História de Índio 02
Coisas de índio.
Naquele dia, a sorte parece que me sorria.
Estava num girau, sobre uma trilha esperando um veado muito arisco que havia me escapado várias vezes.
Tudo estava a meu favor, o vento, o calor, muito breve ele passaria por ali em direção à mina dàgua.
Ao invés do veado passou um bando de cateto que caminhavam calmamente para a água.
Na minha Oca Tapiti dava de mama e devia estar bem fraca, pois fazia três dias que eu não caçava nada.
Tinha na aljava cinco flechas que eram suficientes para matar um cateto e se a sorte tivesse tão boa levaria também um veado para casa.
O vento assustou os catetos e eu também - Aquele cheiro inconfundível era dos caetés.
Tribo ruim comiam até carne de gente.
Eu com cinco flechas precisávamos ficar bem quietinho, mas tinha muita raiva deles.
Ainda bem que estava longe de casa e dificilmente eles iriam naquela direção.
Eles tinham os dentes limados com pedras parecia dente de cachorro.
Antes dos catetos fugirem dois deles ficaram varados de flechas.
Os sem vergonhas depois de matarem minha caça, começaram a trabalhar tirando o couro e dividindo a carne entre eles.
Estavam em seis, mas dois pegaram suas partes e foram embora.
Ficaram quatro que fizeram fogo e começaram a assar.
De onde eu estava não podia descer, pois seria visto.
Se eles olhassem para cima seria o suficiente para me ver e eu seria parte do jantar.
Assim que a carne foi ficando boa eles tiravam grandes pedaços que comiam quase cru.
De repente o pior aconteceu, um deles acho que o maior, se não fosse pelo menos era o mais feio, deitou e olhou para mim.
Achou curioso aquele índio no girau, demorou em entender, quando ia gritar tomou uma flechada na garganta.
Os companheiros também demoraram a perceber então os dois mais próximos também foram para os felizes campos de caça.
O quarto índio saltitava para todo lado dificultando minha pontaria, mas tomou uma flechada nas costas.
Desci do girau rapidamente, mas não percebi que este último índio mesmo estando ferido ainda teve tempo de me flechar.
A flecha pegou no mole da barriga e eu caí ao lado dele.
De sua cinta larga ele tirou uma enorme faca com cabo de osso que brandiu no ar.
Chegou sua hora tupi, daqui a pouco sua carne será minha janta.
Com muita dor bati a mão na aljava e peguei minha última flecha.
Ele estava tão feliz que quando percebeu era tarde demais, enfiei a flecha em sua barriga gorda e ele caiu sobre mim.
Já estava morto e fedia demais, devo ter desmaiado e fiquei ali por duas horas.
Quando acordei com muita dificuldade consegui pegar tudo deles armas comida roupas e dois cavalos que pastavam presos por cipós próximos dali.
Escondi os corpos e puxando os cavalos, pois não conseguia montar saí dali em direção a minha família.
Ante de chegar a casa tinha um riacho, onde minha mulher tomava banho, com o filho.
Como estava prestes a desmaiar amarrei os cavalos e em um ipê gritei bem alto.
Araiê Tapiti UE, uêuê.
Quando acordei dois dias depois, estava em minha rede com as feridas untadas com mel e flores.
O velho Arauê cantava me defumando e mandando para longe os espíritos maus.
Tapiti estava mais bonita que nunca, minha família toda era e eu ouvia ora um ora outro contar dos dias de fome e da alegria de ver este tupi gritar seu nome e me encontraram desmaiado quase morto pela perda de sangue.
Conseguiram salvar toda a carga.
Por minha ordem tudo foi dividido em cinco partes.
O velho Arauê, dizia não merecer, mas pegou sua parte e sumiu dali, foi levar ao seu esconderijo que todos conhecem.
Eu contei como matei os quatro caetés e pelo tamanho de suas roupas e suas armas pereciam mesmo gigantes, cada frase minha era acompanhada por Aúú, frase de exclamação ou espanto.
Arauê pegou as crianças e foram ao rio nadar, deixando sós eu e Tapiti para namorar.
Que saudade minha índia, e abracei forte chorávamos e riamos e namorávamos.
Era muito bom ter família.
