A CANÇÃO DE SOLVEIG - Conto-resenha sobre a música de mesmo nome, de GRIEG,para a peça PEER GYNT, de IBSEN
Solveig canta, em longínqua cabana na Noruega, a canção de esperar sempre... sempre... sempre... pela volta de Peer Gynt, o amado perdido no mundo, o amado perdido de si mesmo em si mesmo, o amado a temer pela própria dissolução no cosmo... o amado completamente a esquecer-se dela... o amado que será salvo pela sua canção mágica, a canção do amor imortal de Solveig, de Solveig por enquanto apenas em espera a cantar... a cantar... a cantar... na cabana perdida, sem saber por onde anda Peer Gynt, sem saber se Peer Gynt volta pouco antes da própria morte, para salvar-se da dissolução cósmica pelo poder mágico do amor na canção de Solveig.
Solveig canta e eu lhe ouço a voz ainda à distância de mim, mas, já mais próxima, enquanto me aproximo da costa da Noruega eu, Peer Gynt, após anos sem fim de loucuras, luxúria, desvarios, soberba inútil eu, velho e exausto, perseguido pela minha sombra de não ser a acompanhar-me desde sempre. Voltando, voltando para a cabana onde me espera Solveig com seu canto, com seu canto salvador, com seu canto a salvar-me das garras daquele cujo nome não se pronuncia, daquele Rebelado contra Deus. Não importa que meu navio naufrague a caminho de casa, eu conseguirei chegar, Solveig, e ouço, cada vez mais próxima, a sua canção, amada, a sua canção que me salvará.
Iniciado na primeira hora da tarde de 29 de agosto; terminado na noite de 30 de agosto; publicado no segundo minuto de 31 de agosto de 2011.