A biblioteca encantada
Era uma vez, uma menininha que adorava imaginar histórias dentro da sua cabeça... Imaginava tanto, que, um dia, em suas viagens mais profundas, imaginou que o mundo real tinha ficado todo ao contrário.
Imaginou que os pais agora eram, na verdade, os filhos. Que eles, os pais, que na verdade eram filhos, saiam para ir à escola. Na aula, eles aprendiam a educar seus filhos, que agora eram pais, entende?
Era uma menininha muito louca que gostava mais de viver em seu mundo imaginário do que no mundo real e, por isso, muitas vezes, sua mãe precisava entrar em sua cabeça para ir buscá-la lá, nesse sonho maluco, de que pais eram filhos e filhos eram pais.
Ainda nesse sonho, ela viu que tudo estava, realmente, trocado. Carne se comprava na padaria, eram os candidatos que escolhiam seus eleitores, os padres e os médicos residentes, eram, justamente ao contrário, batizados pelos fiéis e medicados pelos pacientes, respectivamente.
Tudo funcionava bem assim: os casados, depois de um tempo, pediam as esposas em namoro. Os alunos, sábios que eram, ensinavam aos professores coisas que estes desconheciam.
Era um sonho maluco, mas era um sonho lindo.
A parte mais bonita daquela pseudo-utópica-imaginação, segundo aquela garotinha, era a biblioteca... aquele prédio imenso, todo trabalhado em ouro, vigiado por mil e dois guardas muito bem vestidos e a postos. Era uma cena comovente. A biblioteca era como o banco central do mundo real. Um prédio cheio de preciosidades, de muita, muita riqueza. As pessoas inteligentes, aquelas que buscavam o tesouro, eram protegidas por anjos da guarda que tinham asas reforçadas. Eram pessoas iluminadas.
Ahhh, não, não havia salário no mundo da imaginação da garotinha. As pessoas não tinham valor. Não, não mesmo. Era tudo ao contrário e isso significa dizer que os bens materiais, carros, motos, lanchas, apartamentos suntuosos, dinheiro... ih, tudo isso não passava de relíquia de um museu, que nem era tão visitado assim.
As pessoas desse mundo tinham pouca preocupação, ouso dizer que apenas se preocupavam em manter a jovenzinha bem acordada.
Mas no mundo de cá. No mundo da imaginação, no mundo dos contrários.