"Velho Bobo, Mas Nem Tanto".
Sebastião teve uma vida regrada, só ao trabalho. Quando sua esposa morreu, ficou desconsolado, ficava no quintal de sua casa embora dentro da cidade, era um sítio dado as dimensões e quantidade de arvores frutíferas.
A tarde, por causa do calor, ficava sem camisa deitado na rede da varanda.
Na cidade não havia jornal, mas acho que nem os diários associados tinham repórteres tão bons e dedicados.
D. Cotinha, mulher vivida, com muitos anos de janela e de estrada, na sua mocidade, teve até uma casa de... Digamos senhoras caridosas que mediante pequena quantia, se prontificavam há deixar o dia ou a noite de um cavalheiro mais alegre, traduzindo para nosso português, era dona de uma casa de “zona de baixo meretrício”.
Em conversas com amigos descobriu que havia não muito longe dali, um baú de tesouro, traduzindo de novo, descobriu o Senhor Sebastião, um pato gordo, que com certeza deveria ter alguns milhares de cruzeiros novos, no banco do Brasil, ou na caixa econômica.
Tentou acender o fogo do velho, mas viu que realmente, seu caminhãozinho, não tinha sequer areia para carregar, que dirá de fazer aquele caipira ricaço entregar o baú para ela.
Vendo que o pato ia alçar vôo, telefonou para S. Paulo.
A veterana podia não dar mais no couro, mas sabia fazer um bem bolado.
Sua sobrinha Beatriz, que engatinhava no crime, não era garota de programa, mas não por escrúpulos, e sim por falta de oportunidade.
Dois dias depois chegava à Ribeirão do Matozinho, vindo de férias escolares a prendada sobrinha.
Dizem que o habito não faz o monge, mas faz.
A menina além de ter o corpo perfeito, usava roupas que parecia uma artista de novela, ou chacrete.
A cidade inteira caiu de pau em cima dela, mas, como dizia D. Cotinha, essa aí, é pura igual água da fonte.
Só estudou em colégio de freiras.
Nunca viu um bilau, se ver sai correndo pensando que é cobra.
Esta noticia chegou à barbearia, á padaria do Sr. Genaro, e no ponto de charrete.
Agora tinha feito o circuito.
A cidade caiu aos seus pés de santa, santa!!! Acho que Beatriz já tinha visto mais bilau, que milho com bode, se emendasse todos daria para fazer uma corda de Ribeirão do Matozinho até as pontes do Paranazão a mais de setecentos quilômetros.
Gente...! Também não vamos jogar pedra na cruz, então vamos dizer que ela era “vacinada”, ou tinha certa experiência na coisa.
D. Cotinha, depois de levá-la à igreja, onde as beatas falaram até que ela parecia Santa Terezinha.
Olha o pecado gente!!!
A noite na sala de aula ficou sabendo de tudo, até o tipo de sangue do Sr. Sebastião.
Nem D. Cotinha sabia, mas o arpão da sobrinha já tinha flechado “Benê”, funcionário do cartório, ele era o bom, toda mulher que alguém chamou de boa ou gostosa, ele já tinha traçado.
Como este tipo de gente tem informante em todo lugar e de graça só para ter a notícia em primeira mão, na igreja ele já havia conseguido furar a guarda de D. Cotinha e passado um bilhetinho.
Daqueles que mulher quando lê, chora e mija na calçola.
Já havia passado para mais de duzentas almas e nenhuma havia falhado.
Este mesmo, que ele comprou de um camelô que vendia artigos afrodisíacos.
A letra era uma mistura de gótico, com não sei o que, só conseguido fazer por letrista profissional, era uma declaração de amor, que se tocasse “abismo de rosas” de Dilermando Reis, a moça tomava veneno no ato, ou ficava escrava para sempre se entregando de corpo e alma ao poderoso “Benê”.
Pequeno detalhe, que deve ser dito por respeito ao leitor.
O Sr Sebastião, aquele caipira, coitadinho, viera com a esposa ainda jovem do Rio de Janeiro. Conhecia as noites cariocas, mas um deslize seu, feriu alguns artigos do código penal e se mandou para Ribeirão do Matozinho.
Comprou o sítio a dinheiro, coisa difícil para a época, só não deu cheque porque em Ribeirão não tinha banco.
