O Sabor do Mel

O Sabor do Mel

A noite caía e lá fora o vento trazia o aroma da terra úmida,chovia muito e algumas pessoas corriam para protegerem-se da pancada de verão.O vilarejo pequenino acostumado com o silêncio do tempo ia aos poucos acomodando-se.No fundo de uma das ruas pequeninas do lugarejo surgia uma carreta puxada por um boi,enorme e sonolento.Um rapaz conduzia a carreta ora tocando o relho no dorso do enorme animal,ora olhando a escuridão do céu buscando algo além daquele breu..

Uma luz fraca refletia uma sombra numas das pequeninas casinholas do vilarejo.Como todas era caiada de branco e o telhado coberto por um barro seco ,não tinham vidros as janelas,os postiços eram de madeira forte para sobreviver aos ventos do inverno e dentro da casa no forte calor do verão a fresca fazia-se ali.A carreta passava devagar pels fileiras de casarios,neste da luz amarelada o rapaz pousou os olhos amendoados e cuspiu fora um bagaço de cigarro .Olhou a janela e nela pode ver o vulto feminino parado em frente ao espelho.Morena era a pele ,e mel era o seu sabor ,dor era o latejo no corpo do rapaz.Um olhar de mágoa misturado com ardor fez ele descer da carreta e ir logo espiar por entre a cortina que o separava daquela pele morena .Debruçando-se sobre o parapeito da janela sentiu o perfume adocicado que sempre o perseguia,ouviu um cantarolar suave a voz doce o fez estremecer de desejo,olhou em volta não havia ninguém ,a chuva caia e sua pele branca molhada ardia em meio a tanto desejo.

Na casa Munira cantarolava uma pequenina canção,o cabelo sedoso,comprido até as costas era suavemente escovado,enquanto olhava-se no espelho tentava ouvir a chuva.Aquilo lhe dava paz e podia descansar depois de um dia de trabalho.Munira atendia na quitanda da esquina principal do vilarejo ,cozinhava e limpava o lugar.Moça bonita,dos olhos cor de mel,órfão e muito assediada pelos homens da vizinhança.Seu patrão um velho tropeiro ,muito fanfarrão cuidava para que ninguém chegasse perto da moça,seu pai fora companheiro dele nas muitas viagens que fizeram quando jovens ,morrera numa briga esfaqueado e sua mãe fugira com um índio bugre. Ficara a criança ainda de colo com o enorme e loiro tropeiro.Munira era sua filha e nenhum homem do vilarejo serviria para ela.

Olímpio puxou devagar a cortina e viu a moça debruçada na penteadeira ,pulou rapidamente a janela e foi direto a jovem.Munira voltou-se e sorriu,esperava o moço algum tempo,a chuva havia lhe avisado a visita repentina.beijaram-se e rolaram pelo chão ,entre afagos e múrmurios saudosos foram amando-se.A madrugada adormeceu o velho tropeiro no macio sofá,Munira dormia a chuva continuava,tudo silenciosamente em paz.

Olímpio acarinhando o corpo sinuoso da morena Munira perguntava baixinho quando eles fugiriam daquele lugar ermo para a grande cidade.Ao que ela respondia nunca."irei casar com um homem rico e terei terras,empregados e vestidos lindos um para cada hora."O rapaz entristecia e um olhar de ira brilhava seus olhos amendoados ,porque ele não poderia ser este homem a dar-lhe as riquezas que tanto sonhava,a moça sorrindo,passando os dedos pelo peito do rapaz dizia baixinho por que você nasceu carreteiro e morrerá assim.Sou moça bonita,tenho o que muitos querem mereço a riqueza de um bom marido.Olímpio sentava-se irto na beira da cama,olhava-se no espelho ,tinha 25 anos sentia-se tão cansado e maduro,perdia-se no corpo de Munira no entanto um ódio lhe palpitava o coração quando a moça lhe falava assim.Fora sempre pobre,mas um bom homemMunira não podia dizer-lhe estas coisas.

Munira levantou-se a nudez do seu corpo surgia na sombra na parede caiada,suavemente delineava-se e um sabor de desejo fazia-se nos lábios de Olímpio.Suas mãos calejadas pela vida a percorriam,murmurando seu nome,ao que a moça fugia e logo num muxoxo completava "vai-te ,deita lá com tuas vacas ,teus bois,aqui não passa a noite homem algum."Olímpio não sabia mas além dele outros também por ali passavam,mas nenhum mexia com Munira como ele.Porém era pobre,não sabia falar direito e vivia cheirando a estábulo.

Olímpio levantou-se e seguiu seu caminho até o fim da rua.Logo algumas horas seria demanhã e ele teria que retornar levando mercadorias,nestas idas e vindas ele planejava a sua vida com Munira.Na cidade grande iria trabalhar e arrumar dinheiro para juntos alugarem um pequeno quarto e então iniciarem a vida felizes.Adormeceu na carreta,sonhando e maldizendo a morena que lhe atiçava o corpo.

amanheceu a chuva passara a terra úmida perfumava o vilarejo,gotinhas cintilavam os campos nos arredores das duas ruazinhas do vilarejo.Uma porta abriu-se era o tropeiro,espreguiçando-se logo abriria a quitanda e as senhoras e outros moradores logo iriam ali para comprar,conversar,passar o tempo,ali era o local onde o povo reunia-se e tudo se sabia.Munira acordou colocou o vestido que usava nas quintas ,a cada dia um colorido,quando casasse teria um a cada hora.Sonhava em ter muito e logo sair do vilarejo nas mãos de um grande proprietário ou daqueles homens que ouvia falar na quitanda,homens de casaca e cartola ,homens donos das fábricas.Aquelas que ouvia algumas jovens comentar ,quando iam a cidade grande.

