Perseguição

Faz exatamente três meses que eu a persigo. Espero ela se distrair e me aproximo devagar, sorrateiro e leve como uma brisa, mas ela é bem mais ágil do que imaginei.

Mais uma vez perdi, ela se foi e eu fiquei aqui preso, oprimido e desapontado. O caminho que tenho que percorrer é longo, mas valerá a pena com certeza. Só preciso acertar a hora certa do relaxamento dela, aquele momento que a pessoa se deixa levar e acaba se soltando mais. Falta pouco, ela está mais receptiva, posso sentir.

Passaram se dias e não tive uma oportunidade se quer, mas eu não desisto. É a minha liberdade que está em jogo e não ficarei só no quase.

Estou ansioso, hoje o dia está do jeito que ela gosta. Sinto-a mais introspectiva. Talvez ela esteja triste ou quem sabe muito feliz para demostrar. Eu a analiso de longe, muitos caminhos nos separam, mas tento entender o que os olhos dela exprimem. Ela olha a chuva cair através da janela. Não tenho sucesso, misteriosamente ela me chama, fico ansioso. Estou seguindo o caminho estreito que me levará aonde devo morrer, para nascer. Estou eufórico, deslizo devagar e vejo como sou sortudo. Muitos outros estão encarcerados, alguns mostram os dentes para mim, outros me jogam beijos e a maioria é indiferente. O caminho está largo agora e posso tocar a face dela.

Sussurro um obrigado e vejo um misto de sorriso nos lábios tristes dela. Acabei de morrer, estou aliviado. Você pode me contar como fiquei despois que renasci? Sou agradável de ler? Transmito que sentimento a você? Da minha parte posso dizer que o caminho entre a mente e a mão da escritora foi demorado, tive que insistir no pensamento, me tornar algo fixo, ser chato, mas eu consegui. Morri como pensamento e renasci em palavras.

Estou feliz, estou realizado. Minha existência foi eternizada, mesmo que eu não vá para um livro, ela foi eternizada. Não sou mais uma ideia presa. Estou livre, bem livre.

FIM

Valéria Oliveira
Enviado por Valéria Oliveira em 09/02/2012
Código do texto: T3489746
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