Oripê Machado
Coisas de índio.
Naquele dia, a sorte parece que me sorria.
Estava num girau, sobre uma trilha esperando um veado muito arisco que havia me escapado várias vezes.
Tudo estava a meu favor, o vento, o calor, muito breve ele passaria por ali em direção à mina dàgua.
Ao invés do veado passou um bando de cateto que caminhavam calmamente para a água.
Na minha Oca Tapiti dava de mama e devia estar bem fraca, pois fazia três dias que eu não caçava nada.
Tinha na aljava cinco flechas que eram suficientes para matar um cateto e se a sorte tivesse tão boa levaria também um veado para casa.
O vento assustou os catetos e eu também - Aquele cheiro inconfundível era dos caetés.
Tribo ruim comiam até carne de gente.
Eu com cinco flechas precisávamos ficar bem quietinho, mas tinha muita raiva deles.
Ainda bem que estava longe de casa e dificilmente eles iriam naquela direção.
Eles tinham os dentes limados com pedras parecia dente de cachorro.
Antes dos catetos fugirem dois deles ficaram varados de flechas.
Os sem vergonhas depois de matarem minha caça, começaram a trabalhar tirando o couro e dividindo a carne entre eles.
Estavam em seis, mas dois pegaram suas partes e foram embora.
Ficaram quatro que fizeram fogo e começaram a assar.
De onde eu estava não podia descer, pois seria visto.
Se eles olhassem para cima seria o suficiente para me ver e eu seria parte do jantar.
Assim que a carne foi ficando boa eles tiravam grandes pedaços que comiam quase cru.
De repente o pior aconteceu, um deles acho que o maior, se não fosse pelo menos era o mais feio, deitou e olhou para mim.
Achou curioso aquele índio no girau, demorou em entender, quando ia gritar tomou uma flechada na garganta.
Os companheiros também demoraram a perceber então os dois mais próximos também foram para os felizes campos de caça.
O quarto índio saltitava para todo lado dificultando minha pontaria, mas tomou uma flechada nas costas.
Desci do girau rapidamente, mas não percebi que este último índio mesmo estando ferido ainda teve tempo de me flechar.
A flecha pegou no mole da barriga e eu caí ao lado dele.
De sua cinta larga ele tirou uma enorme faca com cabo de osso que brandiu no ar.
Chegou sua hora tupi, daqui a pouco sua carne será minha janta.
Com muita dor bati a mão na aljava e peguei minha última flecha.
Ele estava tão feliz que quando percebeu era tarde demais, enfiei a flecha em sua barriga gorda e ele caiu sobre mim.
Já estava morto e fedia demais, devo ter desmaiado e fiquei ali por duas horas.
Quando acordei com muita dificuldade consegui pegar tudo deles armas comida roupas e dois cavalos que pastavam presos por cipós próximos dali.
Escondi os corpos e puxando os cavalos, pois não conseguia montar saí dali em direção a minha família.
Ante de chegar a casa tinha um riacho, onde minha mulher tomava banho, com o filho.
Como estava prestes a desmaiar amarrei os cavalos e em um ipê gritei bem alto.
Araiê Tapiti UE, uêuê.
Quando acordei dois dias depois, estava em minha rede com as feridas untadas com mel e flores.
O velho Arauê cantava me defumando e mandando para longe os espíritos maus.
Tapiti estava mais bonita que nunca, minha família toda era e eu ouvia ora um ora outro contar dos dias de fome e da alegria de ver este tupi gritar seu nome e me encontraram desmaiado quase morto pela perda de sangue.
Conseguiram salvar toda a carga.
Por minha ordem tudo foi dividido em cinco partes.
O velho Arauê, dizia não merecer, mas pegou sua parte e sumiu dali, foi levar ao seu esconderijo que todos conhecem.
Eu contei como matei os quatro caetés e pelo tamanho de suas roupas e suas armas pereciam mesmo gigantes, cada frase minha era acompanhada por Aúú, frase de exclamação ou espanto.
Arauê pegou as crianças e foram ao rio nadar, deixando sós eu e Tapiti para namorar.
Que saudade minha índia, e abracei forte chorávamos e riamos e namorávamos.
Era muito bom ter família.
Oripê Machado