Etérea
Velha senhora de voz rouca e pesada surgia na orla durante a Lua Cheia. Cheirava a amora silvestre, fruta selvagem. Cheirava a mofo muito antigo e cultivado. Imaginei que viesse do centro da floresta e que lá morasse junto às árvores vivas. Talvez existisse desde o tempo em que a vitalidade do verde era física e cantava com as vozes claras das dríades de prata e âmbar nos cabelos.
A velha trajava uma veste cinza de lã muito rota e trazia um branco bondoso nas feições angulosas. Nas mãos havia sempre alguma rara planta de poderosos efeitos contra o abismo da alma. Sobre este, a feiticeira (pois o era) conhecia bem. Conhecia o dentro dos outros. Das indecisões. Não sumisse com a noite, poderia mostrar-me a verdade.