NOVO "CAMEO" (CAMAFEU) ___Parte II: Filme :
"O HOMEM QUE COPIAVA".
Este "cameo" deve ser incluído
na parte de Conclusão de "O Homem
que Copiava".
No instante em que os Herois,
abrigados pelo Cristo Redentor,
rearranjam a trama da Vida___ numa
Segunda Chance ___ encontrando a
Herança da Felicidade.
Entrei à Sala Vermelha , entre o negro e a Tela.
Tarde calma ( um dia claro ) o Cinema, cheio.
O filme já havia começado. Mas estava apenas
nos inícios de seus passos bem aos poucos con-
vergentes à Luz Total. Sublinhando as ideias.
Era "O Homem que Copiava".
Sentado, de repente um Senhor se aproxima fi-
ca___ acolchoado em Velho Casaco de Gola de
Peles___ ao meu lado. (Como estávamos aos fri-
os de julho, não estranhei ). Disfarçadamente exa-
minei-o à luz ___claramente nítida do longínquo
projetor.
O filme (lindas ! lindas atuações !... ) possui um
momento de bela exuberância lírica ___onde se
recita e se reflete sobre um Soneto de Shaekes -
peare ( o bem afamado Soneto 12 ), falando da
Herança dos filhos.
Olhei novamente, agora mais decididamente, e,
à luz antes exígua da Sala, me invadiu uma cer -
teza : estar ao lado do próprio William. Como is-
so se deu, não sei __ senti, porém, toda a poten-
cial certeza que há nos infinitivos. Ali a estar a
num mais olhar ___era certamente Shaekespea-
re.
Na passagem em que se recita o Soneto ___
atentei ainda mais o olhar __e vi : brilhavam, os
olhos dele brilhavam.
Senti, de repente, que notara ele __olhos bem
abertos ___ o meu interesse.
Créditos Finais. Satisfeitos por tão belo espe-
táculo, levantamos, saímos. Desembocando no
Saguão ele me surpreende : notando minha a-
tenta curiosidade que poderia transformar-se
em interesse e mais tarde em eterna amizade
___chamou-me ele para conversar.Falava, mila-
grosamente, sem nenhum sotaque.
Era mesmo o William, o Velho-e-Novo William
___Bardo do Homem e suas Passagens ao Pal-
co do Tempo. Ele e os fios que constróem um
casaco, um abrigo ___ para múltiplas ocasiões.
Ou veste´reveste mais simplesmente de comple-
xa essencialidade humana.
Diante de meu muito muito interesse, contou-
me as circunstâncias que cercaram o surgimen-
to do Soneto.
___Foi a ver os meus filhos brincarem. Ali en-
contrei o Múltiplo Sentido da Brincadeira. Mer-
gulhando-a nessa tinta, a pena tomei ___ o es-
crevi.
Fizemos Silêncio : Pausa Não Teatral ___ só
Significativa.
E aí ocorreu. O belo estojo. Os enrolados de-
senrolados fios-do-arco-íris do Mundo.
___pra você !___ as mãos estendidas, ofe-
receu-me. Uma caixa, tamanho de um antebra-
ço, Mogno, Cerejeira, pau-Marfim ___ uma des-
sas madeiras preciosas, não sei ___mas linda,
mas trabalhada.
___É a pena com que screvi o Soneto. Admi-
rado,mal acreditei,quando,alteando a voz, dis-
se : "toma !...é sua !..." Abri para admirar a pe-
ça ___branca e felpuda nuvem num eixo de di-
zeres.
E, quando o procurei ___desaparecera. Ain-
da pude ver a sombra de seu sorriso.
Mas devo ajuntar mais um retalho : retomo
depois...
*
Tarde de sábado. Lembrança de Descanso.
Alguns dias antes.
Ding Dong Ding!... Era "o Sobrinho".Olhei-o,
reconheci. O sobrinho viera me procurar.
Contara-me então que passava por dificulda-
des. Inúmeras. E que tinham muito de financei-
ro. Atendi-o, entramos. A tarde era clara ___
com aquela familiariedade que os sábados re-
tiram do Silêncio ___ amplos como Avenidas
vazias. Servi café. Vimos velhos "álbuns" de
fotografias ( no computador ) já digitalizados.
E ali, entre costuras de imagens, aparecia a fi-
gura miudinha de sua mãe.As marés de Sorte
da Vida __ e que só a ideia viva de um Álbum
de Família suporta ( ou reveste ).
Me veio viva a figura dela, sempre solícita.
Tivera um casamento infeliz ___ mas fora
movida pelo Amor ___ de que o Sobrinho era
a confirmação.Ela era costureira por profissão
___numa época em que a costura industrial
não se ainda estabelecera por completo no
Brasil. Mas lembro dela sempre solícita__ aju-
dando daqui e dali ___ tecendo contatos
(mãos ajudadoras ) com todas as sortes hu-
manas.
O marido experimentara da droga num tem-
po ainda não consciente de sua vã letalidade.
Depois das cenas mais incomuns ( serão
sempre incomuns ) de espancamentos __ a
deixara e ao filho. A esse, o marido, o tecido
do Vento engoliu (embora sempre haja espe-
rança que esteja bem ___nunca mais se sou-
be dele !)
