de seus dotes físicos e não esperava encontrar tamanha resistência e inteligência em um simples Troll das cavernas. Com habilidade conseguia desviar fácil de seus potentes golpes de machado, e utilizando a pontaria certeira que treinei durante anos com meu pai, finquei minha adaga envenenada em seu crânio. O rei desabou no chão, vencido. A multidão que ovacionava imediatamente se calou.

Porém todos voltaram a aplaudir quando, triunfante, ergui a cabeça decepada do velho orc do chão. Fui coroado ali mesmo e como ansiava tomei posse de um grande e poderoso exercito. Tornei-me um líder respeitado e temido. Logo os dei o que mais queriam. Eles queriam a guerra e queriam o sangue dos homens.

Nossa primeira grande batalha foi contra a grande fortaleza branca humana ao norte do vale. Durante séculos eles haviam atacado sem trégua os orcs e como o antigo rei não possuía visão estratégica, se não fosse minha intervenção, logo estariam extintos. Durantes meses, sitiamos o castelo e finalmente o invadimos com a ajuda das grandes maquinas de guerra dos globins. Logo todas as raças selvagens de Alteran souberam do novo rei e desejavam poder se unir a horda.

Em pouco tempo já éramos a maior arma de guerra conhecida em toda a terra e os humanos e seus aliados tremiam. As florestas não eram mais seguras, os caminhos eram proibidos e os vales agora estavam banhados em sangue. Dragões voavam e incendiavam novamente os vales. Finalmente eu tinha conquistado meu sonho.

Agora velho e imprestável meu trono foi usurpado por um dos meus descendentes, mas fortes e mais temido que todos os outros. Da mãe orc, ele recebeu a força e de minha raça a inteligência. Agora toda Alteran ferve sob o peso de suas pesadas maquinas de guerra e magia negra.

Agora isolado nessa caverna escura e solitária na montanha mais alta e distante sinto-me um pai orgulhoso. Nos meus últimos dias posso contemplar a lenta queda da raça humana, a fuga dos altos elfos e a indiferença dos anões trancados em suas masmorras de ouro. E num ultimo suspiro, uma lagrima rola de meu rosto surrado pelo tempo e me sinto mais uma vez nos braços de minha velha esposa.

É o fim para um antigo rei e o inicio de uma guerra sem fim.

Dr Morte
Enviado por Dr Morte em 18/05/2012
Código do texto: T3675018
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