A escolha do amado
 
                                                                                     
                        Vivia com um lutador de luta livre. Aprendera com seu namorado que a vida era uma luta constante e árdua e que   o mais forte  sempre vence. E realmente o seu namorado era a prova viva dessa   luta.  Era um herói, campeão,  e ganhava muito dinheiro.   
                        No entanto, sonhava com seu antigo colega de Faculdade. O  Marcos era tão doce,  não aderira  ao sistema reinante e  perverso da sociedade. Sempre o mais forte submetendo e humilhando o mais fraco. Tornou-se tão avesso a isso, que vivia como um místico  numa praia deserta na ilha de Marajó, no Pará.  Já acordava entoando seus mantras. Dedicava-se à música marroquina, predominantemente árabe, e já começava a ficar conhecido no meio musical do Norte.
                        Marcia suspirava, lembrando-se de Marcos.  Teve um rápido namoro com o músico e se encantara com a vida simples, pura e  íntegra que ele levava.
                        No entanto, sem forças para mudar de rumo, lá estava ela num ginásio de luta, para ver seu amante em mais uma peleja. A gritaria reinante era insuportável. Marcia sentia que não iria mais aguentar  uma vida vazia, sem espiritualidade, como vivia o Armando. Só pensava em glória, vitórias e ganhar muita, muita grana.
                        Aquilo não era vida para ela. No pouco tempo que ficara com Marcos, percebeu nitidamente a superioridade do homem espiritualizado, tão diferente do Armando.
                         O lutador era tão machista, tão impetuoso e agressivo,  que o seu sexo, apesar de bom, parecia mais uma luta desvairada.  Parecia que  ele desejava mesmo era, ao final, sangrá-la.
                        Era tão orgulhoso e vaidoso que chamava o seu pênis de Vergalhão!!!
                        E ficava atiçando a Marcia: “Tá com saudades do Vergalhão?  Gosta do Vergalhão? Quer ver o Vergalhão?
                        Enquanto fazia amor com o Armando, no primeiro motel que encontraram, depois de mais uma luta, Marcia pensava seriamente em procurar o Marcos, que era sinônimo de paz, de humanidade, de generosidade. Um verdadeiro homem, superior à média, que sabia encontrar o sublime  canto da vida. Seu dom musical era um deleite para Marcia. Estava decidido,  saindo do motel, ela fugiria para a ilha de Marajó  ao encontro do Marcos. Deixaria o grosso do Armando.
                        Comprou passagem só de ida,  foi apenas com a roupa do corpo. Já tinha vivenciado o período bonito do “paz e amor”.  Queria se reencontrar, não tolerava mais violência, nem machismo, lutas, ganâncias por dinheiro. Ia em busca de paz, de poesia, de música.
                        Riu muito com ela mesma, dentro do avião,  imaginando a grossura do Armando,  ao apelidar o seu membro de “Vergalhão” .  No entanto,  teve uma ideia travessa:  iria perguntar ao Marcos se por acaso ele também apelidava o seu pênis. E pensou: - do que ele me disser, decidirei se fico com ele ou se volto para o Armando. Ainda tinha uma ponta de indecisão.
                        Marcos, avisado da chegada da amiga, já estava  no aeroporto de Belém, vestido com uma leve túnica e de sandálias. Transpirava tranquilidade.
                        Marcia, inesperadamente, faz de chofre a pergunta, cuja resposta decidiria sua vida.  – Marcos, me desculpe, mas preciso lhe perguntar algo muito sério! – Pergunte, Marcia, não tenho nada a esconder. – respondeu placidamente o Marcos. – Por favor, me diga sem pensar, você dá algum apelido para o seu pênis? Marcos nem titubeou:  se tivesse que dar  um apelido, seria bem amoroso,   o chamaria  de pincel!
                         Era tudo o que ela queria ouvir.         Marcia, com  sorriso largo,  dá um longo abraço no  Marcos, e lhe diz, ternamente: - Encontrei o homem da minha vida...      

               
Nota do autor:       Antigo conto de Artur da Távola, inspirou-me a criar este texto,  cuja  semelhança é a referência ao apelido do pênis. No conto do Távola, o pênis do personagem dele tinha o apelido de “craque" e a história, evidentemente, é bem outra. Os apelidos do meu conto são reais,adotados por  dois colegas meus, o que sempre  considerei  algo inusitado.