O Inferno dos Gnomos - Parte 06

A FRIA COMPANHIA DOS FANTASMAS

Miphelangel andou por tempos, na obscura floresta. A cada passo que prosseguia, mais o instinto pedia para voltar “não posso voltar. Preciso me arriscar para vencer, preciso de um ato heroico” lutava. Já não se via os muros de Prata. O ar parecia ter sido domado pelas arvores vestida de folhas coloradas de azul negro, causando um calor insano nas entranhas. O cheiro de mofo ficava cada vez mais forte, confundindo o cérebro. O chão estava fofo de tanta folha, a nota que restava eram os cabelos das arvores em queda tocando o solo.

A cada profundidade á mais alcançada, mais as folhagens choviam em declínio e a escuridão turvava a visão. As frestas de luz iam diminuindo, e o pouco que via da iluminação era como fantasmas flutuando pelas sombras causadas pelas folhas em movimento. O solo se vestia cada vez mais de azul, que já preenchia os joelhos, rapidamente transformado em negro. O estomago de Miph experimentava um frio cadavérico como o espírito do gelo, seus instintos já estavam adormecendo de medo.

Um som de galho quebrado alertou sua atenção “clak”. ”Um gosmento!” torceu Miph. Desajeitado, correu em direção ao Ruído, mas... Nada, só vulto florestal. Rodou os olhos em busca de ver algo, mas as arvores bloqueavam vista, viu apenas o cantar das folhas despencando sem parar. No meio da treva tomada ao ambiente, viu uma luz bem longe, uma luz bem forte. Foi á desespero em direção, empurrando as vestes azuis das arvores do soalho, que alcançavam a metade da sua perna. Retomava o fôlego por segundos, e tornava a correr, a luz estava se aproximando. Ele parou escondido atrás da ultima arvore antes do clarão. Bastou um momento e os olhos acostumaram com o novo tom. Viu do que se tratava.

Era um campo aberto, com um lindo gramada, bem florido, não estava empestado de folhas até as canelas como no resto da floresta. O sol ali, tocava com toda a liberdade, e refletia no lago que havia ao meio do campo “Já vi esse lugar...” desconfiou. Uma casinha de sapê se aconchegava perto da água em baixo do arco Iris. Era um lugar purificado perante o resto da flora que o cercava. Pássaros passeavam, coelhos bebiam água, cervos mergulhavam o focinho na grama. tudo era puro.

Miphelangel pôs o pé no paraíso, e continuou a caminhar. Suas roupas velhas estavam mais sujas que imaginara, as calças estavam úmidas graças as folhas que roçaram suas pernas. Olhou para trás e viu a careta da floresta negra. A nevasca sorriu no coração. Passou entre as pedras destacadas ao verde fofo do solo, tentou apreciar a natureza, mas o conflito da desconfiança o espreitou. Teve uma sensação que poderia estar numa arapuca de passarinhos, distraído com a beleza e conforto do ambiente. “Por que um lugar tão bonito desse no meio da garganta negra?”.

Andou com cautela rumo à casinha velha com ornamentos florais. Subiu as escadas de pau ladeadas de improvisado suporte amadeirado, porem seguro. Passou pela varanda e alcançou a porta que obtinha um pequeno vidro circular, que daria para ver o lado de dentro, caso não estivesse tão sujo. Miph passou a mão tentando limpar, mas não melhorou muito, pois por dentro também estava sujo. Espiou, não dava para ver direito por causa do embaçado, mas alguma chama se movia deixando o ambiente avermelhado “Mora alguém aqui, mas como pode? no meio dos gosmentos?”.

Miphelangel bateu fraco na porta “toc, toc, toc”, esperou por um momento com o arder da expectativa, mas ninguém atendeu. Rodou procurando janelas, todas estavam fechadas. Voltou à porta e bateu mais forte “Toc” antes da segunda batida, a porta se abriu lentamente rangendo o ar. Miph gelou. “ah sim, ela já estava aberta. Foi minha batida que empurrou” deduziu. E ficou em pé diante da entrada analisando o local.

Como a janelas estavam fechadas, um cheiro abafado reinava, e só o movimento de cinco velas, uma a cada canto da sala e uma no centro da mesa, brincavam com a visão. O local mais parecia com uma cozinha. Ao fim do cômodo se via um corredor escuro como o eclipse, que no fim havia uma curva a esquerda que refletia a luz de fogo. Apesar do medo, algo prendia Miph ali, talvez fosse a adrenalina. Puxou uma cadeira dura, de pau, espantou a poeira e sentou-se.

Sua mente dilatava “o que estou fazendo aqui? Não tem sentido algum eu ficar aqui sentado.Por que não me levanto e vou embora? Não há gosmentos aqui! por que sinto que já vim nesse local?”. Balançava-se pra frente e pra traz, a cadeira respondia e o som sutil das chamas das velas também. O lugar se tornava apertado a cada respiração. Esperava ansioso, a resposta do mistério, que se mexia gélido no seu estomago. O inexplicável lhe segurou a cadeira, a solidão lhe agarrou, com sigo veio o isolamento empoeirado. Buscou com a visão a claridade da porta de entrada, mas estava fechada “Quem fechou? Eu? Não me lembro de ter feito isso!”.

A cadeira aonde se aposentava não estava em frente ao corredor, pelo menos isso afastou um pouco os fantasmas. Um ruído foi escutado bem longe, pareciam vozes, uma conversa! Ergueu a cabeça como se ampliasse a audição, e focou os ouvidos nas palavras distantes.

-feche os olhos meu filho, fique em silencio. Relaxe e durma – disse uma voz feminina como melodia, distante do cômodo.

-Sim mãe. Mas não me deixe sozinho, tenho medo dele voltar e não me deixar dormir – soou uma voz fina e arranhada.

- Ele não vai vir hoje, não vou deixa-lo vir. Está protegido aqui comigo – Um beijo foi percebido, algo rígido foi chocado a madeira, um liquido vibrou no ar.

Um silenciar tomou a casa por segundos eternos, passos começaram ser ouvidos pra lá do corredor, e se tornavam mais e mais fortes. O espírito de Miph balançou como um iceberg, a expectativa subiu aos céus, os olhos pregaram no corredor sombrio, sua carne transpirava gelo, as mãos tremiam como relâmpago, os ouvidos aguçaram, o olfato se escondeu. Os passos já tocavam o chão mais proximo, uma luz de fino fogo vibrou na parede do negro caminho. A cada pisada mais próxima, mais forte a ficava a iluminação pecaminosa. Quase perdido no medo, se assustou quando reparou uma moça em frente à boca escura, com uma vela sobre um pires erguido á duas mãos na altura do umbigo. Só seus lábios eram vistos, as sombras tomara nariz acima e os cabelos estavam jogados para trás nivelando a cintura.

Continua...

Pidókka
Enviado por Pidókka em 03/04/2012
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