O Inferno dos Gnomos - Parte 12
Como Homens de Verdade
A noite caíra. A chuva iniciava seus respingos. Os sinos da Casa Negra soavam como um dia de julgamento. O frio começava a chicotear. Gnomo e Miph estavam no interior da carruagem, enquanto o escravo “sem nome”, nas rédeas se lambuzando a chuva. O balançar do móvel e o chiar da chuva, trazia a sonolência.
O sino ficava mais alto, já estavam á metros da Casa Negra. Miphelangel espiou pondo a cabeça para fora, e viu guardas armadurados á frente, mas o frio o fez recolher para o conforto interno. A carruagem parou, alguém disse algo para o escravo. Passos misturados a água, vieram até Miph. Era um guarda com a armadura úmida espelhando a escondida lua cheia.
- Senhor, peço que desça – pediu o guarda – já esta em horário de toque de recolher. Preciso do seu nome e da justificativa que o fez estar até esse horário vagando pelo solo publico.
Miph obedeceu, Gnomo o acompanhou. Pisou no chão lavado, e o tempo se mostrou mais frio que imaginara. Estavam exatamente em frente a Casa Negra, com sua longa escadaria e uma enorme porta de madeira, mantida fechada. A Chuva, mesmo insistindo, não conseguiu matar as labaredas de fogo da coroa Negra. A rua era larga quando de noite, pelos espaços cedidos com a ausência das barracas da feira matinal.
Havia ali 4 guardas, todos capa azul, que representava dois níveis acima da branca. Os guardas na noitada, eram divididos em vários postos da cidade, para dar segurança ao povo.
- E então senhor – começou o guarda – como justifica sua ausência ao lar?
- Bem... eu estava apenas – Miphelangel já julgara que “passear”, seria uma desculpa que chamava a punição. E sem resposta, a lama branca veio lhe agarrar o raciocínio. O guarda, não obtendo resposta, gritou pelo Capitão.
A céu cuspia a chuva com toda violência, as rajadas enturvava a silhueta escura do capitão, que vinha pisando firme, fazendo as gotas do chão saltarem. Seu corpo era enorme beirava os dois metros, e a capa pouco se movia por estar encharcada.
- Ora, ora – Disse ainda a caminho o capitão – Como o destino é cruel, novamente te vejo ao erro, novamente posso te surrar.
Era Bryan Alincer, que estacionou exatamente a sua frente, com sua capa roxa beirando o negro por efeito da treva. Sua armadura gelada escoava gotas.
- Pelo visto, novamente aprontou na rua e perdeu o horário – Continuou – No mínimo, roubou a carruagem. – Miph tentou resposta, olhou para Gnomo, mas foi o escravo que prosseguiu com a palavra.
- Sor Alincer, meu senhor não roubou nada. Fui presenteado a ele junto a carruagem.
- Ora, então é escravista agora, pirralho? – Perguntou Bryan.
- Um escravo não me torna escravista – Bloqueou Miph.
- Chega garoto. Você a cada dia com uma piada nova. Agora inventa de brincar de senhor. Pelo que vejo, não consegue achar uma explicação cabível para sua presença ao solo publico fora de horário, então só me resta surra-lo, já que não posso mata-lo – Bryan se virou para um de seus guardas – Você, vá buscar minha espada de madeira, quero mostrar ao pirralho sua antiga amiga – e o guarda foi.
- Vossa Graça, – Iniciou o Gnomo – Peça a eles para que lhe ceda uma ultima visita a carruagem antes de afrontar. Eu trouxe, também, uma espada para Vossa Excelência.
- Como que eu não vi nada disso na carruagem? – Questionou Miph.
- Sei de seu ultimo contratempo com o capa roxa, tratei de enfarda-la a pano, para que ele não a trate como argumento a mal comportamento. – Disse Dortrit, mostrando os dentes pontiagudos – Mas, o espalhafato veio mesmo aos meus cuidados - E Miphelangel se virou para o capitão:
- Senhor Alincer, – Cuspiu – Deixe-me ir rapidamente a carruagem, meu escravo esta fora dela, e eu não sei usar as rédeas. Não tenho más intenções. – Bryan o estudou, com um semblante de arrogância.
- Vai pegar sua espada velha de pau? – Riu a canto de boca – Faça isso. O tempo esta frio, preciso me aquecer um pouco.
