Viver sem sentido
Enquanto viver eu posso não vou deixar que matem minha ilusão ainda que seja a ilusão de que eu vivo e não pela mesma razão que me destruo. Eu vivo por que a vida insiste em encher os meus pulmões, a água me hidrata, o alimento recompõem meus tecidos e meu coração ainda mantém o mesmo ritmo. A máquina engenhosa e sofisticada do meu corpo ainda não apresenta a ferrugem do tempo sobre ele. Embora o cansaço as vezes me faz sucumbir na ideia de partir, a vida é que me guia. Dias, horas, meses e anos, assim contamos o tempo e nos apressamos em construir, reconstruir, como se tivéssemos que deixar nossa marca a todo custo. Queremos segurar o tempo em nossas mãos, mas ele se esvai aumentando a angústia daquilo que deixamos escapar. Vaidade, vaidade pura a trilha que escolhemos; trampa, broma, faz-de-conta. Os contos que narramos na ânsia que exploramos da vida, do tempo, do espaço que moramos, a casa, a rua, a calçada; nossos pés, nossas marcas, nosso odor, é disso que vivemos sem saber por que morremos. Fantasia, alegoria, miragem, é isso que temos da vida e essa é a troca que fazemos, nosso holograma se reproduzindo pelos séculos eternos, por isso temos a impressão que a vida da voltas e sempre termina no mesmo lugar onde começou. Quem me dera ser personagem da fantasia de Gabriel Garcia Marques, na Macondo ilusória antes tão promissora e agora espectro fantasmagórico, ao menos assim teria conhecido qual foi meu meu início e como foi meu fim.