Inventora de sonhos?!
Enquanto sua mão risca o molde no tecido, algo de irreal lhe acontece. Sonho? Realidade? Ela trafega por estes dois mundos sem sair da cadeira, onde está sentada. As suas olheiras parecem ficar ainda maiores no seu rosto moreno. Sua mãe a chama de inventora de sonhos. Mas, será que é isto mesmo, que ela é? Cabelo preso formando uma fonte imaginária. Resquícios de batom rubro persistem nos seus lábios carnudos. Ela é assim, ama a vida na sua essência!
A tesoura corta o pano. As flores coloridas grudam no seu corpo e, ela se vê grudada no tecido. As fibras de algodão lhe fazem cócegas nos pés. Suas mãos manuseiam o tecido do seu corpo. Vibram as suas antigas células, agora transformadas em rosas. A solidão lhe deixa e a alegria flui neste jardim que tomou conta do seu corpo e do seu espírito. O seu envolvimento é tanto, ela não se dá conta de nada mais ao seu redor.
Sente a agulha atravessar o seu corpo e pontilhar sua pele em uma costura bem feita. Rosetas coloridas são feitas do seu corpo. Uma a uma espetam a sua vontade de se ver naquele trabalho deitado sobre a mesa. Ela, enfim, retoma a velha pratica do quebra cabeça. Agora não mais montado por ela, pois, agora ela é o quebra cabeça. Personifica a vontade de Cristo de sair e contar para todos; o homem é bom na sua essência.
E do tecido as rosas se formam em uma corbelha, uma a uma reformulam valores carregam a tristeza para dentro e as cobre com o pólen da alegria. Vez ou outra uma rosa se murcha e fica pendente tirando a energia da outra que perfila ao seu lado. Venho ao seu socorro, pois, eu mesmo sou aquela que morre, dou-lhe mais vida, sim, a minha própria vida. Uma a uma passam pelo fio da eternidade.
O quê? Sonhadora? Eu? O tecido do meu corpo, agora um ramalhete de rosas transformado por minhas mãos hábeis em um lindo terço. Sou a medalha da mãe Maria ao lado da cruz do seu filho o Cristo. Amém!