A ESTÁTUA DE DRUMOND

A E S T Á T U A D E D R U M M O N D

Já meio neurótico por viver na solidão, via no teto do quarto um emaranhado de figuras mutantes. Tudo isso no branco uniforme da pintura do teto, que era só branco. Vá lá... Mais algumas manchas de mofos, sombras...

Na parede da sala uma reprodução pequena do “Guernica” nunca conseguindo ver nele a guerra representada. Sua incapacidade de decifrar essa fantástica obra de Pablo Picasso, universalmente conhecida, reconhecida, pintada com o objetivo de eternizar o clima sombrio resultante do bombardeio da cidade espanhola de Guernica pelos alemães em 26 de abril de 1937, deixava-o meio desconcertado. Sentia-se ignorante, desprezível...

Nas nuvens, nas muitas vezes que deitava no chão, terraço do seu apartamento de cobertura, com suas costas apoiadas na laje, todo o resto do seu corpo solto no espaço, via figuras abstratas que sua mente pintava lá. Tudo fazia sentido em sua mente adoentada.

Sentado num banco de jardim de qualquer parque da cidade, ou no o vaso sanitário do seu banheiro, que tinha piso em granito todo desenhado, ficava a procurar figuras estranhas, as mais diversas que iam mudando de forma, mudando... Encontrava monstros, animais agressivos... Raramente, anjos.

Deitado em sua cama, de manhã bem cedinho, por um bom tempo tomando coragem antes de se levantar para enfrentar o mundo real que lá fora o aguardava, fechava seus olhos. Nessa cegueira proposital, curtia a arte do “caleidoscópio das vistas fechadas”. Premendo os olhos com as mãos, via figuras coloridas a dançarem ante si, antes mirando a luz vinda do vidro da janela.

Certa vez, de pé sobre a mureta que dividia o calçadão da areia da praia, ao lado da estátua de Drummond, tão imóvel quanto ela permanecia. Ao contrário da escultura, não voltava suas costas para o infinito do mar, do céu que lá longe caia n’água. Enquanto isso, Drummond placidamente parecia não estar nem aí para ele ou quem passava. Em total, gélido silêncio, com seus pensamentos e os infinitos deles sobre ele pairando, dele emanando, olhando cego para um mundo vivo que o reverenciava, ao qual não pertencia mais... Pensativo! Isso o perturbava! À frieza dessa estátua não conseguia associar o calor das palavras vivas, profundas filosofias contidas nas poesias do poeta! Por horas a fio olhou o mar sem fim questionando as obras que o Criador colocara dentro e fora dele; uma que via, outra que sentia, sempre olhando pro infinito finito do mar. Também, meio assim, cismado, Drummond naquela estátua para a qual vez em quando olhava de rabo de olho. A frieza dela ante os antagonismos da sua mente já perturbada o perturbava mais, mais... Um poema de Drummond, o “José”, não saía de sua cabeça. Associava-o à história de vida do poeta que conhecia quase tanto quanto à sua. Esse poema era, para ele, especialmente intrigante. Falava de semelhantes e controversas vivências sempre que comparava grotescamente sua trajetória de vida à de Drummond.

Afetado pelas neuroses, frutos da solidão de um dia após tantos dias só, de tantas visões estranhas, de tantos questionamentos não resolvidos, de tentar tantos conflitos existenciais solucionar, de tantos pensamentos absurdos, errantes, de não se encontrar, aproximou-se da estátua de Drummond despedindo-se dela como quem se despedia do próprio. Depois, voltou para sua cobertura à beira mar. Na varanda permaneceu por horas a olhar fixamente aquela obra de arte sentada fria no banco do calçadão. Perguntas mais perguntas fazia silenciosa e inexplicavelmente a Drummond que, mesmo vindas da frieza da estátua, ouvia respostas.

Solidão?... Paranóias?... De tudo um pouco aturdia sua mente traumatizada pela solidão. Num amanhecer chuvoso, fustigado por pensamentos emaranhados qual teia de aranha, levantou-se, tomou uns bons tragos de bebida forte. Chegando à janela, viu seu questionador sentado, eternamente imóvel naquele banco.