Tudo era feito a dinheiro ou na caderneta.
E o sítio na caderneta não saía de jeito nenhum.
Bom necessário se faz esta explicação porque senão seria uma história qualquer.
Mas o que aconteceu.
D. Cotinha, procurou o Sr. Sebastião e falou preciso de um favor seu.
É que minha sobrinha que é muito recatada quer tomar um banho de rio, nadar um pouco.
Mas tem vergonha até de usar maiô, como o senhor é homem sério, se eu pedisse.
Será que a deixaria nadar no açude do sítio?
Ela poderia ficar a vontade, não teria problema, pois ninguém entra no seu sitio não é? Realmente eu não gosto, mas vou abrir uma exceção para a senhora.
Quantas pessoas são?
–Se passar a minha dor de coluna, irei com ela, ir sozinha seria perigoso?
Só se eu ficasse com ela, porque beira d’água, nunca se sabe.
Mas acho que dá para vir vamos ver.
No outro dia, lógico a moça foi sozinha.
Se proposital, não sabemos, mas ela foi de vestido branco, sem porta seios.
Para terem idéia uma pálida idéia, nem Tião, velho malandro carioca, Cassino da Urca, para Ribeirão de Matozinhos, o simplório Senhor Sebastião, quase engoliu a dentadura quando a moça após um mergulho, de vestido, lógico, saiu da água para deitar em uma fresca grama que margeava o açude.
A roupa havia grudado no corpo, e ela sem as partes de baixo, estava nua diante dele.
Ela gostou do interesse dele, ele gostou do jeito dela, enquanto a menina descansa vou fazer uma limonada.
Ela preferiria uma caipirinha, ou cerveja, mas muito obrigada Senhor Sebastião.
Posso chamá-lo de Sebastião?
Ou tem algum nome que você prefira?
Como você quiser pode ser Sebastião mesmo.
Meu nome é Beatriz, mas me chame de Bia eu prefiro.
Ta bom Bia, já volto.
Ele era professor na arte de enganar os outros, era o tipo (171), vende terreno na lua, estas coisas.
Trouxe a limonada para você e para mim trouxe uma caipirinha.
Não gosto muito, sou fraco para bebidas, mas é só para fazer companhia.
Ela tomou um pouquinho de limonada, aí o velho “Seba” ofereceu, quer experimentar está fraquinha não sei beber.
Com todo recato do mundo ela molhou o bico e numa distração dele, tomou duas goladas. Aquelas que a gente chama de (penha-lapa).
Das que só jogador de futebol ou torcedor fanático toma, só que a caipirinha estava batizada, tipo farmácia, tinha de tudo um pouco, só bebida doce para derrubar touro sabe?
Muito saborosa, mas matava até Aliá.
Ele fingindo que tomava e ela entornando o caneco, quis voltar para a água e já estava alta (bêbada).
Convidou-o para entrar, ele falou estou desprevenido.
Não tem problema você é um homem de respeito e eu sou quase uma freira.
Ela com aquele vestido e ele de cuecas brancas (samba canção) de um botão só.
Se alguém visse diria, estão nus, e estavam, Sebastião velho, porém forte e viril, com aquela visão proporcionou também a jovem colega de banho, seus dotes que mesmo querendo disfarçar, não tirava os olhos dele.
Começaram a brincadeira de jogar água um no outro, aí pega, empurra, puxa, abraça, não prestou.
Ela uma princesa, pelo álcool, viu nele um príncipe, se agarrados estavam, agarrados ficaram.
À noite pousaram na cama da falecida.
De manhazinha, um vulto saía do sítio em direção à casa de D. Cotinha.
Só faltaram os fogos, a tia falou, você superou as expectativas, para mim seria pelo menos um mês, e aí rolou?
Sim.
Se você pudesse engravidar, aí fecharia com chave de ouro.
Olha tia, mesmo com minha pouca idade tenho certa experiência.
O Tião parece cafetão, sabe de tudo o (beabá), e é bem servido, mas sou sobrinha de D. Cotinha, não vou deixar qualquer pé de mesa me botar fora de combate.
As duas riam tomando cerveja.
Às três horas da tarde, ela foi ao sítio, minha tia perguntou se você tem ovos frescos?
– Lógico que sim entre, e a luxuria rolou.
