O PAVÃO ESTÉRIL

MaquileyMenino 2011

Havia uma fazenda no sul de minas que entre os vales e cafezais era conhecida pelos seus personagens simples, mas de grande personalidade e caráter. Todos os dias no final da tarde antes que o sol se alinhe ao horizonte encontravam-se na chalana para discutir os assuntos comuns da comunidade e tomar mé. Lá existiam muitos bichos, mas nossa estória faz foco no Lucas, Nelson, Robinho e Macalé os conselheiros escolhidos da fazenda.

Lucas era o bitaca magistral do laguinho dos cisnes, que enfim não existia cisne algum, só os seus parentes Patos e vizinhos fluviais Marrecos e um único solitário quelônio. Este cágado que só sabia reclamar da poluição do laguinho. Seu árduo trabalho era fazer a contagem dos habitantes daquelas águas geladas, e verificar se os visitantes poderiam freqüentar o lago.

Robinho também chamado de guardião da legião tinha função de tomar conta do perímetro da fazenda onde constantemente os bichos eram ameaçados por predadores naturais como os lobos guará e raposas famintas. Sua família possuía pedigree. Mas, Robinho era filho mestiço, sua mãe uma vira-lata vinda da cidade de Coimbra quando seu dono viera conhecer o Brasil e se apaixonara por uma formosa mineira dona de fazendas de café e tabaco no sul de Minas.

Macalé fora encontrado pequenino desmaiado e com a perna quebrada no meio da floresta, sobre as raízes de uma Guapuruvu em que sua copa atingia 30 metros de altura. O dono da fazenda caçando a encontrou e cuidou. Macalé controlava os ratos e as mariposas que invadiam a fazenda, além de voar aos arredores informando os perigos iminentes dos invasores.

Nelson era o morador mais antigo da fazenda, que conhecia todos os caminhos, trilhas e riachos. Quando mais jovem, era chamado de mustang pela sua velocidade a galope nas corridas do Jockey Clube da cidade. Nelson era quem dava a palavra final no conselho, suas decisões eram sábias e comparadas às do Rei Salomão.

A vida na fazenda era maravilhosa, até o dia em que o proprietário trouxe um pavão vaidoso de inquestionável beleza para viver entre os outros bichos.

Acordava cedo, abria sua linda penugem e dizia para Macalé:

- Menino, olha como sou lindo! Você nunca vai ser como eu.

- Uai moço, que adianta ser lindo e ter a inteligência de uma noz? Sou feliz quando meus olhos se abrem e logo fecham para num outro dia eu ser a poesia noite e dia.

Lucas, chegando e pingando água ouvira o diálogo e retrucava incomodado:

- Quem disse que você é lindo? Lindo são os nossos bosques e esse verde das folhas misturado aos ipês amarelos, brancos. lindo é nosso céu azul.

Inflamado pelas declarações de Lucas e Macalé o pavão não se aquietou, aceitou a afronta esticando suas asas e a rabeta fazendo esplendorosa apresentação das suas cores exuberantes aos raios do sol, disse:

- Quem é belo como eu, não precisa ser inteligente, tem tudo o que quer na vida sem precisar fazer esforço. Come melhor, vive no conforto, posição social e poder...!

Nesta hora Nelson bem próximo e tentando não entrar na discussão não se conteve:

- Poder você não tem aqui seu faisão de meia tigela! Quem manda aqui é o conselho e você não faz e não fará parte dele enquanto eu viver.

Relinchou esbravejando ele.

Logo mais chega Robinho, uivando e pergunta:

- Que está havendo aqui? Como guardião deste lugar eu exijo ordem e respeito. Todos devem trabalhar e se integrarem na comunidade para o bem estar e evolução das espécies. Não aceitamos cocebas, oportunistas, políticos e corruptos em nosso convívio. Nestes casos, deverá ir viver em outro lugar sem o apóio do clã e enfrentar a vida selvagem como ela é sozinho.

Diante de toda a controvérsia não restou ao pavão altivo sair resmungando de asas fechadas, sem poder, sem razão, remoendo as farpas que ele mesmo criou. Na chalana o assunto era o faisão de meia tigela e muitas e muitas risadas.

Na reflexão destes personagens fica a idéia, de que uma maça podre pode amargar todo um cesto de maças, e neste caso o primor é a sobrevivência e convivência, pois não há valor maior que a faculdade de viver e sobreviver em harmonia!

Alexandre Tiberio
Enviado por Alexandre Tiberio em 20/08/2011
Reeditado em 21/08/2011
Código do texto: T3171633
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