Nanquim

Meu nome é Madison, mas prefiro ser chamada de Nanquim... esse é o apelido que ganhei do meu pai, possivelmente porque ele achava que eu tinha olhos tao bonitos que pareciam desenhados. Porém isso é algo que ele pensava, já eu não gosto muito da minha aparência, e com certeza não sou tão bonita como qualquer desenho que ele possa ter criado.

As vezes eu sinto muita saudade dessa época, mas agora já faz tanto tempo que não vejo meu pai que o seu rosto em meus sonhos é quase um borrão.

Todas as pessoas da vila onde eu moro me olham com inveja, como se eu fosse uma pessoa especial de alguma forma, mas eu não entendo o que elas enxergam, eu sou uma menina muito comum, com cabelos longos que normalmente são presos num grande rabo de cavalo no alto da cabeça. Meus olhos são pretos, e meu corpo é magro e esguio, e eu sou bastante alta pra uma menina da minha idade.

Nasci numa noite gelada, quando não havia ninguém pra ensinar sobre nascimentos, bebês e assuntos relacionados.

Minha mãe sempre me disse que ficou muito assustada naquela noite, mas meu pai foi muito valente e ficou do lado dela o tempo todo, dando suporte e tentando acalmá-la a cada contração.

Meu pai trabalhava ao ar livre e sempre trazia para casa tudo o que poderia ser utilizado para desenhar. Para criar desenhos que ele considerava que poderia ser tornar especiais, ele pegava pequenos pedaços de carvão com os quais ele criava sua própria tinta nanquim. Acho que ele gostava mesmo era do processo de ver nascer algo completamente diferente do que ele via no seu dia-a-dia, já que ele nunca conseguiu sustentar minha família só com desenhos... na verdade ele era um mercador andante... passava muito tempo longe de casa.

Minha mãe é uma das mulheres que verificam a qualidade de tudo o que é produzido por aqui, é importante manter a qualidade dos alimentos que meu povo exporta, já que essa é a principal fonte de renda da cidade. Tudo tem que ser avaliado com muita calma e só uma batidinha já inutiliza o alimento. Claro que minha mãe nunca coloca comida fora. Na verdade ou ela leva pra nossa casa ou doa para alguma das casas de mendigos da cidade. Ela sempre cozinhou muito bem e eu lembro que meu pai se orgulhava muito da nossa família e sempre tinha visitas em nossa casa.

Cresci numa casa simples, mas eu era feliz até o dia da grande seca...

Acordei cedo e corri para fazer minhas entregas. Desde a grande seca tudo mudou e eu agora acordo cedo e caminho até a cidade vizinha para vender tudo o que eu consigo... desde as peças de artesanato, até os lindos desenhos que meu pai ainda tem.

Nessa vida eu nunca tive medo e por isso me meti em muitas enrascadas...Sei que alguns podem dizer que também não tem medo, mas acho todo mundo tem algum medo daqueles que paralisa a gente e faz com eu nosso cérebro pare de funcionar racionalmente. A questão é que eu não sei de que eu tenho medo pois a vida ainda não me mostrou nada que me paralisasse de verdade.