A LENDA DO MARACUJÁ
Em uma tribo de índios do alto Amazonas, havia uma índia que era maravilhosa, exuberante, linda, com apenas 16 anos, de nome Mara. Desejada por todos os índios da aldeia, estava prometida para Mamangava, filho do cacique, que além do compromisso a amava e era completamente correspondido.
O feiticeiro da tribo era quem mais a desejava. Passava o tempo todo fazendo e imaginando todo os tipos de feitiços para conquistá-la, mas de nada adiantava. Parecia até que os feitiços tinham efeito contrário, pois cada vez mais ela o detestava.
Um dia antes do casamento de Mara com Mamangava, o feiticeiro arrastou-a a força para o meio da mata, longe da tribo, e tentou possuí-la. Usou todos os artifícios, naturais e sobrenaturais, para subjugá-la, mas ela, altiva, não cedeu. Então, ele a matou.
Mamangava e os demais índios a encontraram, depois de muito tempo, e amaldiçoaram aquele que fez tamanha barbaridade. O feiticeiro, que também ajudou na procura, jurou que usaria todos os seus poderes para encontrar o maldito assassino. Porém, o anhanguera, traído por seus pesadelos e alucinações, foi descoberto e banido da tribo para sempre. Morreu louco e só, vagando pela mata, dizendo coisas sem sentido, apavorando índios e animais.
Após uma cerimônia fantástica que teve a participação de todas as tribos da região, Mara foi enterrada no lugar mais nobre do cemitério, junto aos antepassados que reviviam nas historias contadas por suas bravuras e honras. Ela também seria lembrada por sua altivez e majestade.
No lugar onde Mara foi enterrada, nasceu uma planta de flores maravilhosas, exuberantes, de perfume envolvente, assim como ela. Porém, estas flores não davam frutos, porque Mara morrera virgem. De tão exuberantes que eram, as abelhas não conseguiam polinizá-las, assim como nenhum índio possuiu Mara.
Mamangava passava os dias admirando as belas flores. Cada uma que se abria, ele a beijava com a mesma paixão que beijaria os lábios de Mara. Lábios que nunca havia beijado, pois só poderia fazê-lo após o casamento, conforme ritual da sua tribo.E a cada flor que murchava e caía, ele chorava, como chorou quando Mara morreu. O tempo foi passando e Mamangava definhava ao pé da planta que o corpo de Mara gerou.
A mãe natureza, glorificando aquele amor mau sucedido, transformou-o em uma enorme abelha capaz de polinizar a exuberante flor. E Mamangava, agora abelha, a cada beijo seu nas inertes flores, polinizava-as, gerando frutos, assim como geraria filhos beijando e amando Mara. E o fruto, doce como os lábios de Mara, passou a se chamar de Maracujá: fruto da paixão a Mara.
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