Paradeiros da Verdade - Capítulo 4:Despedida?

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6 dias se passaram desde a reunião e nada mudou na rotina do reino. A notícia de que o rei iria se casar novamente- embora ninguém soubesse ao certo com quem. - seria anunciada as massas exatamente uma semana após a reunião. Até o momento apenas um seleto grupo da elite sabia de tal notícia. Oswald passou a ter conhecimento da mesma a partir de Meredy.

Naquele dia o cavaleiro acordou com o barulho incessante de pessoas correndo. Pelos ruídos metálicos e vozes masculinas, a grande maioria das pessoas haveriam de ser soldados.

"Dou minha cara a tapa se não for mais uma vez Meredy fazendo das suas."

E era de fato...uma voz autoritária se fez ouvir.

- Oswald! Oswald Arclight! Apresente-se imediatamente!

- Um momento. - pediu o cavaleiro. - Apresentar-me-ei assim que estiver pronto.

***

Em pouco tempo estavam os soldados ajoelhados na presença do rei Sigmund, no salão do trono. O monarca parecia furioso, mas uma fúria sombria e silenciosa...que era vista principalmente através de seu olhar severo.

- Meu rei...- falou o capitão. - Estamos às suas ordens.

O rei respirou fundo, e falou:

- Tanto eu...tanto eu quanto vocês já tivemos o suficiente das fugas de Meredy. Só porque ela é a princesa não significa que pode fazer o que bem entende...quando bem entende.

Oswald pensou em falar algo, mas achou melhor ficar calado. De nada valia sua palavra contra a do rei...e de todo o pelotão ali presente. E para sua total surpresa, Sigmund falou novamente...e seu nome foi pronunciado.

- Oswald Arclight!

O cavaleiro ergueu a cabeça enquanto fitava o rei. O olhar dele era duro.

- Acima de todos, você deve ser o mais irritado com a atitude de minha filha. Considerando que na maioria das vezes é você aquele que acaba encontrando-a...

- Não, Majestade...não exatament...

- Não precisa ocultar o que realmente pensa, Oswald. Ninguém poderia pouco se importar com as frequentes fugas de uma princesa mimada...ter que vasculhar cada canto do reino atrás de minha filha certamente não é uma tarefa que lhe proporciona entretenimento.

Todo o pelotão o observava. Mas mesmo assim ele pretendia dizer que não se importava...até ouvir o rei falar em tom definitivo:

- Essas são suas ordens:Tragam Meredy até o castelo o mais rápido possível. A partir de hoje a princesa estará sempre sob a vigilância de soldados do reino! HOJE É O ÚLTIMO DIA QUE MEREDY SCHNEIZEN NOS IMPORTUNA! A PARTIR DE HOJE ELA PASSARÁ A AGIR COMO UMA PRINCESA, OU MEU NOME NÃO É SIGMUND!

Os soldados sorriram. Aquilo eram ótimas notícias para eles. Oswald pensou em dizer algo, mas o Ministro do Palácio foi mais rápido.

- São só travessuras de uma moç...

- PALAVRA DE REI. - interrompeu Sigmund.

Os soldados partiram cada um para um lado do reino e Oswald seguiu rumo a saída do castelo com pensamentos preocupados.

"Isso significa...que hoje é o último dia que eu poderei falar com ela?"

***

Um certo tempo se passou desde que o amigo de Meredy deixou o castelo. Mas na sua primeira tentativa de busca ele obteve sucesso.

- Eu sabia que você ia me encontrar...mas não sabia o porquê. - falou a princesa,tão logo o viu.

O lugar era um belíssimo campo florido, com árvores repletas de frutos em alguns lugares. As flores tinham as mais variadas cores e eram uma maravilha da natureza sem igual. As árvores tinham as folhas bem verdes, o sol estava ameno e o céu azul parecia mais belo do que nunca, principalmente se um observador atento parasse para observar as nuvens que vagavam nos céus...livres, sem rumo...

- Quer me levar de volta para o castelo? - perguntou Meredy sorrindo para Oswald, que até ali esteve calado.

Na verdade, ele se perguntava como nunca tinha percebido que sua amiga era tão bela. Ela estava situada sob uma árvore, desfrutando do frescor que sua sombra lhe proporcionava. Seus olhos pareciam determinados e dependendo do ângulo pelo qual eram vistos podiam aparentar um verde um pouco diferente do de sempre. Como ventava um pouco, seus cabelos esvoaçavam e, naquele dia, Meredy pareceu ao cavaleiro uma mulher perfeitamente madura. Aconchegada ali, sentada sobre a grama, parecia incapaz de decidir se observava o céu ou as flores.

- Oswald, ninguém nunca te disse que é falta de educação ignorar os outros? - falou a princesa a certa altura, estalando os dedos para chamar a atenção do seu amigo. - O que foi? Parece até hipnotizado.

- Não, não foi nada...está linda, só isso.

- A paisagem, correto? É mesmo linda.

- Sim, a paisagem...está linda.

Meredy pareceu não entender muito bem a fascinação de Oswald pela paisagem, embora ela também achasse aquele lugar lindo...todavia, ela não costumava abandonar uma pergunta que já houvesse feito.

- Você quer me levar de volta para o castelo? - insistiu ela.

Oswald suspirou.

- Sim...e não. - respondeu ele. - Minhas ordens são para te levar de volta...mas eu não quero te levar de volta.

- ...? Acho que não entendi.

***

O soldado narrou os acontecimentos do castelo e, para sua surpresa, Meredy riu.

- Do que você está rindo?

- Desculpe. Eu sabia que meu pai ia perder a paciência de vez se eu fugisse...

