Paradeiros da Verdade - Capítulo 2:Meredy Schneizen e Oswald ArcLight

O sol já ia alto nos céus quando finalmente encontraram a princesa. Ou melhor dizendo, quando alguém finalmente encontrou a princesa.

- Ah! - exclamou ela, ao ver seu melhor amigo, Oswald. - Como sempre,você me encontrou.

- Com certa dificuldade, decerto.

A garota tinha seus 17 anos e o rapaz 18. Ela trajava um vestido realmente digno de uma princesa nos seus mais mínimos detalhes. Tinha os cabelos loiros e bem arrumados, enquanto seus olhos eram da cor verde-esmeralda. Quanto a ele, tinha cabelos negros e olhos castanhos. Trajava uma armadura prateada. E pelo brasão que estava consigo certamente seria um soldado da cidade de Mel-Evine.

- O que você planeja fugindo do castelo pelo menos uma vez por dia, Meredy? - perguntou-lhe o rapaz, desanimado. - Quer fugir de vez?Muitas donzelas e damas dariam tudo para ter a sua vida.

Sem dar atenção as palavras do rapaz, Meredy caminhava pelo lugar...a entrada das ruínas de Preliator.

- Mesmo depois de todos esses anos a grama não cresce. Não é curioso? Como se até a natureza houvesse desistido desse lugar.

Desta feita, Oswald foi aquele que não pareceu ouvir o que ela dizia.

- Não lhe bastam as aulas de magia que tanto você pediu ao Rei? - indagou. - Você ainda deseja me apoquentar com suas fugas? Você está me ouvindo, Meredy?

- Você disse algo, Oswald? - perguntou a garota, caminhando pelas ruínas. Não havia ouvido uma palavra sequer do que o seu amigo havia dito. - A vida no castelo é tão sem-graça...às vezes penso se não seria melhor eu ter nascido uma plebéia.

Suspirando em desânimo, mas também como se compreendesse - em parte - os sentimentos da amiga, Oswald respondeu.

- Tem certeza?Você não aguentaria um dia sequer vivendo como uma camponesa. Estou certo disso.

- Claro, pois não fui acostumada com essa vida. Mas se desde o começo eu vivesse nos campos tenho certeza que não sentiria saudades do castelo.

E checando o chão acabava por encontrar algo que julgara impossível haver por ali: Uma flor.

- Oswald,veja isso! Venha! - chamou ela, já esquecida da conversa de há pouco. - Olhe! Uma flor.

"Essa é a Meredy que eu conheço...se esqueceu de tudo só por causa de um mísero vegetal." - pensava o cavaleiro, algo impressionado com o fato de haver uma flor ali.

***

Depois de meia hora, Oswald se cansou de tentar arrastar a "Princesa Travessa" - como costumava chamá-la longe dos olhos dos outros membros da aristocracia. - de volta para o castelo, e resolveu escoltá-la por um tempo. Eram amigos desde sua infância. Mas o tempo passou e eles acabaram sendo afastados. Oswald não passava do filho de um dos soldados que muito fizeram pelo reino - sendo este o motivo dele ser um dos guardas do próprio castelo do rei.

Devido a diferença de classes sociais, sua amizade - ou qualquer coisa a mais. - haveria de acabar quando Meredy atingisse a idade de 14 anos: A essa altura, as princesas passavam a ter amizades tão somente com os membros da aristocracia de seu reino, bem como de reinos aliados. Nenhum rei gostaria de ver sua filha casada com o filho de um pobretão qualquer...mesmo que ela o amasse.

Mas o caso foi diferente com Meredy. Desde que alcançou 14 anos a garota não sossegou mais...alegava estar enfadada da vida no castelo, dizia que nada aprenderia se passasse sua juventude entre aquelas muralhas, teimava que queria sair mundo afora e aprender novas coisas...e como isso lhe era negado, ela respondia escapando do castelo. Quase sempre quem a encontrava era Oswald, que tendo interagido por tanto tempo com a garota acabara desenvolvendo certa habilidade para localizá-la.

Como eu dizia antes de me interromper em explicações enfadonhas- mas necessárias. -, depois de um certo tempo estavam os dois sentados sobre o que pudesse haver sobrado de um dos muros do arruinado império Preliator.

- Você tinha mesmo que arrancar a única planta que havia no local... - falava o cavaleiro.

