Uma flecha tirana

Ártemis esbravejou contra mim, apontou sua flecha e fui obrigado a me retirar com o escudo erguido. Ela não admitia homens em seu acampamento, suas guerreiras sabiam disso, mas que culpa tinha eu de ter me apaixonado pela mais bela de suas seguidoras? Fugi pela floresta correndo velozmente e diminui o ritmo apenas quando me senti seguro. Enquanto fugia da fúria de Ártemis, pensava em que eu poderia fazer para conquistar aquela guerreira, uma jovem de cabelos ruivos em trança e olhos negros brilhantes. Praguejei contra Eros, não havia dúvidas de que isso fora mais uma de suas obras. Escapei da flecha da deusa da lua e da caça, mas fui atingido pela seta do filho de Afrodite. Com esse pensamento, ocorreu-me de procurá-la, só ela poderia me socorrer. O difícil mesmo seria encontrá-la e o mais provável era que estivesse no Olimpo, para onde decidi ir. Aos pés do Monte comecei a longa escalada, os elfos do caminho me olhavam com curiosidade e sátiros saltitavam quando me viam; algum tempo depois cheguei a seu templo, era perfumado, belo e enrustido com pedras preciosas, destacando-se o rubi dentre o mármore branco-perolado. Pude distinguir a sombra da deusa por trás de uma cortina, sua silhueta já encantava, mas estava acompanhada de alguém alto e forte. Suas sombras fundiam-se, tornavam-se únicas em movimentos rápidos e delicados. Ares, o deus da guerra e amante de Afrodite não poderia me ver ali. Assustei-me com a possibilidade de ser morto e deixei meu escudo cair no chão fazendo um ruído abafado, porém audível. Estanquei os pés, pareciam concreto, não me obedeciam. Clamei por Hefesto em vão. As cortinas se abriram, o ar encheu-se de ozônio; Ares, despido e raivoso, tomou sua espada em punho e sem sequer perguntar nada decepou minha cabeça, fazendo-a rolar Olimpo abaixo. Hoje minha alma vaga à procura da guerreira pela qual me apaixonei, e até que eu a encontre não viajarei no pequeno barco de Caronte.

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