O Inferno dos Gnomos - Parte 07
REENCONTRO
A mulher fitou o “visitante”, o tempo paralisou, tudo deixou de existir naquele momento. Ficou instantes ali, em pé, em meia a escuridão, quebrada pela boca clareada ao tremor da vela, e começou a se mover com delicadeza, destino as janelas trancadas. Pousou o pires sobre a mesa central próxima a Miph, e abriu as duas janelas do casebre. Com o baque, as poeiras se divertiram, o sol atingiu sua linda face de pele lisa, e os cabelos ruivos como o sangue, se destacaram. Vagueou todos os quatro pontos apagando as velas. Sentou na cadeira próxima a Miphelangel, assoprou as velas da mesa, jogou uma perna por cima da outra, o vestido vinho grosso com argolas altas, vibrou, e por fim o voltou fita-lo.
Miphelangel assistia tudo em silencio. Tinha mil questões a levantar, mas... Deu branco. Os olhos claros da moça, pareciam se infiltrar sobre sua alma, uma estaca gelada surgiu para apanhar Miph. Evitando o ridículo, abriu a boca:
-Que... quem é vo... você?
-A casa é minha, e essa pergunta também – disse docemente, pegando na mão do forasteiro, oferecendo um leve sorriso – mas não vou fazê-la. Porque não é a primeira vez que nos encontramos, não é?
Miphelangel apertou a mão dela e se sentiu mais seguro como se tivesse... “Crescido” lembrou. A pele da moça era macia e quente, era confortante segura-la. Percebeu estar completamente aceito por ela, tinha a liberdade de perguntar o que quiser, ser quem realmente é, não ser culpado caso erre, e não ficar preso no labirinto da censura. Graças a isso branco começou a sumir da sua cabeça.
-Ah... Bem... – Vasculhou uma pergunta para a moça – Por que mora aqui, fora do reino, no meio do nada, arriscada a virar baba de gosmentos?
-Nesse campo e em Prata corremos riscos diferentes, mas o nível é o mesmo. E aqui tem quem me proteja.
-Qual é o seu nome?
-Não possuo um – sorriu de canto de boca, aquietou pensativa e voltou a falar – Onde vivo não preciso de nome, mas pode me apresentar um.
-Lorenta! – Sugeriu animado – Eu quero Lorenta.
-Que seja. Mas por que Lorenta? – Quis saber a ruiva curiosa, curvando um pouco a cabeça.
-Lorenta era o nome da minha mãe, que morreu quando estava com meu pai em um campo belo como os jardins do rei, mas bem mais bonito e com as flores que vier a sua cabeça, tinha tudo lá. Mas a flora desse campo liberava um gás cheiroso, mas venenoso. Quem ir lá se sente no paraíso graças o aroma e a vista, mas não podem desfrutar por muito tempo. É incrível como as coisas belas são perigosas, e o prazer é menor que o sofrimento.
- Bela conclusão Miphelangel. Compartilho sua opinião. – era um alivio suas palavras - E você me parece estar muito bem. Quase morreu sabia?
- Ah, então deduzi certo. Foi você a nômade que me curou na multidão? – se achou esperto.
- Sim – sorriu – Fui eu. Fiz aquilo para que não morresse, e acordasse.
-Graças a você e o curandeiro estou bem vivo e acordado.
-Não Miphelangel, aquilo foi o suficiente para te manter vivo, mas não, acordado – Interrompeu a ruiva. Miphelangel sentiu o fluxo do seu rio barrado.
-Mas eu estou aqui, acordado, e quase caí nessa floresta que é sua vizinha.
Lorenta escutou, desviou os olhos e se levantou. Um vento cortou a sala, seus cabelos de sangue dançaram no ar. Um som de batida solida veio alem do corredor, mas voltou a timidez. A moça se aproximou de um estande cheio de flores de variadas cores, pegou um Azul-Mar, levou até um balde de madeira no chão pregado.
-É difícil entender Miphelangel – Falou levemente a mulher - vou te apresentar um amigo, ele vai preencher o vazio que te deixa paralisado na hora de agir. Leve ele com você onde quer que vá, esta bem?
- Sim – respondeu um pouco confuso – Mas quem é?
- Paciência, amanhã ele irá te visitar – Lorenta mergulhou a flor no liquido azul armazenado no balde, mexeu, levantou, as pétalas estavam banhadas de uma espécie de óleo azulado, as linhas liquidas se esticavam do balde á flor erguida. O processo foi repetido diversas vezes, ela ergueu e balançou a Azul-Mar, gotas foram lançada em varias direções, e caminhou até Miph – Miphelangel, esse é o convite. Pegue, é seu – Esticou o braço com a flor.
- Você é bruxa? – questionou, e pegou a flor, o óleo grudou na mão.
- Não, por favor, longe disso. Sou apenas uma amante da natureza, e conheço alguns mistérios nela – Beijou a testa de Miph com os lábios quentes – Deve ir embora agora, devem estar sentindo sua falta na queda das arvores.
-Bah, que nada, ninguém sente a minha falta. Só você me trata bem e me ouve – Desabafou – Sou um bicho sem futuro para as pessoas. Quero morar aqui com você, pra sempre.
-E Morah? Ela te ouve e se preocupa com você. Esta sendo pessimista filho.
“Morah, ela me espera voltar são e salvo. Se arriscou a noite pra ir falar comigo, mesmo com o louco do silencio atacando ás trevas da noite” recordou Miph. E Lorenta:
-As vezes temos tesouros ao nosso lado e não reparamos, os próprios lenhadores não repararam isso. Por que você não mostra a eles? Sei que vai acabar mostrando ainda hoje.
“Mostrar o que?” Questionou o rapaz. Mas o assunto foi interrompido.
-MÃE ELE VOLTOU, POR FAVOR, MÃE, VEM PRA CÁ – gritou a voz fina e arranhada que estava adormecida, ao fundo esquerdo do corredor com uma vela dançante – MÃE, POR FAVOR, FAÇA ELE PARAR.
A Ruiva se agitou, perdeu um pouco da serenidade, mas restaurou em velocidade incrível, pediu a Miph que reacendesse as velas da cozinha enquanto ela fechava as janelas. Ele o fez, e a noite veio á casa novamente:
-O que esta acontecendo? Eu posso ajudar – Se ofereceu o forasteiro.
-Melhor não, ele é ciumento, não gosta de ver alguém alem de mim nessa casa – Lorenta abraçou Miph, os corpos quentes se uniram – Agora vá Miphelangel, o capitão pode te castigar pelo sumiço – Deu as costas, os cabelos rubros moveram, o vestido rodou, e seguiu para o corredor escuro com sua vela fina. Miph a seguiu com os olhos a cada movimento, querendo saborear cada momento. Ela foi ficando mais e mais longe, e no fim, ela virou á esquerda, e sumiu.
Continua...