Ausência!! - cap.1

Aquele ruído todo da festa estava deixando-me atordoada, não conseguia pensar direito, tampouco ouvir o que tantas pessoas teimavam em falar, era com muito esforço que estava ali naquele lugar, não via a hora de poder escapar de tudo aquilo.

Por um breve momento me vi sozinha, sem ninguém insistentemente a meu lado, foi o suficiente para me desvencilhar e sair por uma porta lateral.

A casa era maravilhosa, encantadoramente mobiliada e aconchegante, mas aquele tipo de reunião me afligia, não queria estar ali. Saí pela porta sem que percebessem, atirei longe os sapatos de salto alto, que por sinal, estavam massacrando meus pés cansados. Fui criada como bicho solto, não gostava destas convenções que a sociedade exigia, mas era por uma boa causa e resolvi que ficaria até quando conseguisse. Foi meu limite, uma conversa enfadonha, entediante, ainda bem que não me viram fugir.

Fui me afastando aos poucos, estávamos próximos a uma floresta, e confesso, esta me atraia muito. Sempre fora assim minha ligação com a natureza, uma atração impossível de se controlar.

A cada passo que dava em direção a ela me sentia cada vez mais feliz, sabia desde minha infância, que minha intuição me ajudaria de alguma forma, bastava apenas segui-la e acreditar nela. Senti falta somente de uma roupa mais quente e prática para andar por ali, aquele vestido de festa não era de modo algum apropriado para uma aventura destas, mas paciência, eu não havia planejado este passeio antes!

Andei algum tempo silenciosamente por entre as árvores, a luz da lua cheia conseguia clarear fracamente o caminho, pois os galhos e folhas se entrelaçavam no alto impedindo que os raios da bela lua passassem livremente.

Sabia que as pessoas não dariam por minha falta logo, então não precisaria me preocupar se sairiam à minha busca.

Estava tão feliz ali, a energia que sentia me deixava relaxada, parei em uma clareira, olhei para o alto avistando as estrelas. Que maravilha ter este privilégio, esta satisfação. Não muito longe dali, ouvi o cantar de uma coruja que me alegrou mais ainda. Cheguei a recordar de ter lido em algum lugar sobre sua ligação com a deusa grega Atena, uma ave símbolo de sabedoria, e por muitos povos, considerada com uma ave de mau agouro. Sentia-me observada por ela, mas não me amedrontava, não havia motivo. Que mal ela poderia causar-me? Coitada, tão pequenina e tendo que carregar uma fama destas! Isto era injusto.

Sentei-me no chão, ali mesmo na clareira, aos poucos fui relaxando mais e sentindo sono. Não quis voltar para casa com todo aquele barulho, decidi passar a noite ali mesmo, cheguei perto de uma árvore, juntei algumas folhas para forrar o chão e fazer uma cama. Agradecia enormemente a meu pai por ter me ensinado tudo isso, desde pequena o acompanhava nas aventuras dentro da floresta, e sabia como me virar. Sim, sempre haveria os riscos de algum animal se aproximar mais, mas me sentia tão segura ali que não conseguia pensar nessa hipótese agora. Pelo menos, o vestido era longo e me manteria aquecida durante a noite.

Os sons que o silêncio da noite trazia até mim, deixavam-me em plena paz, me transportavam até uma infância bem vivida, alegre e mágica. Aquele era meu mundo, minha razão de viver, nada mais era tão importante quanto aquele momento de saudade e até mesmo solidão.

Há muito não me sentia assim, tão relaxada, tão tranquila. Toda a agitação diária fazia com que as pessoas deixassem de viver com simplicidade. Eram tantos os afazeres, a correria, que nos afastava de nossa própria essência. Hoje eu tinha a certeza de que estava recarregando a minha. Aquela velha árvore me doava um pouco de sua magia, de sua vida e encantamento. Foi pensando nisso que acabei adormecendo...

Passos se aproximavam, pisando com muito cuidado para que não despertasse de meu sono, ele aos poucos foi chegando perto. Pressenti e acordei, mas não quis denunciar isso, mantive-me quieta, na mesma posição. Apenas aguardaria para ver qual seu propósito. A coruja cantou novamente fazendo com que ele parasse hesitante, ai não me contive mais, movi-me rapidamente denunciando que tinha consciência de sua presença e antes que desse alguns passos para trás. Recuperado do susto ele se aproximou e veio sentar-se a meu lado sob a velha árvore.

Lembra-te de quando nos encontrávamos aqui? Lembras das promessas que fizemos neste mesmo lugar? Agora é a hora de cumpri-las, é chegado o momento de voltar ao seu mundo anterior. Estás pronta para a viagem?

continua...

SanMara
Enviado por SanMara em 31/03/2012
Código do texto: T3587494
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