Incrível, mas intrigava-o o fato de o poeta nunca mudar de posição nem suas feições ante qualquer fato inusitado que acontecesse. Sob efeito das neuroses e já do álcool em excesso, em seu ébrio e sombrio devaneio a estátua era, ora ela mesma, ora o poeta vivo em carne e osso.

Num impulso incontrolável, ainda de pijama e chinelos, pegou o elevador a descer chegando assim à Atlântica. Já na calçada, encostou-se na parede do seu prédio, olhou pro mar vendo, entre ele e o mar, a avenida calma, vazia de movimento e vida. Só alguns carros passando apressados. A estátua de Drummond ali, plácida, fria, sentada no banco sem lhe dar confiança, olhar e pensamentos longe, impávida, olhos sem os óculos (roubados) a mirarem o mundo vivo, pulsante, sem mostrar saber se tudo que parecia estar vendo existia, se esse mundo ainda existia. Essa paralisia intrigava-o. Sentia da escultura um ar de desprezo, de quem não dá a menor bola pra quem passa, por que passa, se passa... Sentiu o poeta apenas sério, introvertido, morto pro mundo ao redor, muito vivo para seu mundo interno, sempre vivo para o mundo todo e para ele. Isso o incomodou demais.

Numa atitude de; se Maomé não vai à montanha, atravessou a avenida chegando até a estátua a qual reverenciou inclinando-se para frente. Bateu para ela uma continência dizendo: “O que? Roubaram-lhe os óculos outra vez? Acho que estão querendo que aguce mais ainda seus olhos interiores!...

Sabe! Há muito conheço seus poemas. Li críticas... De repente o instalaram aqui, bem em frente ao meu apartamento. Minha curiosidade sobre você, sua obra, sua vida, aumentaram. Passei a pesquisar exaustivamente no computador chamando minha atenção o poema José... “José, para onde?...” Dizem até que nele, você fala de você, quase um depoimento. Lendo-o com calma várias vezes, sabendo do seu apego à terra natal, dos seus compromissos e fama que já não permitiam volta, acho que têm razão. Sentiu-se sem norte!

Aliás, Drummond, para mim os poetas não entendem as palavras dos homens comuns! São anjos, vivem nas nuvens. Só entendem as palavras da natureza. Por isso são tão contemplativos, como tal, sós, mesmo num mundo de sete bilhões de habitantes, sós...

Também sou só, mas não sou poeta! Não constitui família, nem tenho familiares. Nunca me casei ou amasiei. Nem tive filho...”

Silêncio profundo, olhar de quem espera resposta. Decepção!

Cinco da manhã, calçadão ainda vazio de gente, praia deserta..., trânsito ficando intenso. Dirigiu mais algumas palavras à estátua exaltando a grande obra do poeta mineiro de Itabira, como se seus poemas exalassem da estátua. Tomando a atitude de quem se despedia do poeta com uma longa conversa, meio ébrio, recheado de paranóias, tentando terminar a longa despedida, disse: “Ainda vou lhe encontrar, mestre! Preciso muito de umas respostas suas a perguntas que meu íntimo em vão não para de fazer, sem encontrá-las. Trocar de idéia consigo, poeta eclético. Que falou do amor à exaustão e sob todas as formas e intensidades, do menino de dentro, da sensualidade da mulher, dos desvarios do ser, da imensidão do nada, do ser concreto ao abstrato, das pedras nos nossos caminhos, da força da solidão, da indecisão atônita e involuntária do José sempre perguntando; “José, e agora”? E no fim, seu José nem sabe para onde vai, como vai, quem é... Só sabe que vai! Porém, é destemido! Por isso não lhe importa; nem se vai, nem para onde vai, nem como vai... Só vai! É como me sinto, meu caro, como o seu José, que sei bem que é você, Drummond, que queria ser e não ser, queria tornar à sua Itabira, à sua Minas... Era todo Minas, meu poeta! Mas, como você disse no poema, “Minas não há mais”, e realmente àquela altura já não havia mais, ficara no seu passado quando ainda anônimo. A essa altura já havia todo o mundo e você! Já era universal, já não pertencia só a você! Não era mais só você e sua Minas, sua Itabira. Já era você, poeta eclético, sua obra e o mundo! Será que entendia que já ia longe demais, caro poeta?

