Paradeiros da Verdade - Capítulo 5:Coup D'état,parte 1
- O que vocês estão fazendo???
- Morte aos hereges!!! - gritava um dos soldados, atacando com sua espada um homem que um dia fora um de seus aliados.
O homem não entendeu, mas protegeu-se do golpe colocando sua espada ainda embainhada entre ele e a arma de seu oponente.
- VOCÊS ESTÃO INSANOS? O que deu em vocês para atacar o cast...
Algo atingiu suas costas em cheio. Mais precisamente a lâmina de uma espada. O golpe mirou um dos vãos de sua armadura e o soldado caiu morto no chão instantaneamente.
- Como esperado da capitã...-falou o soldado da rebelião.
- Chega de bajulações.- disse a mulher removendo o elmo de sua armadura.
Tal gesto obviamente revelou o seu rosto. Seu olhar era calmo e frio, na cor castanha. Seus cabelos eram negros e sua pele era morena. Aquela era Lucrecia Forze DelCiel, uma das comandadas de Gzestein. Quanto ao resto de sua aparência não era possível ver nada principalmente em razão da armadura negra que trajava.
- Continuemos. Nosso dever é limpar todos os lixos desse castelo...pois se Gzestein escolheu esse nome, que esse nome seja. A Armada de Angelus...os Purificadores trarão hoje o amanhecer de uma nova era.
***
- Ministro!!! MINISTRO!
- Eu temo que o ministro não pode mais te ouvir, senhorita...- falava um soldado com um olhar cruel,e nquanto o corpo do Ministro do Reino tombava no chão, já sem vida. - Mas não deverias se preocupar mais com o seu próprio bem-estar?
Os 5 soldados cercavam a jovem serviçal, rindo.
- Sabe que eu nunca havia reparado como você é bonitinha...? Que tal nos divertirmos um pouco, rapazes?
Os outros soldados tornaram a rir, e só um deles balançou a cabeça.
- Não temos tempo para isso! - argumentou. - Se não voltarmos rápido ao ataque ao castelo, Gzestein nos mata com certez...
A espada de um de seus "companheiros" atravessou-o pelas costas.
-*CÓF!*...seu...o que está fazendo...por um acaso enlouquecestes?
E com essas palavras o homem caiu no chão morto. Os soldados encararam o companheiro que havia matado-o, e este falou:
- Qualquer coisa, vamos dizer que o ministro o apunhalou...vamos lá, pessoas morrem nesse tipo de situação.
- Hahaha! Muito bem feito! - aplaudiu um dos homens, enquanto os outros apontavam suas espadas para a garota, impedindo-a de fugir. - A beldade está bem vigiada, certo? Booom...agora só precisamos nos livrar dessas armaduras e partir para a diversão...
A garota chorava.
- Não...isso não pode estar acontecendo...
- Tadinha dela...mas fique calma, pois daqui a pouco vamos fazer você se sentir muito melhor. Talvez a gente nem te mate. Só não garanto que os outros soldados não vão fazer isso depois!
- Tranque a porta! - gritou um outro soldado.
- Não precisa nem me pedir duas vezes.
- Não... - disse a garota.
***
O soldado se dirigiu a porta, sorridente. Os outros homens gargalharam e alguns já começavam a livrar-se de suas armaduras quando...
- Vocês me enojam.
- Outra garot...?
Todos se viraram e um deles até se preparava para dizer:"Mais uma?Agora sim!"...quando viram uma mão agarrar a cabeça de seu companheiro.
- Queime. - ordenou a voz da garota.
O soldado entrou em combustão. As chamas incineraram seu corpo por completo. O que caiu no chão foi só uma massa negra irreconhecível, que trajava armadura.
- Quem é o próximo...? - falou a garota, entrando na sala enquanto literalmente passava por cima do cadáver do homem.
- INIMIGA! O BRASÃO DOS SOR...!
A jovem fitou o cavaleiro e antes que ele tivesse oportunidade de pronunciar o resto da palavra teve o mesmo destino do outro: Seu corpo entrou em combustão.
- Não seria de meu agrado ouvir o nome de meu clã ser pronunciado por lábios tão infames.
A garota que estava encurralada em um dos cantos da sala quase chorou de felicidade.
- Você é...a feiticeira real! - disse ela,radiante.
- Desculpe a demora.
