O Inferno dos Gnomos - Parte 14
O Louco do Silencio
- SILEEEENNNNCIOOOOOOO – Rugia o ser estranho que os fitava sobre o telhado negro – QUIETO, QUIETO, QUIETO, quieto... – suas cordas vocais eram finas e arranhadas, com um chiar que feria os tímpanos ouvintes.
Todos, postos ao solo de lama, não conseguiam libertar seus olhos das correntes que os prendia ao ser gritante. Miphelangel, agora, não se considerava mais alvo dos capas azuis, mas também, estava longe de se sentir seguro. Bryan impotente, jogado ao canto, soluçava “Tanto tempo esperei por esse momento...”, “Mas nada vai poder fazer” Soprou o vento, fazendo com que Miph repita cuspindo granizo.
Um raio amarelo-azul desenhou o céu, como riscos de mapa, e logo se apagou “Drummmmm” ecoou. “Splash” Pulou o ser, de cima da Casa Negra impactando o chão lamacento, de quatro membros ao chão. Se pondo em dois pés, ele limpou os dentes falhados e sujos, e pressionou as mãos aos lados da cabeça:
- SILENCIOOOOOO. EU NÃO QUERO – Seus berros, eram vagamente abafado pela chuva raivosa. – CALEM A BOCA – Os tiros d’água escondia a percepção, dava até pra confundir, o que ou quem, estava a três metros. – QUERO TODOS QUIETOS! Quietinhos. – Berros, berros e berros – QUIETINHOS. Eu não quero mais.
Passos aquáticos correram. Espadas começaram a chocar e deslizar. Sangue sobrevoou pela chuva próximo a Miph o fazendo dar dois passos em ré, tropeçou em Bryan e caiu ao seu lado.
- Fedelho, me levante – Pediu em ira o capitão – Rapido. – E Miphelangel se levantou oferecendo a mão – Está brincando comigo? Um braço foi arrancado de mim e agora cospe vermelho, e a outra mão, esmagada, como vou segurar a sua?
Algo tocou Miph pelas costas, ele se virou no susto.
- Vossa Graça, não perca tempo com tapete pisado. – Era Dortrit – Levante-se. Fique em alerta.
- Temos que fugir daqui Gnomo – Respondeu – Essa coisa aí é o Louco do Silencio. E não posso deixar Bryan morrer. – Gnomo espiou o cavaleiro.
- Mas ele esta esvaeceu – afirmou Dortrit, Miph conferiu. E sim, acabara de desmaiar. E o Gnomo continuou – Pegue também o aço dele. Pode precisar da ambidestreza.
Por trás do Gnomo vinha um vulto em feroz velocidade, “TASH, TASH, TASH” Respingava. Dortrit pressentiu a tempo e pulou para o lado, deixando Miph na mira. A criatura lambeu as laminas avermelhadas que fugiam dos seus dedos como unhas. E bailou como uma flecha sobre a presa. “SILEEEEEEEEENCIOOOOOO” Gritara o ser, quando Miph jogou a espada de Bryan contra ele furando a o vento. O Louco a repeliu com as unhas de aço e continuou o trajeto que não continha mais Miph, agora, apenas um corpo armadurado estirado ao chão : Bryan Alincer.
- Onde esta o Louco? Onde esta? – Gritava os guardas restantes. Até que ouviram os gritos do capitão e o cortar da carne. Foram a socorro. Aço deslizava em aço, enquanto a chuva iniciava a despedida.
- Dortrit, precisamos sair daqui rápido – Sussurrou Miph com medo de ser ouvido pelo Silencioso. – Se ele me pegar, eu morro. – Mas Gnomo se mostrava cada vez mais animado com o derramar da vida.
- Vossa Graça, nesse emaranhado esta o capa roxa. Depositei fé em que o desfecho seria, com sacrifícios, mas com os Azuis em vitória. Assim, depauperados, seria sua vez de sangrar o seu aço com o suco azulado. Ficando com todo o mérito do triunfo. Não haveria garganta que soasse o contrario. Vossa Graça se tornaria algo como : Miphelangel, A voz do silencio. – Gnomo dobrou o quadril em cortesia – Mas algo fugiu de mim, olhe – Apontou para onde estava Bryan.
A as rajadas dos céus, cessaram. A visão clareou. E Miph viu Bryan no chão de olhos fechados, agora parecia estar morto, e próximo a, ele três guardas no mesmo estado. O ultimo capa azul estava flutuando pelas garras do Louco que o ergueu. “SILENCIOOOOOOOOOOOOO!” Gritara o Louco. Jogou o cadáver no chão, e começou a berrar “Silencio” cada vez mais alto. Era mesmo um louco.