Mas Oswald já deveria saber:Meredy raramente - para não dizer quase nunca - respondia a frases que não lhe interessavam.

- Pode colocar no meu cabelo para mim? - pedia. - Não vou conseguir arrumar...

- Se algum soldado ver uma cena dessas, antes do cair do sol estarei tão morto quanto Gruturt, o abominável, que foi executado ontem.

- É uma ordem de sua princesa. - brincou Meredy. - Por favor?

Essa última frase foi dita com um olhar suplicante. Coçando a cabeça, Oswald resolveu colocar aquela flor ali de uma vez.

- Depois disso vamos voltar para o castelo. Se demorarmos um minuto a mais, alguém há de nos achar.

Calando-se, a princesa desceu do muro.

- Meredy?

Livrando-se do laço que prendia os seus cabelos, ela deixava-os esvoaçar ao sabor do vento, enquanto se virando para Oswald...faria a pergunta que definiria o início dessa história.

- O que aconteceu aqui?

O cavaleiro não entendeu. Que pergunta mais fora de hora fora aquela?

- Como assim?

- Quero dizer, o que levou esse reinado a ruína?

- Como eu vou saber?

Meredy emburrou-se e Oswald percebeu que era melhor ter se calado.

- Você nunca sabe de nada. - disse ela. - Não me espantaria se não soubesse porque eu fujo do castelo todo dia.

O cavaleiro se calou. Se ele admitisse que não sabia - como de fato já fizera mais cedo. Meredy não lhe dava atenção nessa hora, no entanto. - seria obrigado a ouvir um discurso infindável da garota. Para sua sorte,ela mesma deu a resposta.

- Quero ser livre, Oswald!Quero viajar pelo mundo...e mais do que tudo, quero saber coisas que ninguém mais sabe!

Oswald segurou o riso. Para ele aquilo soara clichê demais. Pessoas querendo viajar...serem livres...conhecer o mundo...

- E então você desencadeará uma série de eventos que acabarão levando-na a mistérios ancestrais, revelando uma ameaça que espreita o mundo que conhecemos. E tomando seu cajado em mãos, você há de salvar o mundo, extinguindo o mal para sempre! - falou ele em tom solene.

- Ria o quanto quiser! - respondeu a princesa, virando-lhe as costas e cruzando os braços. - E se fosse verdade?E se houvesse mesmo uma ameaça?

Sorrindo, Oswald replicou.

- Então não seria trabalho da princesa cuidar dela, não é?Princesas são sequestradas e pedem por socorro até que alguém venha salvá-las.

- Isso foi no passado. Olhe para mim. O que você vê?

Vendo a amiga colocar a mão aberta sobre o vestido, na altura de seu busto, Oswald não tardou a responder.

- Um par de seios que poderiam ser maiores...quase não posso ver volume por debaixo dessas roup...

O rapaz teve que se desviar rapidamente de uma pedra que a garota arremessou em sua direção.

- Não vou mais falar com você.

- Espera, eu só estava brincando!

- É sua última chance. O que você vê?

Oswald parou, observando-a. Ela não parecia nem um pouco incomodada com isso, como se confiasse totalmente na pessoa a sua frente. Sequer desviou-lhe o olhar quando ele a fitou.

- Vejo uma amiga que estou feliz por não ter perdido. - respondeu ele.

Resposta errada, pelo menos para Meredy, que emburrou a cara outra vez.

- Errado, errado, errado! - a garota tomou seu cajado em mãos e o apontou a distância.

Imediatamente um relâmpago caiu nos campos, causando um certo estrondo.

- Vê?Sou uma maga mais do que pronta a viajar pelo mundo! Nós corrijimos as forças da natureza!

Nesse momento o seu estômago pareceu reclamar de falta de energia, por assim dizer. E foi rindo que Oswald lhe dirigiu a palavra.

- Ah ha ha, certo, certo...corrige as leis da natureza mas não pode passar sem algumas refeições diárias! Ah ha ha!

- Fica quieto!

- Vamos voltar para o castelo, anda.

Contrariada, Meredy se viu obrigada a ir com ele.

...Mas tinha um plano em mente. Um que colocaria em prática. Em breve.

Continua.

Lyzz
Enviado por Lyzz em 20/09/2011
Reeditado em 12/10/2012
Código do texto: T3231264
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.