Oswald fez cara de quem não entendeu, então Meredy explicou que o rei havia lhe deixado claro que caso ela fugisse uma vez mais ele tomaria as devidas...providências.

- Mas isso não é motivo para rir! Se você nunca mais sair do castelo...

- Significa que nossa amizade acaba hoje. - concluiu Meredy.

Não havia qualquer angústia ou tristeza em sua voz, mas apenas o admitir de uma hipótese desagradável. Oswald não respondeu, e como Meredy continuasse a fitar o cenário, ele pensava consigo mesmo.

"Nada poderia ser mais verdade...o que é mais importante é sempre aquilo que parece mais..."

- Sabia que eu aprendi a ler pensamentos, Oswald? - falou Meredy, a certa altura.

Oswald engoliu seco e Meredy quase se engasgou de tanto rir.

- Você tinha que...ai...ai, vou morrer...tinha que ter visto a sua cara...

Ele percebeu afinal: Meredy não sabia ler pensamentos, apenas pretendia descobrir algo pelo estudo de sua fisionomia...

- Desde o começo foi sempre assim, né?- ela falou. - Eu sempre brinco contigo, e por isso você acaba se metendo em problemas...

- Meredy...

Olhando para o céu, ela completou.

- Mas isso acaba hoje, Oswald.

- É...- concordou o cavaleiro. - Mas eu nunca me importei. Na verdade, gosto de estar com você.

- Pode dizer isso de novo... - murmurou Meredy.

- Disse algo?

- Deve ter sido sua imaginação.

***

Oswald se esqueceu do tempo enquanto conversava com Meredy. Duas horas já haviam se passado.

- Você sabe o motivo de eu ter escolhido esse lugar?

- Foi aqui que nos conhecemos. - respondeu Oswald quase antes que ela concluísse a frase.

- Exatamente. Você não deixa passar nada.

Meredy tinha uma expressão satisfeita nessa hora. Muito satisfeita.

***

Dialogaram sobre os mais variados assuntos...situações divertidas, situações estranhas...quase um resumo da história de sua amizade. Mas os melhores momentos são os que passam mais rápido¹. Sem que sequer se dessem conta, já era quase noite.

- Olha o tempo...eu sempre me esqueço disso quando estou com você.

- Muito obrigada por ter sido meu maior cúmplice todo esse tempo, Oswald. - brincou Meredy.

- Então...é adeus?

A princesa sorriu e ambos se levantaram. Quando Oswald começava a se dirigir ao castelo entretanto, Meredy falou.

- Eu não vou voltar.

O cavaleiro ficou quieto, observando-a. Ela parecia decidida a não mudar de opinião. Depois de alguns instantes, entretanto, ele falou:

- Meredy?

- Eu não quero viver presa naquele lugar. Eu não quero esse tipo de vida...você...quer isso para mim?Não se importa se o resto da vida eu estiver no castelo? Acompanhada de guardas, estudando para ser uma dama...e me casar com um nobre qualquer? Viver só para gerar herdeiros? Ser usada por todos?

Oswald calou-se. Não sabia como responder.

- Mas...o que eu posso fazer, Meredy? Não tenho poder nenhum! Não posso fazer nada! Sou só um soldado qualquer do reino. Até que eu me tornasse alguém de suficiente influência ia levar...

- Não precisa ser assim. - interrompeu Meredy. - Oswald...venha comigo.

Ela estendeu a mão para o cavaleiro.

- Hoje...foi a minha última fuga. Eu começo hoje minha jornada. Eu te disse uns dias atrás...quero saber coisas que ninguém mais sabe. Hoje eu fugi do castelo...de uma vez por todas. Venha comigo. Podemos fazer isso juntos.

Ficaram ali os dois parados por um tempo. Meredy com a mão estendida para Oswald e o cavaleiro a observá-la. O vento soprava bastante e pelas nuvens escuras parecia que uma forte chuva se aproximava. Pelo menos 2 minutos se passaram antes que Oswald balançasse a cabeça. Impensável...fugir do reino com a princesa? Certamente que aquilo não seria nada bom...para nenhum dos dois. Ia responder que não quando Meredy riu.

- Só estou brincando, bobo da corte. Vamos, vamos voltar.

O cavaleiro não pôde acreditar que Meredy havia feito uma brincadeira sobre algo tão sério.

- Você e suas brincadeiras! - reclamou. - Ainda me mata do coração um dia...Vamos voltar.

- Sim, vamos.- concordou ela. - Mas antes...quer ver a nova magia que eu aprendi? Como uma despedida, em nome dos velhos tempos.

Oswald coçou a cabeça, mas acedeu.

- Tá, mas seja rápida.

- Claro...- começou a maga. E apontando o cajado para Oswald pronunciou: - VELUDO DE MORPHEUS, CUBRA OS OLHOS DESTE HOMEM: DORMIR!

- Dormir!?

Mal terminava de falar, Oswald caía no chão em sono profundo, enquanto Meredy lhe virava as costas, falando sozinha...

- Uma pena que você não queira vir comigo, Oswald...é verdade. Isso não seria nada além de tentar te arrastar na minha fuga...nada além de te arranjar mais problemas.

E sorrindo ela olhava uma última vez na direção do castelo. E uma última vez para Oswald.

- Adeus.

Meredy então desapareceu...fugiu. Fugiria para longe...muito longe...largando tudo para trás. A vida de princesa, o castelo, sua terra-natal, seu pai...e Oswald.

Seria impossível para ela saber quanto tempo sua jornada duraria e que proporções alcançaria...

Continua.

¹Queria que meu trabalho passasse rápido assim - nota da autora, não da narradora!:D