ULTIMO DESEJO
Último desejo
Quando eu morrer, quero ser carregado no lombo de um burro, enrolado em uma rede amarela, com pintas vermelhas, não quero choro, nem vela.
Coloquem-me a peruca mais bonita para relembrar dos belos cabelos que tive na infância e que caíram com o passar dos anos.
Quero trapezistas, palhaços e artistas. Um carro com locutor gritando: lá vai o morto, sendo carregado no lombo do burro.
No enterro, não quero que ofereçam café, quero uma churrascada, refrigerantes e muitas cervejas geladas, ah!E também uma roda de samba com músicas feitas em minha homenagem.
Quero que minhas esposas se abracem e gritem: ele foi um bom pai, um eterno namorado, um excelente marido e um grande amante, viva o morto e sua conta bancária.
Na rua, quero bexigas, balas, bombons e chocolates para distribuir para a garotada. E as senhoras com faixas e cartazes dizendo: um belo homem e um bom adubo para ser enterrado lá em minha casa.
Não quero luto, quero que decretem feriado nas escolas, alunos sejam dispensados e as firmas mandem seus funcionários para a casa do morto para participarem da última churrascada.
No cemitério, quero que enfeitem os túmulos com rosas, vermelhas, que depois do enterro elas sejam distribuídas para as mulheres presentes. Quando forem me colocar na cova me desenrole de minha rede e que me joguem na terra a rede podem dá-la para o primeiro preguiçoso presente, espero que não haja brigas.
Depois, não quero que comentem do enterro e nem do burro, só da festa e da bela churrascada que foi dada.
Ass: O morto
Paulo Pereira
Associação Cultural Literatura no Brasil
paulo.pereira13@isbt.com.br