OS VÍRUS DA MODERNIDADE

(Texto publicado e cedido a uma ONG,para representação em peça de teatro infantil)

São Paulo, outubro de 1997.

Zequinha sempre foi muito esperto.

Desde muito pequenino, sempre gostou de aprender tudo!Gostava de ler sobre lugares diferentes, ouvir estórias contadas pela vovó e viajar através das enciclopédias, aonde entrava em contato com a realidade do mundo visível e invisível.

Queria ser cientista.

Algumas coisas o deixavam muito curioso, como por exemplo essa estória de “vírus”.

O que seriam afinal, esses “monstros invisíveis” tão poderosos? Quase todas as doenças do “seu mundo” atribuíam-se a esses seres.

Já entrara em contato com alguns.Certa vez todo “emberebado”, disseram-lhe:

-Zequinha, é o vírus da catapora! E outra vez:

-Zequinha é o vírus do sarampo!E mais ainda:

-Xi Zequinha...o vírus da gripe te pegou!

Era assim com ele e com seus amiguinhos.Seria possível acabar com esta estória de vírus?Zequinha, todas as noites, lia a esse respeito e acabava adormecendo cada vez mais intrigado.

Certo dia...

-Acorda Zé, está na hora de viajar, vamos finalmente desvendar os mistérios do mundo invisível...

-Vovó! O que foi?

-Zequinha, já chegamos: Estamos na VIRUSLÂNDIA!

-O que é isto vovó?

-É a cidade dos vírus.Aqui você poderá aprender muito sobre eles.Aproveite e pergunte tudo o que puder,e lembre-se: Será uma oportunidade única e inesquecível.

Zequinha e sua vovó caminhavam maravilhados...

-Olá Zequinha, tudo bem?

-Quem é você?

-Sou o vírus da catapora.

-Eu não te conheço!

-É Zequinha, mas eu te conheço.Não faz muito tempo e eu “te peguei”, mas logo fui derrotado pelo teu exército.

-Meu exército? O que é isto?

-Teu exército de soldados -os anticorpos- que aliás são muito fortes.

-Sr. vírus da catapora, por favor, me explica esse negócio de vocês serem tão pequeninos e tão poderosos...

-Zequinha, nós vírus, vivemos numa grande comunidade chamada VIRUSLÂNDIA.Somos microscópicos e infinitos, mas nos multiplicamos rapidamente, infectamos os seres humanos,e não somos atingidos pelos antibióticos.

-E como vocês “pegam” as pessoas, sr vírus?

-Ora Zequinha, essa é a nossa única finalidade!Atacamos principalmente as pessoas com exércitos fracos, ou seja, os pequeninos, os mal-alimentados, os mais debilitados, como os idosos, por exemplo...

-Você não vai pegar a vovó!

-Calma Zequinha, ele já me “pegou”, há muitos e muitos anos atrás, mas o meu exército estava bem preparado,e comigo, e ele não teve chance...

-É Zequinha, mas infelizmente não somos mais os mesmos.Nós, os vírus da catapora, da gripe, do sarampo, da caxumba, da paralisia infantil, estamos em extinção.Nosso batalhão foi derrotado pela CIÊNCIA.

Zequinha estava cada vez mais entusiasmado, afinal, esse era um assunto que lhe dizia respeito.

Ciência...como assim, sr. Vírus?

-As vacinas Zequinha.Os seres humanos deram um jeito de fortalecer o seu exército de anticorpos através das vacinas, e estamos sendo liquidados!Os tempos são outros, estamos quase no século vinte e um. Dias contados, Zequinha!

-E a viruslândia, vai acabar, sr.Vírus?

-Bem Zequinha, ainda temos uma grande esperança no nosso novo LÍDER, um VÍRUS DA MODERNIDADE!

-Líder?-O que é isso sr. Vírus?

-Temos um chefe, Zequinha, é como um presidente da Viruslândia, entende?

-E quem é ele, sr Vírus da catapora?

-É Sua EXCELÊNCIA...SR VÍRUS H.I.V, já ouviu falar?

-Claro que sim.Acho até que é ele que vai acabar com o meu mundo...mas eu não vou deixar!

-Pois é Zequinha, o “Sr HIV” , é o único que ainda consegue nos representar.É poderoso, forte, imbatível, e tem uma característica muito especial, que nunca em tempo algum, nenhum de nós a possuiu...

-E qual característica é essa, sr.Vírus?

-O sr.HIV, é o único que consegue destruir o exército de anticorpos dos seres humanos, e assim, ele abre os caminhos para que continuemos atacando e sobrevivendo...

-Isto se os seres humanos deixarem!

-Eh, eh...não só estão deixando como estão facilitando...!

-Ops, quem é você?

-Muito prazer Zequinha, sou o chefe da viruslândia, Sr. HIV!

-Nenhum prazer! Por que o sr. quer destruir o meu mundo?

-Zequinha, nunca tive a intenção de destruir o seu mundo.Os seres humanos é que me colocaram na liderança da viruslândia.

-Como assim, Sr. HIV?

-Na verdade, sou um vírus banal, que vivia quietinho no meu canto, sem “pegar” ninguém; mas as pessoas do seu mundo facilitaram, “viraram a cabeça”,usam drogas, alimentam-se mal, não praticam esportes...e então...

-E então que nada! Você não vai conseguir...As vacinas vão te liquidar, e no meu mundo, tem uma campanha incrível contra você!

-Pois é Zequinha, infelizmente as vacinas também não me atingem! Destruo a possibilidade dos humanos responderem a todas elas!Ao menos por enquanto, Zequinha, temo ser mesmo imbatível...

-Sr HIV, o que posso fazer para que meu mundo se proteja de você?

-Zequinha, diga a seus amigos que é muito fácil: Primeiramente o seu mundo precisa ser mais justo!Todas as crianças deveriam estar nas escolas, ter uma boa habitação,e atendimento à saúde garantido!Pode parecer pouco, mas com estas simples atitudes, as pessoas ficariam mais informadas e portanto... mais saudáveis.Depois, é só seguir os conselhos médicos, ficar longe das drogas, praticar esportes, alimentar-se direitinho, continuar nas campanhas, e acreditar na CIÊNCIA, pois pressinto que meu fim está próximo...

-Serei um cientista contra você, sr.Vírus HIV! E contra todos OS VÍRUS DA MODERNIDADE! Adeus!Vamos vovó, vamos de volta ao nosso mundo!

E assim,Zequinha e sua vovó, retornaram a realidade.

-Tá na hora Zequinha...acorda menino!

-Sr. Vírus HIV... vo...vovó? O que aconteceu?

-A escola, Zé! Você perdeu a hora!

-Vovó, estávamos na VIRUSLÂNDIA...com o chefe, SR Vírus HIV.Aprendi tudo sobre vírus, vovó!Tudo sobre AIDS, enfim, vou ser um grande cientista...GUERRA AOS VÍRUS, vovó!

Zequinha muito entusiasmado, sentou-se ao computador para narrar sua aventura científica.De repente...Pane no computador!

-Vovó, o que aconteceu?

-Eh Zequinha, você se esqueceu? Hoje é sexta feira! Sexta feira treze! Ora, meu netinho, é só mais um VÍRUS DA MODERNIDADE...

-Xi vovó ...vai começar tudo de novo!