À parte das interpretações dos competentes críticos literários, de outros poetas, etc., etc., também tirei minhas leigas conclusões:

Lendo Ausência, senti quando diz: “A ausência é um estar em mim...” E no fim: “Ninguém a rouba mais de mim”, sua lástima de estar ausente de onde viveu sua infância, juventude, esses dois estágios importantes, bases da vida dos seres, que não retiramos de onde os vivemos, estamos sempre lá. Digo isso por mim. Pensa que consigo me esquecer das minhas? Deixou descuidada e inconscientemente transparecer esse vínculo com a terra natal em A Flor e a Náusea ao dizer, dissociando essa parte do todo: “...Vomitar esse tédio sobre a cidade / quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado / Nenhuma carta escrita nem rebeldia / Todos os homens voltam pra casa / Estão menos livres mas levam jornais / e soletram o mundo...” E muito interessante é analisar à parte do que conscientemente quis dizer em Confidências do Itabirano, o final: “...Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói.” É claro que fotografia na parede não dói, mas nas paredes da alma, do coração pode doer profundamente. Amargou e desandou saudades. E Itabira é ferro. Aquele da calçada que, se tornado em aço, pode ser imantado, e se imantado atrai para sempre. Penso que era o alvo do imã Itabira. Ao encontrar a poesia das palavras, passou a ver a poesia das coisas, das pessoas, da natureza..., como secundárias. Falou do tempo. Nutriu sutilmente o poema Caso do Vestido, com um arroubo da sua libido: “... quede os olhos cintilantes? / quede a graça do sorriso, / quede os olhos de camélia? / quede aquela cinturinha / delgada como jeitosa? / quede pezinhos descalços / com sandálias de cetim...” Protestou, até chorou pela natureza judiada, descaracterizada pela força da ganância de homens sórdidos em Adeus a Sete Quedas. Confessou timidamente em Inconfesso Desejo, seu inconfesso desejo por uma mulher sem dizer qual era. Descreveu em Amor e Seu Tempo, com a clareza de quem sabia, as delícias verdadeiras do amor maduro, muito além do amor verde, ainda excessivamente romântico... Agora, xingar o pobre pernilongo de filho da puta, foi surpreendente, inesperado. Há, há, há... Beatles? OB-LA-DI, OB-LA-DA... I don’t know... Por todas essas suas facetas e muito mais que ainda desconheço, volto a afirmar; você foi o mais eclético poeta que conheci. Não houve fato ou pessoa relevante à sua época a lhe passar em brancas nuvens. Ganhava logo um artigo, um comentário, um inteligente poema numa linguagem nova, revolucionária...

Mas, voltando ao “José”, tenho a dizer que, se o concebeu antes ou depois de tantos outros poemas reveladores nas entrelinhas, não sei, só sei ter sido esse nascido para definitivamente revelar-se. Revelar definitivamente sua necessidade de retornar à terra natal, o atestado de sentir-se sem lar, inseguro no mundo. Ainda disse pro coitado do José: “Se você cantasse, se você gemesse...” Quanta contradição! Por que não cantou e não gemeu quando teve vontade? Aliviaria bastante! Talvez, se chorasse...

Mas, eu também tenho me sentido muito assim, caro poeta!

Sou só, estou só... Parece até que sou de outro planeta... Mas não, sou apenas, como você, de outro lugar distante! Francamente? Não sei mais o que fazer aqui nesse lugar distante da minha já quase esquecida “Minas”. Há tanto tempo sozinho... Gostaria de morrer lá!

Por isso me sinto angustiado, solitário demais. Já não sou mocinho para freqüentar lugares agitados, participar ativamente da pulsação da vida dessa gente nova. Sou bem aposentado, tenho dinheiro, muitos bens. Completo amanhã setenta e três anos de solidão...

