Nas Mãos dos Caetés.


Peguei um quarto de cateto, espetei em uma vara verde e coloquei na fogueira para assar.
Entretido fiquei e descuidei da segurança, pensando na família, na vida e aconteceu.
Uma pancada de borduna me deixou tonto, e outra me prostrou por terra.
Quando acordei, estava todo amarrado e pelos dentes identifiquei: Caetés.
A raiva era tanta que me matar simplesmente não podia, porque eu era o inimigo que teria que servir de exemplo, morrer sim, mas com muito sofrimento.
Nessa o chefe do grupo gritava tanto que os índios não sabiam o que fazer.
Na confusão me deixaram com os braços soltos, só amarrados pela cintura como macaco.
Ninguém ganha à confiança de um caeté principalmente com minha fama.
Decidiram que me cortariam e comeriam alguns pedaços. Levando o resto para a aldeia como prova de que o inimigo estava morto.
De repente salta no meio deles uma enorme onça, antes mesmo de tocar o chão deu um tapa que um caeté de noventa quilos, foi atirado a um canto da clareira sem cabeça.
A onça não cansava e eu achei por bem ficar em um canto deixando-a trabalhar.
Os caetés não sentem medo, mas os rugidos e a surpresa conseguiram fazer de guerreiros, curumins que só faltavam chorar.
Reconheci, Jaguaretê, a onça da gruta que dizimou os inimigos não deixando vivalma.
Após formidável ataque, deitou-se a meu lado como um gato de estimação.
Passado o susto comparei jaguaretê, com outras pintadas que havia visto.
Devia ser mestiço, pois era macho, só que uma pintada pesa no máximo cento e vinte quilos e meu gatinho beirava os cento e cinqüenta.
De comprimento era o maior felino da espécie.
Enquanto comia o cateto, jaguaretê se deliciava com meus inimigos.
Embora preguiçoso, meu gatinho me obedecia razoavelmente.
Trancei de couro umas talas e fiz um cabresto de contenção.
Brincávamos como criança e em lutas eu sempre perdia, pois Jaguaretê era dotado de força incomum.
Deixei de caçar, pois meu gatinho providenciava carne em abundancia.
Embora que às vezes eu não aceitasse, pois era caça de dois ou três dias e explicar que para mim não servia era difícil.
A vida na aldeia.
Com Jaguaretê amarrado fui visitar a aldeia.
A maioria dos índios quase morre de susto, pois acho que era o primeiro índio a ter uma onça de estimação.
Passei a ser herói dos índios jovens, pois além da onça todas minhas armas foram tomadas dos caetés.
Dei uma borduna ao cacique, e uma enorme faca de caça ao pajé.
Além de dar ao Arauê, meu pai adotivo, muitos presentes.
Vários índios procuravam Arauê e pediam para ensinar seus pequenos curumins.
Ele aceitava os presentes dizendo que ia pensar.
Eu ficava fora de casa algum tempo depois corria para lá.
Tapiti estava na beira do rio, colocando flores no cabelo.
Agarrei-a por trás e falei.
– Sou poderoso caeté, hoje você será meu almoço.
Ela rindo me implorou
– Por favor, caeté, você deve ser um feiticeiro muito forte, disse que vai me matar, mas estou morta , meu índio há dias não me procura, estou morrendo, chegou tarde caeté, ele já me matou.
Não sou caeté, sou tupi e tenho mulher e filho, os mais lindos de toda nação Tupi.
Vou prová-la índia, como o ariticum, saber se é tão doce.
Lutamos e amamos várias vezes.
Gritei bem alto, sou Oripê, chefe da tribo de cinco índios,
Que vai morrer de felicidade tanto amar.
Cuidado Tupi, os caetés vão escutar.
Minha índia, se ouvirem meu grito vão correr, pois sabem que entre os tupis está Oripê e tem muitos caetés para matar.
Certo dia, ao sair de minha Oca, vi um índio parado olhando.
Parei também e olhei para ele.
Era um índio quase preto, de dois metros de altura e pelo que observei muito forte.
Suas armas eram as maiores que eu já havia visto, aquele índio com certeza conseguiria matar o inimigo só com as mãos.
-Venho de longe, sou Tupinambá e ouvi falar de Oripê sabe quem é?
Oripê sou eu está com fome?
Não Tupi, vim para matá-lo e depois vou levar sua mulher, e seus filhos que serão meus, eu matarei ou não vou decidir.
Tupinambás e Tupis são irmãos, mas suas palavras selaram seu destino.
Como tudo foi gritado, uma multidão se aglomerou em volta fazendo um circulo.
Peguei meu Tacape, que também era grande, minha faca e saí para enfrentar o inimigo.
Todos estavam apreensivos e a maioria acreditava que minha hora terminara.
O pior inimigo é a própria confiança, o Tupinambá nunca tinha lutado, só havia matado índios, que apavorados se entregavam ao adversário.
Ele deu um tremendo golpe que quebraria até uma pedra, mas eu não estava lá, virei uma pirueta e dei um corte profundo na batata de sua perna.
O gigante tremeu, saltitando em uma perna.
Ficou a minha mercê, de minha borduna que batia quase tão forte quanto à dele.
Por ser meu irmão te deixo vivo, mas pelas palavras você deixa de viver, dei-lhe uma pancada na cabeça e cortei seu pescoço com tal força, que sua cabeça quase caiu.
Virei para todos e gritei.
Esta é minha família e se algo de ruim acontecer para eles acontecerá para todos aqui, palavra de Oripê.
Todos reverenciaram.
Naquela hora todos viram porque eu era o terror dos Caetés.
Até o cacique ficou quieto e eu falei.
Não sou cacique. Sou um índio pobre, mas quem mexer com minha família, melhor seria me matar primeiro.
Todas as armas do índio gigante foram colocadas na minha porta.
Quando caminhávamos pela aldeia tínhamos o respeito de todos até o cacique perguntava coisas a Árauê.
Tapiti, minha esposa olhava orgulhosa para as índias, que a cumprimentava com inveja.

                                                         Oripê Machado.



Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 17/11/2011
Reeditado em 05/12/2011
Código do texto: T3341545
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