Salvatus Sit Mundus Imaginationis

Há muito tempo o mundo precisa ser salvo, existem pessoas que podem salvá-lo de todo o vazio. Duas dessas pessoas eram Erik e Edgar, o primeiro um pintor dos mais famosos, o menos, dos mais talentosos o mais. O segundo, um escritor em crise de imaginação.

Em uma manhã dessa Terra perdida, uma manhã gelada que tornava o horizonte mais pálido e parado, Edgar tinha sua lareira quente pelo fogo crepitante e dele não tirava os olhos. O que mais o desencorajava era sua própria imaginação, folha e papel nunca foram o bastante, aquela ultima peça agora faltava para ele. É totalmente normal, dizia ele, um escritor ter suas crises imaginativas.

Mergulhado em seus pensamentos, não percebeu o vento entrando pela janela a fazendo algumas folhas de papel cair sobre seu colo como se o chamassem. Quando se deu conta, encarou-as e agarrou uma caneta na mesinha ao lado, e assim permaneceu por um bom tempo. Fogo, papel, caneta.

A neve começou a cair lá fora, e Edgar preenchia o branco com a letra desenhada.

Erik sentou na encosta íngreme da praia, agora congelada, com seu cavalete e todo o equipamento preparado. Mas as horas se passavam e ele não conseguia mexer o pincel, nem uma pincelada sequer. A Paisagem era linda, a neve caia como se pedisse que Erik se mexesse, porém Erik sentia-se desencorajado por todos os acontecimentos que o cercava, todas as pessoas e seus problemas. É impossível salvar aqueles que não querem ser salvos.

O homem desanimado desistiu de sua manhã nada produtiva, mas sentiu algo molhado na mão que segurava o pincel, era um floco de neve que derretia ao entrar em contato com sua pele razoavelmente quente. Ele então a virou com a palma para cima e esperou mais um floco redondo cair sobre ela, Erik fechou a mão como se tentasse segurar o floco para si, não deixá-lo escapar mais, aquele era seu mundo, redondo, pois era o mais incerto possível, frio, pois o queria conservado, e belo, pois ele era seu. Assim como um floco de neve. O mundo perfeito.

Olhou para cima e fechou os olhos, quando os abriu de novo, pôde ver o que mais precisava: sua imaginação solta em cada montanha de topo branco, cada lago congelado, tudo era uma lona para suas pinturas.

As obras de Erik a partir daquele dia foram lentamente tomando lugar o mundo das artes, tomou seu espaço dentro de casas e museus e apresentações ao redor do mundo.

As palavras de Edgar foram levadas a todos em todos os lugares. Não só eles, como todos aqueles destinados a salvar o mundo fizeram o que deviam fazer naquela manhã, e o poeta que devia coloca-los nesse caminho, sorria em frente à TV um tempo depois, seu trabalho estava mais do que feito. Sua missão mais do que realizada, um sonho em uma noite de inverno, em uma Terra sem sonhos fora mais do que realizado, em uma Terra imaginativa.

Letícia Gama
Enviado por Letícia Gama em 22/11/2011
Código do texto: T3350293
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