Mesmo assim já se acabaram; minha água, meu café... Estou sem parede para encostar, mesmo nua. Vazio por dentro e por fora, só, ébrio, perdido de mim sempre tentando me encontrar... Quero saber de você, Drummond, como o seu poema terminaria se seu José fosse anônimo como eu, um joão ninguém sem rumo, desnorteado, inseguro, deslocado no mundo, que nem soubesse por que existia? Se tivesse a certeza do agora, do onde, do para onde?... Se não ficasse tão indeciso ante suas perguntas que o crucificaram na cruz da incerteza? Se não o houvesse deixado tão atônito, perdido?... Que crueldade! E consigo mesmo, poeta! Se acontecesse o inverso, ele lhe perguntasse: “E agora, poeta?...”

Me diga! Se ele cantasse a valsa vienense, resolveria o que? Não sei como isso poderia cultivar o espírito de um homem tão rude, perdido na imensidão da sua mente perturbada... Se José não fosse destemido não se importando aonde e como chegaria, nem se tinha uma parede mesmo nua para se encostar... Se tivesse o café, a água para fazer seu café... Se a luz não houvesse apagado...

Ah, a teogonia... Gostei dessa! Um conjunto de idades a formar a mitologia de um povo... Ou seria o Poema de Hesíodo? Pouco importa, da no mesmo!

Será que não bastava um só, como eu acredito? Agora tem mais você, Drummond, o próprio José falando assim do José, mostrando-se atônito ante tanta indecisão, com imensa vontade de achar o caminho, de encontrar sua sociedade se na verdade quem se fez tão indeciso e conhecido foi você mesmo, meu caro? Afinal, não foi você que se perguntou: “E agora?...” Confirma! Seu José é você se procurando, não é? Fala a verdade, não é?

Ninguém o obrigou a criar uma obra universal, eterna, adorada, amada mundo afora!

Em meio ao medo e insegurança que sentiu, oriundo da fama prematura, sempre crescente da sua gigantesca e revolucionária obra, das homenagens de um mundo elitizado e culto que se rendia à ela e ao seu carisma, às filosofias profundas das suas palavras nada rebuscadas, fáceis de entender, do universo humano a consumi-lo sem lhe perguntar se podia, e até onde, tirou do José os caminhos, ou seja, tirou-os de você! E sem os caminhos certos, o seu José nunca se achará meu caro poeta, e assim continuara se questionando sempre, sempre... Como você... Como eu! Não vê? Seria mais fácil esquecer sua terra natal entregando-se incondicionalmente ao mundo que o descobriu, que Deus para você criou, que dele fazia parte, que agora o consome porque é outro o mundo que construiu dentro do mundo que o Criador lhe deu?

Agora, se foi assim, deixando-se tão perdido, indeciso que encontrou forças e respostas às suas inseguranças, também é assim que quero resolver as minhas. Questionou-se daquela forma criando seu “José”, e se respondeu com as dúvidas do mesmo. Portanto, poeta, mesmo com dúvidas, tem respostas. Será que também poderei tê-las?... Drummond, preciso muito saber se sem a fama teria coragem e determinação para encarar tudo isso, e com determinação sobre humana, encarar seu real mundo, esquecer os “e agora”, ter a certeza do “para onde”. É muito importante para mim, neste preciso momento, para que possa tentar dar sentido a essa minha vida insossa, irreal, sempre fantástica, precisa como o horário inglês, constantemente a mesma, sofrida pelas incoerências, pelas certezas das incertezas dela... Dessa vida sempre a mim mostrada, por mim não vivida. Sempre por mim sonhada em sonhos tão possíveis, nunca alcançados que a curta vida que me resta não me dará chance de concretizar...

Conta-me como construiu a sua depois do José, se é que a construiu toda antes de se tornar em estátua!

Eu também me procuro, poeta! Obstinadamente me procuro como você se procurou! Minha relação consigo vem daí, da nossa semelhante vida solitária, pois você, poeta, apesar de cercado pela humanidade, se sentia só, principalmente quando fez desabrochar de dentro do seu âmago sua necessidade de retornar ao útero. E tentou disfarçar essa necessidade num personagem que protagonizou; o José! Assim, mostrou que se sentia só, muito só, girando atônito no meio do mundo, se perguntando a cada instante: E agora?... Para onde?... Buscava como um bebê o útero materno: Sua Minas?!