Lá pelas oito da noite, quase nove, que Bia apitou,
- Chega você parece um cachorro, to toda ardida, tomou catuaba homem?
-Não preciosa, isto é amor.
– Eu diria tara, acho que você é um tarado.
Eles riram, ela falou, minha tia está preocupada, até me perguntou, - ele te comeu?
-Credo Tia não sou disso não, mas ela está desconfiada.
Tá bom vou falar com ela.
–Falar o que?
–Que quero casar com você, aí podemos viver na cama.
–Então você quer é me matar seu cavalo?
Por mais incrível que possa parecer os dois estavam se gostando.
Ela o conquistou por sua beleza inconteste e ficou cativada.
Sebastião ou Tião era um atleta do sexo, pelo físico a primeira impressão era que era obeso.
Não era, talvez acima do peso sim, mas ela o havia apalpado e ele estava ainda com tudo em cima era um atleta e se exercitava.
Tinha um físico quase que perfeito e muita disposição.
Benê não lhe dava folga, ela também gostava dele.
Lembrava muito a boca do lixo, quando caiu na mão de um cafetão.
Embora tenha conseguido se desvencilhar, nunca mais o esqueceu.
Toda mulher é meio masoquista, quer carinho, atenção, mesmo que seja em forma de briga, cenas de ciúmes.
Com Benê, foi diferente, catalogado como “Papa Anjo”, ela confessou a ele seu amor.
Só que seu pai, estava em vias de ser preso porque, embora tivesse imóveis de aluguel na capital.
Até investimentos a longo prazo, se meteu na mão de agiotas, ela iria para lá tentar negociar, se é que possível, mesmo que tivesse que vender alguns imóveis, mas fazer o que?
Depois iria para Portugal onde tinham uma Quinta e por lá ficaria, mas longe dele.
Benê, malandro velho pensou, esta no papo, só que não tenho dinheiro para emprestar, de quanto é a dívida?
-Oitocentos mil contos de reis.
Isto é uma fortuna, não tenho.
Em títulos, meu pai tem o triplo ou mais em deste valor, mas não pode vender sem um acerto primeiro com os agiotas.
Se eu conseguisse, em três ou em dois dias acertaria tudo, depois poderíamos até comprar o sítio do Senhor Sebastião, aquele velho louco e faríamos uma pousada, sei lá, hotel.
Dentro de quinze dias teremos um feriado na sesta feira.
Eu poderia fazer um empréstimo nos cofres da coletoria na quinta feira à noite, na sexta e sábado você resolveria e no domingo devolveria.
Se você quiser Benê deixo com você as jóias que tenho.
Só um colar de pérolas cravejado de diamantes, já garante.
No domingo você me dá o colar e leva o dinheiro de volta.
Liquidando isto, convence o velho a nos vender o sítio que você compra em seu nome e fazemos a pousada, depois nos casamos e será só felicidade.
O maior otário do mundo, é o próprio malandro, acha que ninguém terá coragem de enganá-lo afinal conhece todos os truques.
D. Cotinha recebeu a visita do Senhor Sebastião.
Depois de tomar um suco de caju, confessou a ela.
– D. Cotinha, estou com problema de saúde, não sei quando tempo vou viver, queria confidenciar à senhora.
A menina Bia foi lá em casa e juro que sem nenhuma intenção, mas acabei abusando da moça. Por causa da minha saúde, fiz algumas dívidas que tenho que saldar urgente.
Tenho aqui a escritura do sítio que ia passar para Bía, mas como ela ainda é criança, e sendo tia dela.
Queria passar para seu nome.
Se a senhora precisar vender depois e der uma parte a ela tudo bem.
Eu vou tentar uma internação no Rio, mas meu dinheiro, esta bloqueado no banco Brasil.
Se eu casar com Bia, já que sou o causador de sua desgraça, pois um lenço no rosto.
D. Cotinha acelerou, calma o senhor errou, mas está disposto a reparar o mal.
Esta menina seria freira mesmo, pelo menos conheceu um homem.
E que homem, ela falou.
Já fui D. Cotinha, já fui, acho que agora acho que nem com a Bia consigo mais.
Ela saiu para seu quarto, sorrateiramente, ele foi atrás.
Viu-aela tirar um enorme baú por trás da cabeceira da cama era um quarto pequeno fechado pelas cortinas, que belo esconderijo.