Munira não queria saber de conversa pela manhã queria logo fazer o seu trabalho,ouvira que iria chegar uma correspondência e junto alguns visitantes,uma fazenda havia sido comprada e os novos proprietários viriam ver o local.Escolhera o vestido melhor e penteara o cabelo colocando uma flor azul no lado esquerdo,os olhos cor de mel reluziam em contraste a flor,sorrindo seguiu até a quitanda.

Olímpio acordara,lavara-se na tina ao canto do estábulo teria que fazer o seu trabalho e partir a tarde,mas antes tinha que ver a sua morena.Iria só mas ao voltar levaria a moça.Sabia que ela não negaria.Foi logo fazer a sua entrega.

Uma carroça enfeitada por inúmeras fitinhas coloridas cujo cavalo branquinho puxava conduzindo o pároco do lugarejo chegou e junto com ele um homem jovem usando chapeu de palha cobrindo-lhe o rosto .Falava pousadamente e percebia-se ser de outra condição .O pároco entrou na quitanda comprimentando a todos,apresentou o jovem ao velho tropeiro,era filho do comprador da fazenda próxima ao vilarejo e também dono deste,pois o vilarejo fora criado pelos antigos donos era caminho das carretas que ali passavam,vinha demarcar o local,mudanças iriam ali ocorrer.Uma estrada de ferro seria ali construida atravessando o vilarejo ,para conduzir o café até a cidade grande.

Munira chegara-se perto do balcão onde o jovem encontrava-se sorrindo ofereceu-lhe um copo de vinho este pegou o copo enquanto sorvia o líquido vermelho olhava a morena,um desdém surgiu-lhe ,agradeceu e disse-lhe"Criada vá pegar minha bagagem e veja se não deixes cair nada"Munira ficou ali olhando ele nem notara sua flor muito menos seu vestido tão pouco sua beleza.Saiu emburrada a fazer o que lhe pediram.

Olímpio entrou no local e tirando o chapeu comprimentou a todos,o jovem fazendeiro sorriu-lhe e ofereceu-lhe um lugar,o rapaz humildemente aceitou quando Munira chega com as bagagens ao tentar ajudar-lhe percebeu que o moço olhava-o atentamente,sentiu o desejo do rapaz ,ja vira isto antes mas sempre evitava estes tipos.No entanto o olhar daquele homem tão bem vestido apesar do chapeu de palha fez-lhe sentir algo estranho,logo buscou Munira esta dividiu a bagagem comentando baixinho"que tipo esquisito!"

Após o meio dia todos descansavam,Munira numa cadeira descascava legumes ,iria fazer a janta o jovem da cidade iria ficar ali ,queria logo resolver suas tarefas,escolheu a quitanda para hospedar-se ja que as casinhas eram pequenas e mal ofereciam espaço para mais alguem.A quitanda também servia de hospedagem e correio,era o centro social do vilarejo.Cantarolava baixinho,uma mão passou pelo seu pescoço descendo até o seu seio,ela virou-se era Olímpio,beijando-a dizia ja partir mas logo que voltasse iriam para a cidade.Ela pegando uma batata dizia "Se for para morrer pobre prefiro ficar aqui!"Tu fedes a boi e vaca,tens as mãos sujas e água teu corpo não bebe"Ria-se e ia preparando a janta,muitos iriam jantar ali naquela noite.

Olímpio partiu,ao chegar no fim do vilarejo,um portão separava o lugar das terras vizinhas,olhou e disse a si mesmo ela não pode falar assim de minha vida.Seguiu em frente

A noite todos em volta da enorme mesa que ficava na cozinha da quitanda,uma toalha de linho cobria a mesa ja gasta pelos anos e entre conversas e beberanças as noticias iam dissolvendo-se.Munira percebera que o jovem da cidade não lhe notara,percebera também que além de esquisito ele tinha um ar muito delicado para um homem .Acostumada com os do vilarejo,simples, rudes porém másculos.Este além de franzino,mexia muito com as mãos e uma voz fina percorria a cozinha."Esquisito"Pensava a morena.

A noite ja tarde todos recolheram-se.Munira em seu quarto,o velho tropeiro no sofá macio,o jovem no quarto da quitanda,ao lado o pároco, um assovio de uma coruja avisava a chegada da madrugada.As horas silenciosas passavam-se.Silencio do breu,a coruja observava,virando-se de cá a lá ficava a soturna a observar.

"O mel de tua boca na minha pele para sempre ficará morena "Assim pronunciava Olímpio ao beijar a ponta do seio de Munira e com uma mão tocar-lhe o ventre descendo seus dedos até sua vulva .Estremecia a moça a cada toque do rapaz.Assim foram até ao amanhecer,quando o velho tropeiro os encontrou mortos na cama,Olímpio havia envenenado a moça a cada beijo seu,ja que ela não o queria pobre morreria rica com o seu desejo a envenenar-lhe a alma.

O vilarejo acordou com os prantos e gritos do velho tropeiro,sua menina morrera ,a quitanda seria derrubada pois a estrada de ferro por ali passaria. A chuva trouxera mudanças ,a cidade grande chegando perto ,a vida mudando seu rumo.Só a coruja continuaria ali a observar nas madrugadas cintilantes o silêncio do tempo.

Violetta

Violetta
Enviado por Violetta em 09/01/2012
Código do texto: T3430194
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