O Inferno dos Gnomos - Parte 11
Sussurros sobre o branco
Amanheceu, e Dortrit ainda estava no lar. Ele foi o ultimo a dormir e o primeiro a acordar, ou simplesmente não dormia. “Olha isso, uma criatura estranha em cima da minha escrivaninha, então não sonhei” Pensou Miph ao acordar.
- Vossa graça, finalmente acordou – Gracejou trincando o rosto – Estou ansioso para que me apresente Prata.
- Quer sair? – Recuou Miph – e se as pessoas te verem?
- Hihi, não se incomode. Só pessoas como você podem me ver, e não há muitas por aqui.
- Sei... Acredito.
Saíram de casa. Miphelangel vestiu roupas razoáveis, e Gnomo continuava com seu pano azulado e plumado em negro. Caminhavam pelas ruelas de pedra, com pessoas baixo patamar cruzando de todos os lados. Até que chegaram ao escravo presenteado a Miph, que já esperava com uma carruagem vinda de brinde. Miph embarcou. Realmente ninguém percebia Dortrit.
Gnomo olhava tudo com um olhar de curiosidade, escondendo um ponto de vista indefinível por trás dos olhos. Passaram pela rua dos vinhos, que obtinha em destaque o “lar vinho cinza”, que era abastecido por Mipherion Ashwine, pai de Miph. Passaram pela casa negra, com seus tijolos negros e o topo coroado com labaredas de fogo. Passaram pela feira, onde Miph foi derrotado da ultima vez por Bryan Alincer, Gnomo o fitou sorrindo, mas nada disse. Dortrit ficou em silencio toda a viajem, mas uma extensa rua encharcada de pessoas o fez abrir a boca:
- Que lugar é esse?
- É a Rua Oito, mais conhecida como Rua das Artes.
- Rua das Artes? – Desprendeu os dentes de cima, do lábio inferior, com gotículas de sangue – Possui músicos, Vossa Graça?
- Sim, possui.
- Podemos degusta-los?
E Ambos foram. Mas a musica não foi a única apresentação que chamou atenção do Gnomo, também parou para apreciar o teatro, as historias, poesias, contos e tudo que lhe era oferecido. Depois de farto, se sentaram, na margem da multidão, em dois cotocos de arvores que sobraram após um corte.
- Pelo que testemunho, não gosta de contemplar a arte – Disse o Gnomo, limpando as unhas podres nos dentes.
- Não ligo muito. – “Não sou Rouss” Reclamou internamente.
- Ora ... – se Indignou – Vossa Graça, o mundo veio do caos. E continua ficando cada vez mais multíplice. A arte pega esse caos e o coloca em ordem, o deixando belo, eficiente e compreensível. Ela atinge partes de nossa alma, onde é intocável pelas demais carruagens. – Miph começou a se interessar – E o que mais me faz petisca-la, é seu principio que vem da ânsia de expressar uma emoção.
Quando Miphelangel ia dizer algo, foi surpreendido por uma mão as suas costas. Olhou, era Morah, com seu sorriso afetuoso e cabelos negros caídos beirando a cintura.
- Quem diria, Miph por aqui? – Disse a morena.
- Ah, sim, acontece. – respondeu suando as mãos. E Gnomo se silenciou, prestando atenção na conversa. - e como me achou no meio dessa multidão?
- Esqueceu? Te acho em qualquer lugar, você é meu irmãozinho.
- Irmãozinho? Já enjoei disso – Deixou escapar, desgostoso. Logo, começou a pensar na mancada que dera. E o branco começou a sair da escuridão.
- Enjoou de mim? – perguntou Morah ofendida, insinuando que ele estava prestes a quebrar a relação de longa data – Esta ficando diferente Miph.
Flocos de neve já surgira em seu estomago. O branco ia ganhando espaço na sua mente. Nada lhe vinha a cabeça para fugir do que dissera. Olhou para Dortrit buscando ajuda, cruzou com seus olhos finos puxado e com seu sorriso sem trégua. O pequeno soprou algo no ar, e o ar sussurrou “Otimo, assim me considero destaque”.
- Ótimo, assim me considero destaque – Repetiu na pressão do silencio, sem saber o que dissera exatamente – E você, também não é normal.
- Não sou? – desconfiou, balançando a cabeça, e os brincos tilintaram – Por que não?
- Por que não me apaixono por qualquer uma – Respondeu confiante, ainda no transe do branco, guiado por sussurros. Morah arregalou os olhos, como se fosse atingida por uma flecha invisível. “hihi, isso ela não esperava, se sentia confortável com seu comportamento padrão em sua presença, agora ela se nota na frente de um desconhecido.” Sussurrou Dortrit. E Miphelangel se percebeu perdido, como camponeses em terras de guerra. “Pegue na mão dela” soprou o vento, e Miph obedeceu.
- Adoro suas mãos quentes - Falou, tocando as mãos da moça, e acariciando levemente com os polegares – Gosta?
- err, eu err – se embaraçou a moça, estava em terreno desconhecido da personalidade de seu interlocutor – Gosto sim – Se comportava como se fosse a nova vitima do branco.
- Adoro ler livros grossos – falou o Gnomo, olhando Miph – os capítulos não deixam a historia cessar, mantendo o leitor preso a próxima passada. O verdadeiro poder, vem de manter as pessoas dependentes do lord, Vossa Graça.
- Morah – Disse soltando as mãos da moça – preciso ir, tenho um compromisso serio agora, outro dia termino esse assunto com você.
Morah ficou em silencio rastreando o que dizer. Precisava dizer algo, queria saber quem é esse garoto atraente e forte que surgira. Mas a hipnose lhe deixou inerte. Miph retomou a mão da moça, beijou e se foi. A donzela o seguiu com os olhos, até que foi sugado pela multidão. E permaneceu ali, parada, sem compreender o que representava aquele momento.
- Foi genial, Vossa Graça – Abriu assunto Dortrit, caminhando após o conflito de pessoas – afirmar ter algo “importante a fazer”, fez a moça cair da segurança da prioridade.
- Não sei o que aconteceu comigo
- Disse o que sempre quis, foi quem sempre foi. – disse o Gnomo parando na ruela, próxima a uma ferramentaria – Aceite ti.
- Não sei, se isso é uma boa ideia - e começou a dar passos novamente, Gnomo imitou.
- A bela, esta indo pra casa, e o mundo em volta ensombrou, a única coisa que ela dar atenção agora, é Vossa Graça. A imaginação dela agora só tem espaço para Vossa Graça.
- Por que não fiquei perdido no branco? – mudou de assunto.
- Porque esta comigo. – Sorriu com suas fendas retalhando o rosto.
E Miphelangel levou o companheiro pela cidade toda. Informou de tudo que era discutível no dia a dia: Os cavaleiros que subiam rápido (em especial, Bryan), o louco do silencio, os gosmentos, os nômades, e até bordeis mais famosos. E a tarde passou num piscar de olhos.
Continua...