Naquele tempo, eu era um índio muito forte. A primeira mulher que arrumei era meio velha, mas muito forte. Ajudava a caçar, limpava a caça, assava, além de me esquentar em noite de frio. Com sua ajuda, caçava bastante, com as peles,e a carne que eu vendia, comprei mais três mulheres, minha vida ficou sossegada. Todos tinham inveja, até o cacique ficava de olho grande nas minhas riquezas. Como nunca me ajudou, não devia nenhuma obediência a ele, embora o respeitasse por ser o chefe da tribo. Como existe sempre gente interessada em se aproveitar de um negociante honesto, ensinei todas minhas mulheres a usar arco, bem como espingarda, já tinha duas, uma que ficava comigo e outra com a mulher mais velha. Ela administrava nossa empresa batendo até nas outras esposas, para ensinar obediência a mim. Cada dia uma era minha namorada, às vezes chamava a outra, todos brincávamos e dormíamos juntos. Vivíamos felizes porque mesmo nas épocas ruins de frio ou seca, tínhamos comida. Construímos uma Oca bem grande, as margens do rio Sarapuí, onde começamos um plantio de milho e mandioca. Tínhamos sementes e ferramentas. A vida começou a complicar, pois começaram a nascer os filhos, chegou a nascer três ao ano, a minha mulher mais velha deu dois de uma vez. Ela sorria porque todas tentavam ser melhores umas que as outras. Mesmo sendo a mais velha era a que mais eu gostava. Comprei carroça e cavalos, todos sabiam cuidar e amansar. Depois de treinados vendia ou trocávamos por dois ou três novos. Que treinávamos e voltávamos a vender ou trocar. As crianças começaram a crescer e eu tinha cavalos carroças e muitas coisas que comercializava com índios e brancos. Minha mulher mais velha morreu, eu tinha que por outra em seu lugar, mas pensei e resolvi que não, pois eu estava cansado e as outras bastavam. Com o tempo também as filhas das mulheres também dormiam comigo e tiveram filhos. Hoje estou velho e sei que morreram algumas mulheres, só não sei mais quem é mulher ou quem é filha. Todos trabalham para mim, e tudo que tenho é de todos, ninguém tem preferência. Os homens da casa gostam de discutir, mas em casa tem comida e bebida, só tem que trabalhar. Somos quase cem índios, só não sei quem é filho, mulher ou neto e a gente vive feliz. Alguns vão embora depois voltam arrependidos. Eu castigo, mas aceito de volta porque é da família. Eu estou com mulher nova porque tenho muito frio e ela mastiga para mim, me ajuda até a andar. Temos um grande armazém, quem toma conta é a família, mas todos me obedecem.
OripêMachado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 17/11/2011
Reeditado em 17/11/2011
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