Invasões Bárbaras

Eles iniciaram a marcha sobre a terra ainda úmida pelo degelo dos primeiros dias de primavera. Conforme avançavam percebiam a paisagem se transformar em uma terra desolada: campos devastados, casas queimadas e terra salgada. O povo havia preferido destruir suas próprias fazendas a deixá-las para os inimigos.

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Então avistaram o castelo, o último refúgio da resistência. Sitiaram a fortaleza e ergueram suas máquinas de cerco. Decidiram esperar as catapultas abrirem uma brecha no muro exterior da cidade para iniciar o ataque, o que levou toda a estação das flores.

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Quando o verão chegou o exército avançava com suas torres para a invasão. Ao caminharem sob a sombra da muralha uma chuva de flechas surpreendeu os soldados que tombaram gritando de terror. Sem cessar flechas flamejantes continuaram a cair sobre os maquinários de invasão. Durante semanas os arqueiros repeliram qualquer aproximação enquanto em vão se tentava erguer uma barreira na brecha dos muros. A estratégia de invasão teve de ser mudada devido a nova situação e se começou então a construir em segredo um túnel por debaixo das defesas dos exilados. Enquanto arautos e diplomatas fingiam negociar um tratado de paz os soldados na calada da noite trabalhavam incessantemente para vencer o forte.

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Ao término do verão quando o túnel estava quase pronto para ser usado os defensores da cidadela derramaram nele óleo fervendo e depois atearam fogo carbonizando grande número de inimigos. A decepção do plano rendeu aos senhores da guerra muitas suspeitas de traição e dezenas foram torturados e enforcados por conta disso.

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O outono trouxe a fome, o frio e a tristeza, em desespero os homens mobilizaram-se para um ataque em massa. Os líderes do exército temendo uma rebelião prometiam aos soldados o direito a pilhagem e os lembravam das mulheres que lhes esperavam. A batalha campal se estendeu por toda a estação. Ao longo do dia os guerreiros se enfrentavam em embates épicos e durante a noite os sobreviventes retornavam ao campo de batalha para procurar e enterrar seus mortos. O confronto só cessou quando havia mais corpos para serem enterrados do que homens para cavar, o que trouxe para defensores e invasores um inimigo em comum: a doença.

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A companhia dos mortos fez com que uma praga se espalhasse ceifando mais homens do que toda a guerra, os dois lados viram seu contingente se perder quase que por completo. Piras de corpos ardiam e aqueciam os famintos de dentro e fora do castelo. O inverno chegara mais cedo e terrível do que o anterior trazendo tempestades de neve que logo tomaram todo o horizonte. Unidos em paz forçada os soldados assistiram o sofrimento dos velhos do castelo que agonizavam, viram os cadáveres das mulheres que perderam seus maridos e tiraram a vida de seus filhos e as próprias por medo das barbáries que sofreriam caso caíssem sob o domínio do oponente e os últimos guerreiros mutilados que tinham perdido a sanidade. Muito pouco sobrara para se conquistar ou ser defendido.

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Sem comida, sem fogo, os homens tiveram de se alimentar de seus semelhantes enquanto assistiam os dedos gélidos da morte gangrenarem seus braços e pernas. Como último recurso puseram a se amputar até que nenhum mais pudesse empunhar espada.

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Por fim, rastejando, mordiam-se como cães, famintos, loucos até perecerem um a um, lentamente sob a neve.

José Rodolfo Klimek Depetris Machado
Enviado por José Rodolfo Klimek Depetris Machado em 11/10/2011
Reeditado em 29/04/2015
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