Um homem cinza

Viver pode se mostrar bastante complicado. Por que afinal o que é viver? Posso considerar vivo um ser imóvel sem nada construir?

Só restou a esse ser sua respiração involuntária e os batimentos cardíacos. Se você concluiu que se trata de um doente terminal estás enganado, mesmo após vários exames médicos constataram que ele estar muito saudável. Porém ele não tem sonhos, mal tem esperança.

As plantas que um dia foram cultivadas no jardim dele continuam lá, e agem mais que ele. Entram em contato com animais e com o vento, deixando seu pólen ser levado e assim elas ocupam todo o espaço. E ele o que faz? Na verdade nada. Só restou a ele consumir energia, alimento e espaço. Totalmente improdutivo, e de tanto olhar pro teto teve um devaneio:

O mundo era visitado por extraterrestres baixinhos, eles pousavam sua nave triangular e brilhosa em uma montanha. O lugar era muito bonito e cheio de cor, um lugar que ele nunca tinha visto antes. Eles traziam consigo um componente químico peculiar, uma porção de ciência tão avançada que parecia mágica. Quando saíram expirando o líquido por aí, as cores foram se multiplicando e mais flores sugiram. Essas eram vermelhas, pretas, em vários tons de azul, cor de vinho, lilás, rosas e laranjas e outras cores que ele não conseguiu identificar.

Com essa idéia estranha de baixinhos cinzas respigando cores, ele se levantou. Foi ao jardim deu um bom jeito nas plantas e saiu; voltando com vasos, fitas, flores coloridas e um gato russo azul. Após terminar de deixar o jardim bonito, limpou o filhote, tomou um pouco de vodka, ligou a TV e dormiu.

Voltaram em sonho os ETs cinzas, eles apareceram agora com orelhas incrivelmente fofas e triangulares. Tinham saído das montanhas e estavam sobre um centro urbano sem graça e isso pareceu incomodá-los. No momento chovia muito forte, eles misturaram sua porção nas nuvens e lá embaixo os guarda-chuvas começaram a reluzir. Pessoa alguma resistiu ao banho de chuva, e ao serem tocadas pela água as roupas ganhavam novas formas e cores. A pele que era banhada pela chuva ficava perfeita. Os prédios também mudaram de forma e ganharam brilho novo. Em meio ao cenário surreal que se formou pouquíssimas pessoas notaram o OVN que passavam por lá.

Acordou num pulo, tomou coragem para se manter em pé, tinha dormido todo o resto do dia. Procurou seu material de desenho, e desenhou tudo o que via: roupas, prédios e paisagens. Passou horas desenhando e pintando, fazia tempo que não deixava sua criatividade fluir. Tornou a dormir já tarde da noite.

E lá no universo paralelo do seu subconsciente estavam as criaturinhas estranhas que continuavam a mudar o mundo. Como um artista insatisfeito em contato com uma tela branca. Chegaram aos desertos, as dunas ficaram mescladas. Nas savanas os leões ficaram maiores, mais fortes, e com menos apetite.

Na manhã seguinte ele saiu comprou tintas para papel, tecido e parede; folhas, telas e camisetas lisas. Pintou e desenhou toda a frente da casa, ilustrou as camisetas, vez as paisagens aparecerem nas telas, pintou um poste e um viaduto. Alguns ficaram curiosos com o seu trabalho ousado chamaram-no para pintar uma escola, começavam a se interessar por suas camisas e fazer lhe encomendas.

E ele que um dia se conformava com nada fazer, sentir e nada mudar. Se curvou para seres cinzas, que o mostraram o quanto era possível mudar o mundo. Depois de algum tempo, lançou um livro “A transformação parte do cinza” contando a história de ETs revolucionários. Abriu uma confecção e tinha seu ateliê, viajou, namorou, casou, teve filhos, cuidou do seu gato. Viveu como achava que devia viver, ao máximo em cada segundo, nos 86400 segundos do dia, nos 365 dias do ano cada ano da sua vida.

Bela Pessoa
Enviado por Bela Pessoa em 17/05/2012
Reeditado em 17/05/2012
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