Como se mudara para o interior, ela ___le-
vando o filho, as tesouras de pressa das Ci-
dades Grandes cortaram,agudas, antigos la-
ços.
Até que adoecera e morrera.
Sobrinho passou por tristes pontos na Vi-
da. Mas sobrevivera __viera me procurar. Re-
atava laços ___como os que a mãe colocava,
renovando velhos vetidos !...
Antes de perdermos contato eu a conhe-
cera muito de perto ___ e ao menino, amiga
que era de minhas irmãs e frequentava com
constância minha casa ( ainda era casado
___ sem filhos ) brincando com,seu filho, os
filhos de minha irmã ___ daí o apelido :"So-
brinho".
Mais ainda : ela me prestara um favor( não
vou colocar aqui ___ quero que saibam que
foi um oportuno auxílio que é desses que
não só não exigem ___mas ___ por Bem da
Vida!___ não admitem paga ).
Mudou todo meu Destino com repercus-
sões financeiras.
Lembrava-me e sentia-me responsável.
Uma das fotos de nossa amiga era intri-
gante : nela a luz repassava como a segun-
da chance de um rosto. Miudinha que era,
era bonita.
Noutra (morávamos bem perto ) as duas
casas emendavam as varandas por pou-
quíssimo___fazendo um corredor __unidos
os telhados ___um abrigo bem amplo.
O melhor na Vida é que o céu é sempre no-
vo e não se copia nunca. E é o mesmo céu.
"O Homem que Copiava ".
No mesmo dia em que eles vieram ao Rio
de Janeiro para filmar a inigualável cena da
conclusão, abrigados pelos braços do Cris-
to Redentor ___ a paisagem se desdobrava
lá embaixo, linda ___ e acima os rumos
desenredando sua cruz de cruzes ___ e...
desencontros ___ afinando a Vida para a
Herança Maior ( e será sempre Nosso So-
nho Maior ___Total concretizado __ Sol em
Luz __ Sol... de luzes ), pois bem... nesse di-
a eu estava bem no centro da Cidade. Bem
aqui no Rio. Resolvera finalmente um pro -
blema.
Passar um Bom Pecúlio que estava en-
crencado ao Sobrinho, por conta de empre-
sa que possuí e falira ( Ah! a Indústria Cultu-
ral !...)
Foi exatamente no "Ação !" que tudo se
concluiu ___ os trâmites burocráticos em-
perrados finalmente rodaram.
Respirei e muito aliviado.
A boa fita podia seguir.
Os pássaros se abrigavam no azul, com
seu canto eterno em teto de voo (s)...
*
Voltei do Cinema.
Abri a caixa ___tirei a pena. Molhei-a no (ve-
lho ? ) tinteiro. Estava à escrivaninha, abri o
livro com Sonetos de Shaekespeare em inglês.
Lá estava o de número 12:...
Encostei a velha pena no papel, como se pe-
nas, aves vivas, me saiu ele novo ___ em seu
-de novo :
SONETO Nº 12 ( A Costura doTempo )
Quando a contar os passos o relógio ir do tempo
vejo eu o firme dia em noite horrível ir-se...
Quando da violeta o ido viço eu contemplo...
e cachos de negros tons todos de prata tingir'-se
Quando, árvores altivas despidas as vejo de
/ roupas
___Suas folhas tão cobiçadas, repastos doces pra
/ manada!___
e, igual modo verde o verão sem dentes na velha
/ boca ,
cingidas por desfalecimentos, brancas-cortadas as
/ antes___ longas barbas
Eis então, te penso ___Beleza, questiono ___ és
/ Segura !?...
O tempo te leva em silêncio ___leva-te ao seu
dispor, flor
Doçuras , formosuras enfeites, os/as cova
/ derrota, segura...
Nada permanece___ e o tempo destece , ___
/ outras as flores, a se repôr
Só um elo seguro, a isto quebra, que une e
/ preserva
Esperança, Costura Eterna de Filhos ___concreta
/ (e)... com pontos
/ de Primavera !...
Soube, depois que, no decorrer do Tempo,
muitos ___mas muitos mesmo ! tinham rece-
bido essa Herança. A mais valiosa é a que é
fruto no tempo e faz Mais Tempo.
Parecia que a Tela do Cinema, ao se fechar
ao filme ...continuava ___ e piscava-nos (d)
esperta ... Outras Histórias !...
SONETO Nº 12
William Shaekespeare
When I do count the clock that tells the time,
And see the brave day sunk in hideous night;
When I behold the violet past prime,
And sable curls, all silvered o'er with white;
When lofty trees I see barren of leaves
Which erst from heat dis canopy the herd,
And summer's green all girded up in sheaves,
Borne on the bier with white and bristly
/ beard,
Then of thy beauty do I question make,
That thou among the wastes of time must go,
Since sweets and beauties do themselves
/ forsake
And die as fast as they see others grow;
And nothing 'gainst Time's scythe can make
/ defence
Save breed, to brave him when he takes
/ thee hence.