Sem esperança de vitoria, Miphelangel correu rumo a carroça. As labaredas da coroa, lhe mostrou uma sombra humana no chão vinda do ar. Miph, por instinto pulou para trás, e viu descendo como um raio, cinco laminas fincando o solo úmido. Era o Louco, “To frito!”. A voz de Dortrit se misturou ao ar “Ele luta, atormentado por um desejo que lhe causa ânsia”. “Desejo?” Estranhou Miph. E o branco emanou.
“Desça a espada” Gritou o Ar. Miphelangel fez, o Louco se assustou recuando em salto, que mal pisou, e já saltou como um cão feroz para cima de Miph, que defendeu com seu aço as laminas da destra do adversário, ficando vulnerável a canhota do Louco. A canhota pregou seus cinco dedos no peito de Miph. Escoou sangue molhando a roupa. A criatura libertou os dedos, mostrando repetir o ataque, mas foi surpreendido por uma espadada gelada, que lhe separou o corpo do braço atacante. Era o escravo sem nome que golpeara pelas costas. O Louco caiu. Miphelangel aproveitou tombo para um corte adicional, mas a agilidade do Louco não era humana, saltou novamente para trás deixando a baba do sangue esquerdo por onde passava.
- SILENCIOOOO, POR FAVOR, EU IMPLORO, SILENCIO – Seus olhos escorriam água, talvez lagrimas, talvez chuva – QUETIN, QUETIN, quetin...
Os furos no peito de Miph ardiam como brasa. Desceu um joelho em terra e gemeu, pondo a mão desarmada sobre o escoamento vermelho. “Droga, como vou fugir? Esse bicho é muito rápido, me alcançaria antes que pudesse dar cinco passos.” Refletiu encarando o adversário. Dessa vez com a chuva pacifica, conseguiu visualizar melhor o Louco. Ele estava sem um braço suplicando silencio com lamuria, possuía os dentes quebradiços que não paravam de vazar baba, Tinha unhas sujas e partidas. Vestia uma roupa em completo negro.
- Temos que fazer alguma coisa – Gritara o escravo, quebrando o pensamento.
- Vossa Graça – se aproximou Gnomo com suas botas pontudas – Ele esta se restituindo, dê boas vindas ao ensejo.
- Matar? – se perguntou Miph fechando os dedos no cabo da espada. “Matar” respondeu o vento.
Caminhando em direção ao Louco que começara a se levantar, Miph se perdia no jogo “Matar?”. A criatura se ergueu como uma sombra e batendo as laminas da mão que sobrara “tilin tilin” e ordenando silencio.
- Vou mergulha-lo no silencio – prometeu Miphelangel.
O Louco saltou dando as costas ás labaredas da coroa. Miph apontou o aço para cima e a criatura, na queda, desviou do alvo temendo virar espeto. Ao Pousar no chão lanhou as costas do garoto, antes que se virasse em bloqueio. “Esquerda, agora” Miph ouviu. E lançou um corte na direção, e justamente ali vinha o golpe da fera, mas espada passou seu membro como manteiga. “Acabou” Se aliviou, quando percebeu que não tinha acabado, pois o louco lançou a cabeça em direção a de Miph, que por pouco se esquivou, mas os dentes do monstro tinha fincado no seu ombro. Subiu a espada perfurando a barriga do Assassino, uma, duas, três vezes, fazendo o aço voltar a encontrar a noite pelas costas salivando sangue. A criatura lamentou “Silencio”, deveria ser a ultima vez que foi escutado essa palavra dessa boca. E murchou o corpo. Permaneceu imóvel, quando foi lançado ao chão.
Todos ficaram ali, os cadáveres, os vivos, escutando os últimos gotejar. Miphelangel parecia estar sonhando, mas não queria acordar. Essa data não fazia parte da costumeira realidade: “Derrotei Bryan. Matei o misterioso Louco do Silencio, que por ventura matou mais quatro guardas azuis. Tenho um escravo que me salvou. Um Gnomo chamado Dortrit me acompanha.Onde esta o sentido disso tudo?”
As janelas e portas da rua se abriram. Pessoas lançaram os rostos para fora. Fococaram algo em voz baixa. E um deles gritou:
- Olhem, O Louco do Silencio foi morto – E uma imensidão de desconhecidos aplaudiram o feito do Derrotado de velhas eras. Gnomo respondia com posturas de cortesia. O escravo olhou o chão, tímido. Miphelangel abriu um sorriso, encharcando o solo, de lagrimas. E o que o Louco tanto ordenava, não foi comprido: essa noite foi bem barulhenta.
Continua...