DELÍRIOS DE SÃO JORGE
Conta a lenda que São Jorge, era um nobre sonhador. Sonhou ter o que desejava. E vendo ao longe a sua amada, por ela se enfeitiçou. Prometeu não mais sair de lá. Fazer companhia e protegê-la. E proibido de poder tê-la, fez dela a sua prisioneira. E também se tornou refém dos encantos que a envolvem. E de longe os dois se olham. E bem perto nunca se têm. E eis a sina de tantos Jorges, encantados por terras distantes. Proibidos de ter semelhantes, inspiram poetas e amantes. Alguns fogem do acaso. Em oração pedem cuidados pra que deuses os livrem de todas as tentações. E fugindo, não pecam, não ardem e são salvos dos prazeres e do fado de viverem juntos a mesma solidão.
Não sei se de veras mente, mas há quem diga que em noites sem luar, São Jorge e sua amada, sem ter ninguém aos observar, gozam de paixão ardente.
Esta é a história de um Jorge que não sabe qual destino seguir, que desatino lhe cairá se um dia ousar ter a lua que lhe faz sonhar.
Ele se veste pra ir à luta
De espada, escudo e encanto
No passo lento, na voz mansa
Em dias de noites sem luar
Ela é só plumas e penas
Alquimia de noites insones
De terras e sonhos sem donos
Em um país onde não há lugar
Ele supõe o rumo do pensar
Dela traça a direção do olhar
Nela se desarma, mas não se entrega
E ela quase a debruçar
E caminhando em luas tortas
Por tijolos amarelos de tantos medos
Evitam quartos e rezam terços
Aos guerreiros encantados
Condenados por sonhar