Era uma ruiva de olhos cinzentos. Tão cinzentos quanto os de Gzestein. Trajava um manto avermelhado que lhe cobria a maior parte do corpo, mas podia-se ver que por baixo deste ela usava vestes comuns a magas. Algo como uma túnica feminina. Suas botas também eram vermelhas, assim como seu chapéu pontudo. Sua voz era calma e ela tinha algumas sardas no rosto.
- Então...- começou.
- Não tão rápido, donzela!! - falou um dos soldados, agarrando a serviçal e colocando a lâmina de sua arma rente ao seu pescoço.
A feiticeira não pronunciou uma palavra. Apenas ficou a observar o soldado, enquanto o outro suspirava aliviado.
- O...o que você está olhando?- falou aquele que tinha a donzela como refém, preocupado.- Estou a avisar-te, um movimento em falso e terá decretado a morte dela!
- Quais são seus termos? - perguntou a feiticeira, inabalável.
"Ela está sob controle.", pensou o soldado. "Agora está perdida. Se tentar fazer uso de suas chamas a garotinha queima comigo."
- Vou perguntar de novo: Quais são seus termos? Eu não posso desperdiçar tempo em demasia com peixes pequenos como você. Talvez você seja imbecil o suficiente para ter se esquecido que uma rebelião se passa no castelo, mas eu não.
O soldado transpirava, mas estava confiante, então ia começar a falar.
- Meus termos sã...
- Não há necessidade de ouvir seus termos se você não mais possui uma refém.
- Como nã...
Nem bem percebeu que a garota não estava mais com ele...viu-se pegando fogo. O homem urrou de dor enquanto era carbonizado. A serviçal já estava do lado da feiticeira, sem entender o que havia acontecido. Tremendo de medo, o outro cavaleiro partiu em fuga desordenada...enquanto a garota serenamente começava uma contagem regressiva.
- 3...2...1...
Um longo grito de agonia ecoou pelo castelo. Mais um soldado acabava de morrer consumido pelas chamas. Incapaz de acompanhar aquela situação a serviçal caía no chão, aos prantos.
- Por que...por que isso está acontecendo...? - perguntava, abalada.
A feiticeira balançou a cabeça e se dirigiu a porta.
- Realmente...- falou.- Não há nada no mundo que eu gostaria de saber mais do que a resposta para essa pergunta...pelo menos neste momento.
- Espere! Para onde você vai?
A feiticeira balançou a cabeça outra vez.
- Realmente...- repetiu. - Devo ir a presença de meu rei.
- Mas...
Tornando a balançar a cabeça, a usuária de magia falou pela terceira vez:
- Realmente...- tornou a repetir. - Este não é um lugar seguro. Muito menos para você. Vou te levar para a segurança.
***
A feiticeira simplesmente teletransportou a serviçal para bem longe do castelo. Alguns minutos depois já havia dizimado um considerável número de soldados inimigos. Alimentava esperanças de encontrar Sigmund ainda com vida, mas a força revolucionária parecia ser enorme e, ao que parecia, pelo menos a metade dos soldados da capital haviam se bandeado para o inimigo.
"Ou talvez nunca estivessem realmente do nosso lado.", pensava. "Como caçadores, espreitando uma rês doente. O estado da cidade a essa altura não deve estar nem um pouco menos caótico."
Após fazer mais um estrago nas tropas inimigas - liquidando 5 soldados com uma explosão de chamas -, ela seguia com suas divagações, enquanto se dirigia rapidamente a sala do trono. O mais curioso é que teleportação que levasse a qualquer lugar do interior do castelo estava virtualmente impossível no momento, como se alguém houvesse fechado os caminhos da magia.
"...se tantos soldados aderiram a revolução significa que sem dúvida alguma alguém vem manipulando o exército a um bom tempo. E se alguém manipulou o exército do reino antes de realizar esse ataque significa que...OH, NÃO!"
Como se as deduções da feiticeira quisessem provar-se corretas, um estrondo veio dos andares inferiores do castelo.
"Esse barulho...veio da ponte? Alguém baixou a ponte...e agora há pessoas tentando arrebentar o portão principal?"
No subconsciente ela já sabia que não podia estar errada. Mas como se quisesse duvidar de si mesma até o fim, ela se dirigiu a janela. E ao olhar na direção do portão principal viu que o que mais temia estava acontecendo. Agora sim...as chances de vitória eram quase nulas.
***
- MORTE AOS HEREGES!
- MORTE AOS HEREGES!
- MORTE AOS HEREGES!