Miphelangel confirmou humildemente com a cabeça e caminhou até a carruagem. Gnomo saltou caindo nas almofadas. Suspirou, fitou Vossa Graça, e mergulhou o minibraço, vestido a azul, em meia as almofadas. A mão se ergueu com algo solido de aproximadamente um metro, enroupado á pano. Dortrit soltou uma baixa gargalhada, o sangue dos dentes pingou sobre o pano. “Vossa Graça, se ele quer se aquecer, nada melhor que isto” Sussurrou Gnomo, e empurrou o pano para Miphelangel, que levantou um pouco do enroupado e se assustou com o que vira:
- Não, eu não posso.
- Pode Vossa Graça. Confie em mim – Coçou os lábios de baixo, trazendo feridas com os dentes superores – Estarei com você.
O medo do que virá a enfrentar, fez o branco lhe vir como resposta. “Desça, vamos surpreender o capa roxa” Soprou o vento como a voz do Gnomo. E ambos desceram, reencontrando o gélido clima das águas dos céus, e Bryan já armado com o esculpido de madeira.
- Guardas! – Berrou Alincer – Não se intrometam na surra. Quero saborea-la sózin... !
- Isso não é uma punição – Interrompeu Miphelangel, sem entender bem o que estava dizendo, apenas repetia o sopro de Dortrit – Isso é um duelo! – Bryan se espantou.
- Duelo? Esta louco garoto? Não posso duelar com você. Um duelo, em prata, requer um objetivo e laminas de verdade.
“Tsiiin” Soou o objeto, reluzente que saiu do pano, quando Miph o ergueu, banhando água em queda, apontando aos céus, como se já obtivera a vitoria. Bryan parecia surpreso pela ousadia e coragem do perdedor de velhas eras. Gnomo mal se segurava de excitação “Hihihihihihihihi” coçando as mãos.
- O objetivo é simples, você me incomoda, e eu incomodo você – Disse Miph – Vamos reestabelecer a harmonia nas ruas. Tudo pelo bem de Prata.
- Eu incomodo você, e você me diverte. – Argumentou o cavaleiro capitão – Temos quatro testemunhas validas aqui, me refiro aos capas Azuis. Te vencendo em um duelo, não ganho nada. Mas você me derrotando, tenho muito a perder.
“A Arrogancia vem do medo de ser comparado as pessoas menores” Soprou Dortrit.
- Ora, então esta tudo bem para você. Vai se divertir bastante, ou tem medo de perder pra mim? – Disse Miphelangel finalizando com uma gargalhada implicante.
- O QUE? – Jogou a espada de pau no chão e desembainhou sua lamina – MAS QUE INSULTO É ESSE GAROTO?
- Para que se sinta seguro, caso eu perca, deixo pra você minha carruagem e o escravo.
- Não estou mendigando. – Respirou – Mas vou ficar, só de recordação – e posicionou a espada – Guardas, oficialize esse duelo.
“Quanto mais alto estamos na escada, mais vulneráveis ficamos ao sujeito que esta dando suporte no solo” Ventou.
Os duelistas posicionaram seus metais pingando umidade. Os guardas criaram um quadrado. O despejar do tempo chiava calma á alma e um peso em excesso nas roupas. As casas se mantinham fechadas, tanto portas como janelas. Só as frestas borravam o amarelo fogo.
Segurando o punho da lamina com mais e mais força, Miphelangel se mostrava estar sendo pego lentamente pelo nervosismo “O que estou fazendo? Por que não saio correndo? Nunca venci ele, e agora com espada de verdade que não venço mesmo” Refletiu. O branco começara a crescer e embaçar a visão já chuviscada pelas águas, mas um som cortou a branquidão “Vai!”, E Miphelangel foi segurando a espada com mais força que uma mãe com o filho sendo tomado.
“Tash tash tash” Gritava desesperada a água que se levantava com as pisadas de Miph no solo. Ergueu a espada iluminada pelas labaredas, pulou na direção do inimigo e desceu em um golpe de força extrema. Bryan defendeu estremecendo sua lamina “Tein”, e esquivou raspando sua espada bloqueada em um ataque horizontal, que cortou o ombro de Miphelangel. Ambos pararam de costas.
Bryan rodou corpo traçando um golpe, e Miph acompanhou, as espadas se chocaram, gotas explodiram. Trocaram vários golpes com bloqueio em prioridade. Mas entre os dois, um dedo subiu e o rubro jorrou encontro à chuva.
Continua...