Trouxe o baú e falou.
– Não entendo de documentos, mas a escritura tem validade?
-Sim.
Já passei pelo cartório e tudo mais.
Se ela não fosse gananciosa perceberia o embuste, mas era.
De quanto o senhor precisa?
De duzentos mil contos de réis.
Acho que esta quantia eu não tenho, espere aí.
Saiu e abriu de novo o cômodo secreto, tirou outro baú igual, pegou uma quantidade de cédulas e enfiou no seio.
Feito o acerto falou, - calma Senhor Sebastião tudo vai se acertar.
Espero, D. Cotinha, espero.
Benê ficaria rico proprietário do sítio do Sr Sebastião.
D. Cotinha ficaria rica com o sítio do Sr Sebastião.
Teriam que fazer alguns investimentos, mas fazer o que né?
Chegou o feriado.
O Sr Sebastião desapareceu.
Bia desapareceu.
O dinheiro do cofre da coletoria desapareceu.
O quarto secreto da D. Cotinha foi literalmente limpo.
Curiosamente ficou em um dos baús a escritura do sítio.
Na delegacia, Benê tentava de todo jeito explicar o bando mascarado, que invadiu a coletoria, onde ele colocava a documentação em ordem e limparam o cofre, com jóias e tudo, não sobrou nadica de nada.
Pior era D. Cotinha, havia esquecido a peruca loira, parecia uma bruxa malvada.
Falava para o delegado, economia de quase trinta anos.
O senhor não sabe o que eu fiz para guardar estes poucos trocados que seriam para minha aposentadoria.
Mas a senhora ainda tem a aposentadoria, pela primeira vez na frente de uma autoridade ela gritou, você acha que eu tenho condição de viver de salário?
Sou igual a vocês, se não dou um jeitinho, morro de fome.
Foi presa por tentar denegrir a honra dos policiais.
Onde já se viu, a cafetina aposentada querendo falar mal da policia, era o que faltava.
Las Vegas
Salão Nobre do Atlantic
Barão, o senhor pode participar, sua filha não.
Ela vai ficar no balcão assistindo, pode?
Lógico barão, por aqui senhorita.
O Barão ajeitou o monóculo, ouviu um pequenino clic e um chiado no ouvido (no homem de bigode à sua esquerda tem dois às de espadas...)
Três horas da manhã, tomando uma taça de champanhe, o Barão ouve, - Tião, falou Bia, tem sabido do pessoal la do Ribeirão do Matozinho?
Ah. A Tia Cotinha foi internada, morreu no manicômio.
Sempre afirmando que foi roubada por um maldito matuto e sua sobrinha sangue, de seu sangue.
-Velha safada, explorou minha mãe e minha irmã que morreram nas bocas nas mãos de cafetões e da policia, ela foi o pivô da desgraça de minha família.
Graças a você meu amor, consegui dar o troco a ela.
Será que o galã Benê saiu na cadeia?
Não bem, mas agora está feliz, casou lá é ótima dona de casa, lava, passa, e tudo o mais.
Só que tem um marido muito bravo, também não muito,
Por dois pacotes de cigarros, ele muda de dono, depois ele volta sabe como é, o primeiro marido que o iniciou, ele não o esquece.
Você falou que quando terminasse a temporada iríamos embora, termina amanhã né?
Bia sempre quis parar com esta vida.
Agora que temos o suficiente para nossa velhice, vamos voltar para a quinta, à festa do vinho da aldeia é daqui a duas semanas e os gêmeos chegam de férias, temos que estar em casa para recepcioná-los.
Tião você nunca falou seu verdadeiro nome afinal você é brasileiro, inglês fala.
Tudo que fiz e faço é para você e para nossos filhos nunca vejam as desgraças que vi.
Sou brasileiro, filho de portugueses e curiosamente meu nome é Sebastião Manoel de Oliveira, então seu pai é?
Não fale nada, porque sou um homem rico e feliz, tenho um casal de filhos que me deixam feliz e super orgulhoso, pela inteligência da mãe que continua linda.
Agora vamos para casa.
Tião, você falou em dormir, é, eu menti afinal é a minha profissão né?
Aí você mordeu, agora verá seu português de uma figa, viu porque não queria falar?
E assim é a vida continua até quando, sei lá, mas são felizes.
OripêMachado.