Quem gritava era uma quantidade absurda de camponeses e outros, praticamente todo o povo da capital. Uma massa de inúmeras pessoas, amontoada ao redor do castelo e também nas proximidades. A feiticeira fraquejou em seus pensamentos. A visão não era nada animadora.
"Estamos condenados.", pensou a ruiva. "O próprio povo está nos atacando agora..."
De fato, munidos não apenas de armas,como também de tochas e ferramentas de camponeses, o povo tentava derrubar o portão principal do castelo. O estrondo de há pouco sucedera quando a grande maioria dos plebeus se afastou, abrindo passagem para homens musculosos que traziam consigo um grande tronco de árvore,com o qual investiram contra a construção.
"Não acredito nisso..."
A feiticeira dobrou a velocidade e retomou sua carreira para a sala do trono. Sim...agora tudo estava claro...desde o começo, quem quer que fosse...tinha manipulado não apenas o exército como também as massas. A rebelião não estava começando naquele dia. Desde o começo já estava perfeitamente combinado para aquele dia, não só com o exército, mas também com o povo. E quem quer que estivesse puxando as cordas deveria ser uma figura que conhecesse muito bem cada uma das figuras poderosas...só então ele poderia saber com quem contar na hora de executar a rebelião e de quem se livrar quando o executasse, bem como a forma mais adequada de se manipular a população do local.
"Se eu ouço tanto a palavra herege...tenho certeza que o arcebispo está envolvido nisso. Porco Traidor! Eu avisei, Sigmund...eu te avisei...mas você me deu ouvidos? Não! Você jamais ouviria! A você ele enganou!Mas não a mim!Não a Chloe Lauren Sorain!¹"
A feiticeira balançava a cabeça.
"Isso é mal...muito mal. Se o próprio povo está contra nós significa que quem está por trás disso é um manipulador covarde, conivente, mesquinho, traiçoeiro, egoísta e canalha...e ao mesmo tempo um expert no quesito manipulação das massas."
Novos soldados atravessaram seu caminho. Mas Chloe não levou mais do que meio minuto para se livrar dos sete homens, logo em seguida retomando a disparada rumo ao rei, sem nunca parar de pensar:
"O pior de tudo é que..."
Chegou. Estava frente ao salão do trono. A porta estava trancada e lá dentro ela podia ouvir o barulho de pessoas digladiando. Preparando-se para destruir a entrada do lugar com uma magia, ela concluía seus pensamentos:
"Se minhas suspeitas estão certas, o vil esquema correu perfeitamente da forma que os inimigos queriam, nos mínimos detalhes. Para a capital, para o povo, para o mundo...nós provavelmente somos os vilões. Se todos estão nos chamando de hereges é plausível acreditar que eles convenceram o povo de que estamos envolvidos com forças demoníacas de alguma natureza...mas como?"
A feiticeira conjurou seu feitiço e este atingiu a porta, destruindo-a. Chloe viu duas pessoas no salão do trono - duas pessoas vivas. Se formos contar os cadáveres haviam pelo menos 7 deles espalhados pelo chão.-:De um lado, Sigmund. Do outro...Gzestein. O general bradava, desferindo inúmeros golpes de espada que o rei mal podia bloquear:
- Pode ouvir, Sigmund?PODE OUVIR, VELHOTE?Os rugidos do povo que quer estar livre de um rei herege e de toda a sua pérfida corte?- dizia ele. - Hahahaha! É perfeito! Em breve eles estarão clamando o MEU nome, Sigmund! Pois eu surgirei como aquele que os salvou da condenação eterna...ME LIVRANDO DE VOCÊ!
Nesse momento Chloe compreendeu. Não era um esquema só para fazer eles parecerem os vilões: Era um esquema para torná-los os vilões e consagrar os revoltosos os heróis. E tudo aquilo só estava começando...uma nova era começava. Uma nova guerra começava.
Continua.
¹[nota da narradora]Sim, era eu. Mas eu não tenho planos de mudar o tipo da narração quando estiver me referindo a mim, caso contrário haveria de complicar o desenrolar da trama. Não me perguntem ainda como eu poderia me apresentar como uma pessoa dessa era e ao mesmo tempo dizer que estive presente nessa história. Não se preocupem. Quando esta história estiver se aproximando de sua conclusão esclarecerei esse ponto. Por enquanto simplesmente pensem em mim como um daqueles personagens fantásticos que vivem por tempo indeterminado - contanto que não sejam mortos.