Eu também quero voltar à “minha Itabira”, à “minha Minas”... Mas, como as suas, elas não existem mais. Sua Minas são muitas... Minha “Minas” também são muitas. Já não sei como encontrar a “Minas” que é meu útero. Simples, pacato, sem mídia, sem consagração, sem a poesia no papel; só a minha própria “Minas”. Suas montanhas, suas flores, suas paragens, sua gente simples, sua calmaria... Meu eu infantil, juvenil...

Não foi como o José!... Ou foi?

Só sei que você, com sua genialidade, mostrando sem temores suas firmezas e fraquezas, tornou-se alguém importante para muita gente. Acordou muitos Josés mundo afora. Criou e se tornou num mito. Eu não. E eles hoje, como o seu, devem estar procurando as respostas que nunca encontrou, e teimoso morreu se procurando, se perguntando... “E agora”? O pior é que, sendo sua obra eterna, eternamente em sua obra continuará se perguntando: E agora?... Imagine eu que nem pra mim consegui me decifrar, nem concretizar a vida... Até agora só a forjei?

Sou uma abstração de mim, poeta. Você não, conseguiu a concretização do seu abstrato. Essa é a grande diferença, isso é o que procuro mirando-me em você, na grandeza que exala da sua obra, em sua filosofia... Poeta, não tem problema! Se não puder responder agora às minhas perguntas, protelarei suas respostas com minha ausência. Tomarei do seu José a coragem e, como ele, partirei sem rumo. Nem quero saber se vou, como vou, para onde vou... Nem quero mais tentar responder ao seu: “E agora”, se é que existe resposta. Vou continuar a ser abstrato, viver de utopias até que me responda a tudo!

Mesmo sem permissão do Pai, tenho que me encontrar. Saber realmente quem sou, porque sou, porque estou... Protelarei as respostas que de você quero ouvir até lhe encontrar e consegui-las, nem que seja no outro mundo para que me descreva como se descreveu transmudando-se em José. É inteligente! Me fará também protagonista de uma história similar! Sabe! Sempre me procurei nas fantasias da minha mente, agora só quero me encontrar no contexto universal, verdadeiro, o verdadeiro ser que trago dentro. Do espiritual ao concreto. Aí sim, terei meu eu somado, completo: Finito e infinito... Carne e alma... Existência e fim.

Porém, Drummond, assim como está agora não poderá me responder a tanta dúvida, pelo menos aqui nesse plano. Estátua não fala, fala? Mas, no outro mundo, quem sabe?!...

Ah! Tem mais uma coisa que me intriga, poeta! No final do seu “E Agora, José”, diz assim:

“...Sem cavalo preto / que fuja a galope / você marcha, José! / José, para onde?”

Quis dizer que, mesmo depois de tantos questionamentos de como se comportaria em situações as mais adversas, dúbias, ainda continua dúbio? Se assim continua, eu, como fico sem nada do que teve, e muito menos? Você, autor do mais bem escrito e fantástico poema brasileiro de todos os tempos, Máquina do Mundo, foi o grande, imortal poeta, conhecido, reconhecido, respeitado, venerado, consumido... Teve nos carinhos do seu público um afago. Agora eu, um pobre desconhecido, esquecido, sozinho no mundo...

Só que seu mar secou, o meu, não!”

Dito isto, desceu para a areia, nela caminhou até sentir a fria água a lhe tocar os pés agora descalços. Sempre virado para traz, de costas para o mar, caminhando já dentro das águas sem parar de falar para Drummond frases sem nexo, continuou a despedida acenando para a estátua que lhe virava friamente as costas, indo sempre para dentro, para dentro..., retornando nunca mais.

AUTOR: PEDRO PAULO SALOMÃO (PEDRO LECUONA)

PEDRO LECUONA
Enviado por PEDRO LECUONA em 03/04/2012
Código do texto: T3592691
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