A agenda vermelha.

Vivera intensamente, passara de relação em relação. Acreditara que assim encontraria a felicidade, o verdadeiro e derradeiro grande amor. Acreditara tê-lo encontrado em cada parceiro de uma noite, em cada sorriso malicioso, em cada olhar lascivo.

Do amor, conhecera as mais diversas nuances, desde as carícias mais doces e puras, até os atos da mais pura depravação.

Cansara-se, desgastara-se. Quando pensara ter atingido a satisfação plena dos sentidos, recomeçara a procura por algo mais.

Extenuada, ainda buscara aquele sentimento maior, diferente. O estremecer emocionado diante do olhar do ser amado.

Explorara todas as sensações, sempre acreditando que em algum de seus parceiros de sensualidade, descobriria aquele que buscara, desde sempre.

Os excessos, o passar do tempo, a debilitaram. O corpo, antes ágil, lépido, de formas bem definidas, já não atendia aos devaneios da alma. Sentada diante das águas pardacentas do lago, onde tantas vezes vivera momentos de enlevo, viu passar diante de seus olhos cansados, como em um filme um tanto borrado, amores, todas as dores.

Alguns não haviam passado de um momento. Não ficara sequer um olhar para recordar. De outros, ouvia a voz. Risadas, deboches de tantos em que crera, cujas promessas havia aceitado como verdadeiras, mas que desejavam apenas mais uma noite de prazer.

Num repente, todas as imagens desapareceram, sentiu-se sufocar pelo pranto e deixou que as lágrimas varressem seu semblante, suas lembranças.

Ao amanhecer, encontraram-na enregelada. Suas mãos crispadas e enrijecidas, seguravam ainda a pequena e inútil agenda vermelha.

07/01/2007